"Conjuntura: Valores alto, que chegam a 7,5 salários, são quase exclusividade dessa categoria
As montadoras estão pagando uma Participação sobre Lucros e Resultados (PLR) até 40% maior que os valores - já elevados - pagos no passado. Para os 3,2 mil metalúrgicos do chão de fábrica da montadora Volvo, em Curitiba (PR), o benefício, este ano, representou o equivalente a 7,5 salários - a montadora pagará, ao todo, R$ 15 mil aos operários. O teto pago em PLR no ano passado - os R$ 10,8 mil concedidos pela Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP) - pode virar piso em 2011.
A inflação mais elevada tem dificultado o trabalho dos sindicatos nas negociações salariais tradicionais, mas, ao menos nas categorias mais organizadas, a Participação sobre Lucros e Resultados (PLR) tem surgido como uma válvula de escape. Os valores altos, contudo, são quase uma exclusividade desse grupo particular de operários. Levantamento do Valor junto a 16 escritórios regionais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) não encontrou outras categorias com negociações expressivas de PLR. Foram raros, inclusive, os acordos já negociados este ano.
Quando foi criada, em 1994, a PLR era vista pelos sindicatos como "arma de cooptação" dos trabalhadores, que recebiam o bônus condicionado ao cumprimento de metas de produção. Na Volvo, por exemplo, os R$ 8 mil referentes à segunda parcela da PLR (a primeira, de R$ 7 mil foi paga em maio) está condicionada ao cumprimento de 100% da meta de produção da fábrica para o ano - o valor final pode aumentar caso as metas sejam superadas."Trata-se de uma política de salários muito interessante para as empresas", diz Christian Mattos, consultor sênior da Towers Watson, entidade especializada em consultoria corporativa. "Na indústria, principalmente, onde a folha de pagamentos costuma representar 8% dos custos totais de produção, uma PLR elevada não onera o caixa, e ainda amplia a produtividade da companhia", afirma Mattos. Segundo ele, a PLR era majoritariamente praticada por multinacionais com operação no Brasil, mas, "cada vez mais, todas as empresas estão adotando".
Segundo José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a PLR deixou de ser vista como "tabu" pelos sindicatos, e já foi incorporada nas negociações com as empresas. "Os próprios trabalhadores acabam pressionando seu sindicato a negociar a PLR", afirma o representante do Dieese.
A negociação por um bônus mais elevado é uma das razões que tem mantido a fábrica da Volkswagen, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, parada há mais de 30 dias. O sindicato reivindica R$ 12 mil de PLR para os 3,1 mil metalúrgicos, mesmo valor acordado com a Renault.
Os 2,3 mil operários da mina Casa de Pedra (MG), que pertence à CSN, fizeram cinco dias de greve por uma PLR equivalente a 5,4 salários, mas a paralisação terminou na sexta-feira com um reajuste nominal de salários de 8,3%, um abono de R$ 300 e a decisão de discutir a participação nos lucros e resultados fora da data-base da categoria.
Mesmo sindicatos de esquerda mais radical, como o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ligado ao PSTU, negociam PLR condicionada a metas. O valor acertado no mês passado com a General Motors (GM), de R$ 10,8 mil, está condicionado a produção conjunta de 410 mil veículos nas duas fábricas da GM, em São José e em São Caetano do Sul (SP). No ano passado, as unidades produziram, ao todo, 414 mil veículos. Caso, no entanto, a produção atinja o máximo instalado - cerca de 450 mil veículos -, a PLR total pode ultrapassar R$ 13 mil.
Enquanto cada vez mais sindicatos negociam e declaram greve por conta da PLR, a discussão sobre o seu pagamento ainda existe em algumas entidades. Segundo Jair dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, a campanha pela PLR deve se concentrar em duplo convencimento: no dos trabalhadores, para mostrar que a PLR "é um bônus que não é incorporado ao salário", e nas empresas, que devem pagar PLR sem condicionantes.
Em maio, o presidente do sindicato de Campinas conduziu a negociação com a AmstedMaxion, que produz trens de carga, e aceitou pagar R$ 6,5 mil aos 1,9 mil operários do chão de fábrica sem exigir o cumprimento de metas em troca. "Essa é uma negociação modelo", diz Santos, "porque os trabalhadores já cumprem uma jornada abusiva".
O caso dos metalúrgicos e da AmstedMaxion, ao menos por enquanto, é exceção. Em consulta às regionais do Dieese, o Valor apurou que a maioria das categorias que recebe PLR - como urbanitários, comerciários e eletricitários - ainda está na fase de negociação, e as discussões estão concentradas nas metas exigidas, já que grande parte das empresas envolvidas não aceita debater valores."
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