quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Para Boulos, Brasil está à beira de uma convulsão social e só trabalho de base salva

Boulos, Maximiliano Garcez, da Advocacia Garcez e
a estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro
Último palestrante do curso “Os desafios para a intervenção política e sindical: teoria e prática", que a Advocacia Garcez promoveu nesta segunda (6) e terça-feira (7) em São Paulo, o membro da coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Guilherme Boulos disse acreditar em um colapso social preste a eclodir.

Para ele, o ataque a direitos promovidos pelo ilegítimo Michel Temer (PMDB) promoverá uma reação popular, ainda que em proporções impossíveis de serem avaliadas, mas que terá como resposta a violência e a repressão, já que o governo golpista não tem plano ‘B’.

Numa tacada só, o Temer atingiu a espinha dorsal do pacto Lulista, o pacto da rede de proteção social da Constituição de 1988 e o pacto varguista dos anos 1930, desmontando a CLT, ousadia que a ditadura militar não teve em 20 anos. O povão da periferia que não foi às ruas contra ou a favor do golpe, porque entendeu isso como briga de políticos, agora começa a enxergar de outra forma. Porque estamos afundados numa das piores recessões da história, o desemprego pode ultrapassar 20%, alguns estados já estão falindo, temos polícia entrando em greve e serviços públicos à beira do colapso”, pontuou.

Segundo ele, a esquerda pode direcionar o processo de mobilização que estará em curso, desde que tenha unidade, a atuação focada de todos os movimentos no trabalho de base e a reinvenção de caminhos.

A ideia é iniciar o diálogo pelo básico, a conversa com os vizinhos, nos bairros, nos espaços ocupados por outras forças depois da debandada das organizações populares.

“As igrejas tomaram o espaço das organizações populares porque fazem trabalho de base. Em qualquer periferia há uma igreja evangélica que escuta as demandas e acolhe. Muitas vezes um crescimento que é transformado em um projeto reacionário e conservador”, definiu.

Ao tratar da perda de representatividade dos movimentos sociais, em especial, o movimento sindical, Boulos apontou como causa, primeiro, a reestruturação do capitalismo na América Latina nos últimos 20 anos.

“O neoliberalismo não veio apenas como entrega do patrimônio nacional, redução da capacidade de investimento no Estado, mas também com avalanche de desregulamentação que dificulta a organização dos trabalhadores. O movimento operário mais conservador achava que a luta da fábrica era a que valia, que as demais, como a luta pelo teto, eram auxiliares, mas vimos a ascensão de movimentos de trabalhadores que não se organizam a partir da fábrica e sim de interesses regionais.”

Com isso, ao perder o bonde da história, é preciso fazer alianças, indica. “O movimento sindical não foi substituído, não há mudança social sem participação dos trabalhadores organizados e sem participação dos sindicatos. Mas o movimento sindical sozinho não dá mais conta do desafio de organização da classe trabalhadora. A alternativa para isso é a construção de amplas unidades em que movimento sindical, o sem terra, as ocupações da juventude façam surgir sujeitos para a transformação social no país”, defendeu.

Por outro lado, ele avaliou que a dificuldade de mobilização não é apenas estrutural. Há outros fatores, conjunturais.

“Paga-se o preço pelas opções adotadas no último período. O movimento sindical quer fazer a greve geral, mas se você fica 15 anos sem mobilizar trabalhadores, não é de uma hora para outra que se faz. Fez uma aposta institucional, uma opção de se distanciar, então, quando precisou, o povo não estava mais ali. Se o MTST hoje coloca 25 mil pessoas nas ruas de São Paulo é porque nos últimos 15 anos estávamos amassando barro, fazendo trabalho com o povo e não disputando conselhos de cidades achando que isso resolve. Achando que disputar nacos do Estado resolveria”, alfinetou.

Unidade multinacional


Ponto comum a todos os convidados do curso promovido pela Advocacia Garcez, a ideia de alianças, laços, trabalho conjunto foi tema também da intervenção do p
residente da Associação de Advogados Trabalhistas da Argentina, Matias Cremonte.

