"O mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, Antonio Marcos Gavazzoni, assumiu nesta semana a presidência da Celesc, estatal catarinense de energia elétrica. Apesar de não ter experiência no setor elétrico e de já ter ocupado secretarias no governo estadual, Gavazzoni chega com a promessa de "uma gestão por indicadores, com viés unicamente técnico e sem influência política".
O executivo, que conversou com a reportagem do Jornal da Energia, afirma que o clima dentro do Conselho de Administração era ruim, com críticas devido à interferência do Estado nas ações da empresa. Gavazzoni afirma, porém, que os primeiros discursos e ações da nova diretoria animaram os investidores. "Acabou a contrariedade - acabaram as contradições de interesse. A companhia precisa de um choque de realidade e de gestão. Estamos criando aqui um momento de muita harmonia".
No comando também das subsidiárias Celesc Distribuição e Celesc Geração, o novo presidente promete colocar a companhia "de cabeça" no setor de geração, tratando a expansão na área como "prioridade das prioridades". Além de estudar a participação em novos projetos e parcerias com empresas privadas, Gavazzoni revela que está em curso um plano de repotenciação das pequenas centrais hidrelétricas já existentes.
"A Celesc tem hoje 12 PCHs próprias. E elas têm uma capacidade instalada que é a mínima. Ela pode multiplicar essa capacidade por dez. Há um espaço muito grande para multiplicar a capacidade de geração só em base das PCHs que já existem. E esse processo, na Aneel, é mais simples do que a abertura de um novo empreendimento", explica o presidente. Segundo ele, a usina de Peri, por exemplo, poderia ter a potência expandida dos atuais 4,4MW para 30MW.
Apesar de destacar parcerias com investidores privados para expandir o parque gerador, Gavazzoni desmente boatos, já antigos, sobre uma possível venda da companhia, que teria como interessados Cemig e Copel. "A Celesc é uma mpresa cujo controle é do governo do Estado, e vai continuar sendo controlada pelo Estado", garante o executivo, que ainda lembra que a privatização foi descartada pelo governador eleito, João Raimundo Colombo, ao longo da campanha.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Qual é a situação atual da companhia e os seus principais planos neste momento?
Antonio Gavazzoni: Vou criar agora a partir desta semana uma agenda de prioridades. Existem assuntos pendentes há um bom tempo etnre a Celesc e o governo do Estado. Quero, em um curto espaço de tempo, resolver isso. Fui secretário de Fazenda do Estado, conheço a realidade do Estado e agora vou conhecer a realidade da Celesc. E conhecer os problemas para resolvê-los, tirá-los da frente.
Então, quero que a gestão se dedique inteiramente aos grandes problemas da empresa. Por exemplo: entre a empresa de referência imposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Celesc (na metodologia de reajuste tarifário) há uma diferença bastante grande. Vamos atuar de forma muito técnica, reforçando as estruturas técnicas da empresa para aproximar nossos indicadores dos referenciais da Aneel. Se algum referencial precisar sofrer uma crítica, vamos à Aneel para isso, mas não havendo, vamos perseguir chegar até ele. (Tudo isso) para que a revisão tarifária do próximo ano seja positiva para a empresa.
Quais são essas dívidas entre companhia e o Estado?]
Antonio Gavazzoni: São dividas que existem ainda, um saldo, não sei exatamante o valor. Uma delas, de R$30 milhoes, aproximadamente, é de uma empresa chamada SC Parcerias com a Celesc. Eu conheço a capacidade de pagamento dessa SC Parcerias, conheço a pretensao da Celsc, agora. Vou aproximar tecnicamente o interesse dos dois lados e, dentro de uma proposta razoável, vou levar ao Conselho de Administração da companhia.
E há algumas dívidas que existem de bastante tempo, 15, 20 anos, entre o Estado e a empresa. Do outro lado, a companhia tem alguns dividendos retidos que pertenceriam ao Estado. Então a gente senta, faz o encontro de contas e resolve. Esses problemas não têm a dimensão para justificar a tomada de energia dos envolvidos, mas semrpe incomodam porque não têm solução. Então nós vamos resolvê-los para nos dedicar aos grandes problemas, como (o desafio de) nos adequarmos aos referenciais da Aneel.
Você chega para comandar a companhia sem ter experiência no setor elétrico...
Antonio Gavazzoni: Sou mestre e doutorando em direito público. Fui secretário de Administração e da Fazenda do Estado de Santa Catarina. Minha experiência é muito forte na área de gestão pública. Para mim é um desafio novo, mas a Celesc é uma empresa e a gestão, seja pública ou privada, segue primados que sao idênticos.
Em alguns momentos, chegou a ser especulada a venda da Celesc para a Copel ou para a Cemig. Há algo nesse sentido?
Antonio Gavazzoni: A Celesc é uma empresa cujo controle é do governo do Estado, e vai continuar sendo controlada pelo Estado. Mas ela vai se modernizar para que seu patrimônio se multiplique, para que sua estrutura técnica tenha reforço. O governador, ao longo da eleiçao, assumiu compromissos de não tratar de assuntos relacionados a privatização. Mas isso também não fecha portas. A Celesc Geração, por exemplo, tem parcerias que ela já faz com a iniciativa privada, nas quais criam-se Sociedades de Propósito Específico (SPEs) em que normalmente ela tem participado apenas como minoritária, mantendo esses empreendimentos sobre controle privado.
Quais são os investimentos previstos para os próximos anos?
Antonio Gavazzoni: O orçamento para distribuição, o desejável, o referencial da Aneel, é algo em torno de R$250 milhões. A empresa não tem essa capacidade no momento, mas a gestão que faremos ao longo do ano é exatamente para atingir esse referencial. No âmbito da geração, as ideias que são postas na mesa são de alavancar algo próximo de R$1 bilhão para investimentos no setor. Dependendo do modelo a ser adotado, esse volume pode chegar a ser até cinco vezes maior.
