"Salários e oportunidades iguais entre homens e mulheres no mundo elevariam desempenho em até 25%, afirma Banco Mundial
BRASÍLIA, RIO e VITÓRIA DE SANTO ANTÃO (PE). Nos últimos 25 anos, o crescimento sustentado foi eficiente para reduzir as disparidades entre homens e mulheres no mundo, mas, sozinho, não resolverá as diferenças no futuro, segundo o relatório "Igualdade de gêneros e desenvolvimento 2012", do Banco Mundial (Bird). Países em desenvolvimento, cujas economias avançaram mais depressa, mostraram evolução mais rápida. Mas as desigualdades são enormes e seu custo deve ser alto neste século. Se as mulheres tiverem as mesmas oportunidades que os homens, a produtividade no mundo pode aumentar de 3% a 25%. Na América Latina, este ganho pode variar de 4% a 16%.
- A produtividade agrícola pode crescer de 2% a 4,5% se as mulheres tiverem o mesmo acesso que homens a insumo e equipamento - diz Ana Revenga, uma das autoras do estudo.
A maior demanda das economias dos países em desenvolvimento acabou por inserir mais mulheres no mercado de trabalho. No mundo, elas são mais numerosas nas universidades e tiram notas melhores. Enquanto o número de universitários passou de 17,7 milhões em 1970 para 77,8 milhões, o de universitárias, que era de 10,8 milhões em 1970 disparou para 80,9 milhões. Embora estejam mais preparadas, seus salários são mais baixos. No Brasil, a diferença é de 25%, contra 12% na Argentina e 20% no México.
Na política, a participação feminina é desproporcional no mundo. Enquanto na África do Sul e na Holanda, respectivamente, 45% e 41% dos assentos do Parlamento eram ocupados por mulheres em 2010, na Arábia Saudita, não havia vaga para elas. Na América Latina, a média é de 24%, o que levou o Bird a destacar a precária situação brasileira, onde o número de cadeiras passou de 5% em 1990 para 9% em 2010.
Só seis países em desenvolvimento e 11 ricos tinham mais de 25% de mulheres ministras em 2010. Pode ser que o Brasil melhore no próximo relatório, já que os dados não computaram a presença feminina no ministério de Dilma Rousseff. Dos 39 postos com status de ministro, 10 são ocupados por mulheres.
- Em toda a história da República, o Brasil teve apenas 17 ministros do sexo feminino. Foi a Dilma quem rompeu com esta anomalia - avalia a economista Hildete Pereira.
Apesar da evolução, as mulheres ainda são donas de apenas 11% das terras no Brasil, contra 27% no Paraguai. Mais da metade recebe suas propriedades por herança e 37% compram - apenas 22% homens herdam e 73% adquirem seus imóveis. A falta de acesso das mulheres a serviços e infraestrutura básicos chama a atenção no país, onde um quarto do custo de quem recebe atendimento hospitalar é relacionado a transporte, como em Burkina Faso. O problema é que, sem tais serviços, como creche, caem as chances de mobilidade.
O estudo mostra que no Brasil os patrões ainda são os homens, com 70% dos postos de empregadores. E são maioria (53%) entre os trabalhadores por conta própria e assalariados (também 53%). Nos serviços não remunerados, as mulheres se destacam, com 72% do total. No Brasil, também há mais mulheres com empregos informais.
- As mulheres dedicam 27 horas semanais ao trabalho doméstico, enquanto os homens usam apenas 10,5 horas - diz Ana Lúcia Saboia, do IBGE.
A carioca Gabriella Barros, de 23 anos, está se formando em Economia pela UFF. Ela é a primeira de uma pequena família, de duas filhas, a entrar na faculdade. No mercado de trabalho há dois anos, ela diz que não sentiu discriminação, mas já presenciou situações injustas.
Já a secretária da Organização de Mulheres do Sindicato de Trabalhadoras Rurais de Vitória de Santo Antão (PE), Rosenice Josefa do Espírito Santo, trabalha na roça desde os 5 anos. Hoje, é dona de sua terras. Mas enfrentou resistência até do marido.
- Os homens vivem fazendo piada, soltando gracinha. Cresci em um ambiente em que a mulher vivia de carregar lata d"água na cabeça e de fazer mandado na enxada. Hoje, sou dona de minha terra, pois o sítio é no meu nome mesmo, e não do marido.
Considerada patrona do feminismo no Brasil, Rose Marie Muraro está convencida de que o "sistema vive se alimentando da mais valia da mulher". Ela acredita que a defasagem salarial entre homens e mulheres será uma das últimas diferenças de gênero a mudar."