A questão, segundo ele, é avaliar se nesses anos em que o movimento sindical teve acesso a cargos, também conseguiu chegar ao poder. Na visão dele, o que ocorreu foi justamente o contrário.

“Todos os governo populares da América Latina foram eleitos com apoio dos movimentos sociais, mas quando esses governos terminaram, os movimentos ficaram mais debilitados do estavam antes.”

O momento atual, avalia, é de avanço sobre os direitos sociais em todo o território, com governos de direita e, sobretudo, com as mesmas multinacionais que buscam recuperar o poder na fábrica e os lucros. Cabe ao movimento sindical, falou, organizar-se da mesma forma para enfrentar esse cenário.


“O movimento sindical tem a oportunidade de regionalmente, ou melhor, internacionalmente de fazer a defesa unificada de seus interesses. As empresas são as mesmas em todo o continente, mas os trabalhadores não estão juntos na luta contra esses mesmos empresários para responder ao avanço do capital.”

Próximas etapas

Após a conclusão do curso em São Paulo, a Advocacia Garcez levará a atividade para o Rio de Janeiro e Brasília. 

Confira abaixo a programação:

RIO DE JANEIRO: 9 e 10 de fevereiro de 2017
Local: Advocacia Garcez. Pça. Floriano, 55 (Edifício Amarelinho). Cinelândia. 

Dia 9 de fevereiro de 2017 
Atividade 1: “Capital Internacional, Trabalho Local – sindicatos brasileiros e latino-americanos diante dos desafios da economia globalizada” 

Dia 10 de fevereiro de 2017 
Atividade 2: “Resistindo dentro das Instituições – o que e como as organizações sindicais brasileiras podem fazer para pressionar as instituições estatais”

BRASÍLIA-DF: 13 e 14 de fevereiro de 2017
Local: Advocacia Garcez. SHIS QI 7, Conjunto 13, Casa 8, Lago Sul

Dia 13 de fevereiro de 2017 
Atividade 1: “Capital Internacional, Trabalho Local – sindicatos brasileiros e latino-americanos diante dos desafios da economia globalizada” 

Dia 14 de fevereiro de 2017
 
Atividade 2: “Resistindo dentro das Instituições – o que e como as organizações sindicais brasileiras podem fazer para pressionar as instituições estatais”

Os eventos supracitados no RJ e Brasília terão programação idêntica à do evento em São Paulo, com possíveis modificações quanto a alguns dos convidados nacionais. 

Atividades Opcionais – Brasília-DF: 15 e 16 de fevereiro de 2017
Local: Advocacia Garcez. SHIS QI 7, Conjunto 13, Casa 8, Lago Sul. 

Dia 15 de fevereiro de 2017
9h Os participantes assistirão a julgamentos em Turmas do Tribunal Superior do Trabalho, se possível tratando de questões sindicais. Serão divididos em grupos, cada um acompanhado por advogado(a) integrante da Advocacia Garcez e por um advogado estrangeiro
11h Câmara dos Deputados – visita a Comissões temáticas e entrevistas com deputados
13h Intervalo para almoço
14h30 Os alunos assistirão a julgamento no Plenário do Supremo Tribunal Federal 
17h30 Intervalo 
18h Visita aos Plenários da Câmara dos Deputados e/ou Senado Federal, a depender dos projetos em votação

Dia 16 de fevereiro de 2017
9h Os participantes assistirão a julgamentos na Seção de Dissídios Individuais I do Tribunal Superior do Trabalho 
11h Entrevistas com magistrados/(as), deputados/(as) ou senadores/(as) 
13h Intervalo para almoço 
15h Unidade DF da Advocacia Garcez. Comentários dos palestrantes sobre as visitas 
16h Impressões dos participantes sobre as visitas e sobre o curso
18h Elaboração pelos palestrantes e participantes do curso de sugestões de ações concretas pelos movimentos populares e entidades sindicais 
19h Confraternização