“Ainda que esteja sub judice, a primeira ordem de serviço para a montagem dos canteiros de obras da futura usina hidrelétrica paraense de Belo Monte, na chamada "volta" do Rio Xingu na verdade se limita aos acessos. Uma estrada estadual e outras vicinais serão recuperadas, alargadas e reforçadas de imediato para a passagem de caminhões pesados, tratores e grandes equipamentos.
O canteiro que ficará junto à primeira barragem de Belo Monte se situará a 60 quilômetros da cidade de Altamira. A partir dessa barragem, que terá oito quilômetros de extensão (onde haverá também uma hidrelétrica capacitada a gerar 230 megawatts), o rio será parcialmente desviado por dois canais adutores até a casa de força principal, cujas turbinas poderão gerar 11 mil megawatts no momento de maior vazão do Xingu. Os tubos que conduzirão a água represada aos rotores dessas turbinas terão 18 metros de diâmetro (tamanho equivalente a prédios de seis andares). Ou seja, serão imensos.
A obra toda pode se estender por sete anos. O consórcio construtor chegará a contratar 22 mil pessoas no pico dos trabalhos (outros 60 mil empregos indiretos devem ser criados por Belo Monte durante a construção). O consórcio, formado por dez construtoras sob liderança da Andrade Gutierrez, se propõe a treinar o máximo de mão de obra local. Face à realidade da região, serão recrutadas também pessoas analfabetas (com o compromisso de alfabetizá-las enquanto durar a obra).
Belo Monte não será apenas um aproveitamento hidrelétrico. É um projeto que tem no seu orçamento R$ 3,3 bilhões para investimento na infraestrutura da região. O trecho da rodovia federal Transamazônica que vai de Belo Monte a Altamira, por exemplo, será asfaltado. Muitos agricultores poderão ser reassentados em áreas mais bem servidas por transporte. As autoridades do setor consideram que o Incra está diante de boa oportunidade para reorganizar a ocupação fundiária nas áreas vizinhas aos dois canais adutores.
A região foi colonizada na época da abertura da Transamazônica, com uma filosofia que não se coaduna com as preocupações de sustentabilidade que se tem hoje. A produção agropecuária local não é suficiente para abastecer os canteiros de obras de Belo Monte (serão consumidos seis toneladas de carne por dia; por isso, vários alimentos terão de ser inicialmente levados de outras regiões até lá, para não encarecer os produtos consumidos pela população residente). Havendo excedentes, a preferência será dada a fornecedores do Pará.
A terra que for removida dos canais adutores será usada nas margens, como paredes de contenção, ou em diversos minidiques que contribuirão para o represamento da água. Nesse sentido, o projeto se parece com a obra da hidrelétrica de Simplício, no Rio Paraíba do Sul, na divisa do Estado do Rio e MInas Gerais.
O Índice de Desenvolvimento Humano de cada localidade sob influência direta de Belo Monte foi previamente calculado - por sinal, baixíssimo -para se avaliar a evolução do IDH da região durante a obra. Altamira tem cerca de 86 mil habitantes, a maioria sem carteira assinada. A obra em si nem começou e o movimento na cidade já aumentou, motivando uma companhia aérea a manter voos regulares, partindo de Belo Horizonte, com escala em Brasília, até Altamira.
A cidade e as demais vilas não conseguirão abrigar todos trabalhadores que vierem de fora. E mesmo muitos dos que forem recrutados lá precisarão ser alojados temporariamente em abrigos infláveis, que têm o aspecto de casulos brancos gigantes. Esses alojamentos contam com refrigeração, pois nem os caboclos amazônicos acostumados às altas temperaturas da região iriam conseguir dormir ali.
Se a experiência de Belo Monte for bem-sucedida, como é esperado, a visão sobre as hidrelétricas na Amazônia mudará radicalmente nos próximos anos. Para melhor. Não faltarão fiscais voluntários, de todas as partes do Brasil e do mundo, para acompanhar o andamento da obra.
Vale e Votorantim são fortes candidatas (há outros grupos também no páreo) a substituir em Belo Monte o grupo Bertin no consórcio Norte Energia, entrando na categoria de autoprodutores. Ambas haviam desistido no leilão para a concessão da hidrelétrica. Se confirmada a troca, terão direito a 400 megawatts de energia firme (para se ter uma idéia do que isso representa, Manaus consome cerca de 600 megawatts, em média).
Por causa de Belo Monte, a Votorantim construirá uma fábrica de cimento na região. Algumas matérias primas e grande parte dos grandes equipamentos a serem usados na obra seguirão de Belém até perto de Belo Monte por via fluvial. As balsas vão ancorar em um pequeno porto já existente no Rio Xingu (a jusante - abaixo - da futura hidrelétrica), que terá de ser ampliado e reforçado.
Outra obra grandiosa do setor elétrico que está em execução no Pará é a linha de transmissão que interligará o sistema nacional (SIN) a Manaus, hoje isolada e dependente de energia de origem térmica. Na travessia do Rio Trombetas, próximo a Oriximiná, as torres de sustentação dos cabos de altíssima tensão, em cada uma das margens, terão 250 metros. Nem nas linhas de transmissão de Itaipu as torres chegam a essa altura. Um potente guindaste, importado da Itália, puxará os cabos até o alto das torres (cujas fundações estão em fase de conclusão).