Como a Celesc fará para conseguir esse orçamento para a distribuição?
Antonio Gavazzoni: É para isso que quero criar uma agenda de prioridades que identifique os verdadeiros problemas da companhia e atuar de forma bastante específica, tecnicamente, em cima deles. (Analisar) a capacidade de investimento das duas companhias (Geração e Distribuição), a forma de captação (de recursos), a gestão sobre a estrutura de custo. O orçamento da holding é de R$6 bilhões - há um espaço muito grande para processos de eficiência de gestão.
O que você propõe é um choque de gestão?
Antonio Gavazzoni: É um choque de realidade. Colcoar os verdadeiros problemas da companhia na mesa, e, sobre eles, um choque de gestão. Porque é muito comum enfrentar problemas menores, falsos, que não são os que verdadeiramente impactam a estrutura da empresa.
E esse volume de até R$5 bilhões para geração, seria distribuído ao longo de quanto tempo?
Antonio Gavazzoni: A modelagem, que ja foi aprovada pelo Conselho de Administração, propõe a prospecção de novos projetos na área em parceria com a iniciativa privada que permitam a alavancagem de recursos para capitalizar o desenvolvimento desses empreendimentos. Dependendo da nossa habilidade, do grau de eficiência no nosso trabalho agora, nesse processo, vamos ter condições, junto com o conselho, de fazer uma alavancagem que possa significar esse primeiro passo de R$ 1bilhão. A depender dos resultados, os estudos do conselho mostram que é possivel que, em um prazo de aproximadamente 5 anos, o montante se multiplique até esse volume (R$5 bi).
É um trabalho técnico, calmo, muito cuidadoso. A gente tem no Conselho a Previ, a Tarpon, a Geração Futuro. Elas (essas empresas) sempre mantiveram um certo contraste na administração, uma posição crítica. Agora, com essa nova equipe, têm feito uma parceria muito tranquila. Os propósitos são identicos: o fortalecimento da companhia, a multiplicação de seu patrimônio, a distribuição de dividendos e a qualidade e a excelência do serviço. (Os sócios) são personagem de mercado, que têm grande conhecimento de qual é a melhor modelagem, a forma de se atingir melhores resultados.
Em geração, quais são os negócios que atraem maior interesse da companhia?
Antonio Gavazzoni: A Celesc tem hoje 12 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) próprias. E elas têm uma capacidade instalada que é a mínima. Ela pode multiplicar essa capacidade por dez. O que significa isso? Tem que ter investimento em cada uma. Um exemplo: a usina Peri, em Curitibanos, no rio Canoas, está em operação desde 1975. A capacidade dela é de 4,4MW, mas a capacidade projetada dela, e para isso são demandados investimentos é de 30MW. A PCH do Silveira pode pasasr de 2,6MW para 12MW e a usina do rio do Peixe, de 0,7MW para 11MW. Há um espaço muito grande para multiplicar a capacidade de geração só em base das PCHs que já existem. E esse processo, na Aneel, é mais simples do que a abertura de um novo empreendimento. E todos esses projetos estão prontos.
Nosso primeiro passo é criar uma agenda dentro da Aneel em defesa dos interesses da Celesc Geração - os projetos já estão tramitando na Aneel. Vamos até lá para ter uma agenda de respostas em curto espaço de tempo e vamos trabalhar junto com o Conselho para que a Celesc consiga viabilizar os recursos para esses investimentos.
O futuro da Celesc Geração é muito promissor, não só em Santa Catarina, mas no Brasil como um todo. Investir em geraçãoo é o que todas demais empresas (do setor elétrico) já fizeram e tem trazido resultados bastante positivos. A Celesc vai entrar de cabeça nisso, como prioridade das prioridades.
Estão previstos outros projetos, além de PCHs?
Antonio Gavazzoni: A Celesc Geração é uma empresa nova, tem cinco anos de formação e está primeiro cuidando dos projetos já existentes. E e está se abrindo para os novos projetos, já tem vários estudos. Se você me perguntar qual é a orientação da presidência para a Celesc Geração, é se abrir para as novas tecnologias, as novas oportunidades.
A energia eólica está na pauta da companhia?
Antonio Gavazzoni: Vamos estudar e, muito provavelmente, vamos participar dos leilões se a decisão técnica for nesse sentido. A Celesc tem interesse em participar de todo e qualquer negócio que seja rentável e seguro, sobretudo em sua área de atuação.
Como está a relação da direção com o Conselho de Administração?
Antonio Gavazzoni: Excelente. Acabou, são minhas palavras, acabou a contrariedade - acabaram as contradições de interesse. O perfil da equipe que está posta aqui é técnico, estamos afastando por completo a influência política sobre a administração da empresa. A companhia precisa de um choque de realidade e de gestão. Estamos criando aqui um momento de muita harmonia, aproveitando o que vem de bom do Conselho, dos empregados. As contradições não podem existir. Uma Celesc forte interessa a todos.
O que mais você gostaria de destacar sobre o futuro da empresa?
Antonio Gavazzoni: A Celesc vive um novo momento. A partir dessa semana, está se criando um ambiente de muita harmonia entre os investidores, que serão respeitados. Eles não chegaram aqui por acaso, chegaram através de uma abertura da própria empresa, então precisam ser respeitados, participar das decisões. A mesma coisa estamos fazendo com os empregados. É um novo momento, uma gestão por indicadores, com viés unicamente técnico, sem influência política, que vai fazer muito bem para a companhia e para o patrimônio dela."
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