"A juíza Dayna Lannes Rizental, em atuação na 3ª Vara do Trabalho de Cuiabá, determinou a suspensão da eleição do Sindicato dos Empregados no Comércio de Cuiabá e Várzea Grande, que seria realizada na sexta-feira (17).
A suspensão atendeu pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) em uma Ação de Execução de Obrigação de Fazer e Pagar, na qual é cobrado do Sindicato o cumprimento de uma decisão judicial, proferida em abril de 2011, que considerou a diretoria do Sindicato ilegal e determinou a realização de uma ampla campanha de filiação de novos associados. O prazo dado pela Justiça do Trabalho para que o presidente Saulo Silva e outros dois diretores, Olavo Dourado Filho e Birenice Corrêa da Silva, fizessem a campanha foi de 180 dias, que deveria ser seguida de nova eleição.
Quase um ano e meio depois, ainda sem realizar a campanha de sindicalização, os dirigentes que estão à frente do Sindicato deflagraram novo processo eleitoral que seria concluído na sexta-feira, quando nova decisão judicial suspendeu a assembleia convocada para a eleição.
De acordo com os documentos existentes nas ações que tramitam na justiça trabalhista, o sindicato dos comerciários, cuja base inclui as duas maiores cidades de Mato Grosso, possui 50 filiados e desde 1988 tem como presidente Saulo Silva.
CONDUTA ANTISSINDICAL - No início do ano, o Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT/MT) considerou o atual presidente do sindicato inelegível e condenou a diretoria por danos morais coletivos por conduta antissindical e violação ao regime democrático de direito.
A decisão foi proferida pelos desembargadores que compõem a 2ª Turma do Tribunal ao julgarem recursos interpostos contra a sentença proferida em ação civil pública proposta pelo MPT.
Acompanhando o voto da relatora, desembargadora Maria Beatriz Theodoro Gomes, a 2ª Turma entendeu que o presidente do sindicato deve permanecer inelegível por três anos para cargos administrativos ou de representação econômica ou profissional (conforme o artigo 530 da Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT).
A determinação tem como base documentação existente no processo comprovando a postura antissindical com a qual o presidente conduziu o sindicato desde que assumiu a entidade. Como exemplo, ressalta-se a prática de dificultar a filiação de novos trabalhadores (com a existência de critérios pessoais na admissão de novos filiados), não registrar atas de eleições da diretoria ou alterações estatutárias, omitir-se de iniciativas para minimizar a perda de filiados ou agir para buscar novas filiações.
“Aliás, merece destaque o fato de que a manutenção da direção do sindicato nas mãos do réu Saulo, por 20 anos, é demonstração de que não houve, efetivamente, rodízio de filiados na direção da instituição. Tal postura mostra descaso com o regime democrático em que está inserido o sindicato, ou representa política de clientelismo odiosa e que deve ser expurgada do direito coletivo do trabalho, pois ambas são altamente lesivas à liberdade sindical e aos direitos trabalhistas previstos na Constituição da República e na CLT”, salientou a relatora.
DANO MORAL COLETIVO – Com relação ao pedido de condenação por danos morais coletivos, a 2ª Turma avaliou que a gestão do sindicalista Saulo Silva e de seus causou desprestígio aos direitos coletivos do trabalho, em especial à liberdade e representação sindical.
Ao proferir seu voto, a relatora enfatizou os resultados nocivos decorrentes da conduta da diretoria: “A coletividade dos comerciários passou a banalizar a figura desse instituto do direito coletivo do trabalho denominado associação sindical, tanto que se desfiliaram em massa, reflexo da subvalorização coletiva desse instrumento de proteção ao trabalhador”. E complementou: “As discussões postas neste feito e os fatos ventilados pelas partes são exemplos da violação de interesses não patrimoniais de uma coletividade que esperava atuação mais combativa e proba daqueles que dirigiram a instituição por décadas. Esse dano não é representado pela perda patrimonial, mas pela perda moral, pelo desprestígio ao movimento sindical, pelo desgosto em ver e presenciar gestões temerárias e pouco eficientes.”
Em razão disso, os desembargadores entenderam devida compensação por danos morais, fixando a condenação em R$ 110 mil a ser revertida ao Fundo Estadual de Amparo ao Trabalhador (FEAT). Os desembargadores mantiveram também a nulidade da última eleição realizada no Sindicato dos Comerciários.
A nulidade havia sido declarada pelo juiz André Molina, em sentença proferida em abril de 2011 na 3ª Vara do Trabalho de Cuiabá.
Na ocasião, o magistrado determinou também a realização de uma ampla campanha de conscientização e filiação de novos associados por 180 dias e após esse prazo início de processo eleitoral para a escolha de nova diretoria. Por terem natureza mandamental, as determinações deveriam ser cumpridas de pronto, mesmo que houvesse recurso à decisão.
Ao proferir a sentença, o juiz constatou que o sindicato atendia os requisitos legais quando de sua fundação, em 1980, entretanto seguiu-se a partir daí uma série de ilegalidades e descumprimento do próprio estatuto da entidade, conforme descreve o magistrado: "Desde o ano de 1988, quando a atual diretoria assumiu a administração, houve sucessivas alterações estatutárias, a maioria delas antidemocráticas, como a possibilidade discricionária de a diretoria aceitar ou não pedido de filiação, exigir quórum extremamente rígido para os associados solicitarem assembleia, a existência de reeleições sucessivas e indefinidas, mandato com prazo superior ao máximo previsto em lei, entre outras. Com efeito, um rosário de ilegalidades!"
Além disso, quando da posse para o primeiro mandato, em janeiro de 1989, o então candidato não era elegível pois não atendia ao requisito básico, legal e estatutário, de ser associado a pelo menos seis meses e no exercício da atividade de comerciário a mais de dois anos. Da mesma forma, verificou-se que dentro do prazo de 10 anos houve duas eleições ilegais no Sindicato (de 2001 e 2009)
(Ação de Execução 0001096-60.2012.5.23.0003)."