O canteiro que ficará junto à primeira barragem de Belo Monte se situará a 60 quilômetros da cidade de Altamira. A partir dessa barragem, que terá oito quilômetros de extensão (onde haverá também uma hidrelétrica capacitada a gerar 230 megawatts), o rio será parcialmente desviado por dois canais adutores até a casa de força principal, cujas turbinas poderão gerar 11 mil megawatts no momento de maior vazão do Xingu. Os tubos que conduzirão a água represada aos rotores dessas turbinas terão 18 metros de diâmetro (tamanho equivalente a prédios de seis andares). Ou seja, serão imensos.
A obra toda pode se estender por sete anos. O consórcio construtor chegará a contratar 22 mil pessoas no pico dos trabalhos (outros 60 mil empregos indiretos devem ser criados por Belo Monte durante a construção). O consórcio, formado por dez construtoras sob liderança da Andrade Gutierrez, se propõe a treinar o máximo de mão de obra local. Face à realidade da região, serão recrutadas também pessoas analfabetas (com o compromisso de alfabetizá-las enquanto durar a obra).
Belo Monte não será apenas um aproveitamento hidrelétrico. É um projeto que tem no seu orçamento R$ 3,3 bilhões para investimento na infraestrutura da região. O trecho da rodovia federal Transamazônica que vai de Belo Monte a Altamira, por exemplo, será asfaltado. Muitos agricultores poderão ser reassentados em áreas mais bem servidas por transporte. As autoridades do setor consideram que o Incra está diante de boa oportunidade para reorganizar a ocupação fundiária nas áreas vizinhas aos dois canais adutores.
A região foi colonizada na época da abertura da Transamazônica, com uma filosofia que não se coaduna com as preocupações de sustentabilidade que se tem hoje. A produção agropecuária local não é suficiente para abastecer os canteiros de obras de Belo Monte (serão consumidos seis toneladas de carne por dia; por isso, vários alimentos terão de ser inicialmente levados de outras regiões até lá, para não encarecer os produtos consumidos pela população residente). Havendo excedentes, a preferência será dada a fornecedores do Pará.
A terra que for removida dos canais adutores será usada nas margens, como paredes de contenção, ou em diversos minidiques que contribuirão para o represamento da água. Nesse sentido, o projeto se parece com a obra da hidrelétrica de Simplício, no Rio Paraíba do Sul, na divisa do Estado do Rio e MInas Gerais.
O Índice de Desenvolvimento Humano de cada localidade sob influência direta de Belo Monte foi previamente calculado - por sinal, baixíssimo -para se avaliar a evolução do IDH da região durante a obra. Altamira tem cerca de 86 mil habitantes, a maioria sem carteira assinada. A obra em si nem começou e o movimento na cidade já aumentou, motivando uma companhia aérea a manter voos regulares, partindo de Belo Horizonte, com escala em Brasília, até Altamira.
A cidade e as demais vilas não conseguirão abrigar todos trabalhadores que vierem de fora. E mesmo muitos dos que forem recrutados lá precisarão ser alojados temporariamente em abrigos infláveis, que têm o aspecto de casulos brancos gigantes. Esses alojamentos contam com refrigeração, pois nem os caboclos amazônicos acostumados às altas temperaturas da região iriam conseguir dormir ali.
Se a experiência de Belo Monte for bem-sucedida, como é esperado, a visão sobre as hidrelétricas na Amazônia mudará radicalmente nos próximos anos. Para melhor. Não faltarão fiscais voluntários, de todas as partes do Brasil e do mundo, para acompanhar o andamento da obra.
Vale e Votorantim são fortes candidatas (há outros grupos também no páreo) a substituir em Belo Monte o grupo Bertin no consórcio Norte Energia, entrando na categoria de autoprodutores. Ambas haviam desistido no leilão para a concessão da hidrelétrica. Se confirmada a troca, terão direito a 400 megawatts de energia firme (para se ter uma idéia do que isso representa, Manaus consome cerca de 600 megawatts, em média).
Por causa de Belo Monte, a Votorantim construirá uma fábrica de cimento na região. Algumas matérias primas e grande parte dos grandes equipamentos a serem usados na obra seguirão de Belém até perto de Belo Monte por via fluvial. As balsas vão ancorar em um pequeno porto já existente no Rio Xingu (a jusante - abaixo - da futura hidrelétrica), que terá de ser ampliado e reforçado.
Outra obra grandiosa do setor elétrico que está em execução no Pará é a linha de transmissão que interligará o sistema nacional (SIN) a Manaus, hoje isolada e dependente de energia de origem térmica. Na travessia do Rio Trombetas, próximo a Oriximiná, as torres de sustentação dos cabos de altíssima tensão, em cada uma das margens, terão 250 metros. Nem nas linhas de transmissão de Itaipu as torres chegam a essa altura. Um potente guindaste, importado da Itália, puxará os cabos até o alto das torres (cujas fundações estão em fase de conclusão).
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