“Autor(es): Paulo de Tarso Lyra e Cristiane Agostine | De Brasília e São Paulo |
A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, é uma pessoa de sua "inteira confiança". Com isso, tenta dar fim aos rumores de que Lupi poderia sair do governo por conta dos recentes entreveros com o PDT, partido da base aliada a que o ministro pertence. Um dia depois de vetar a presença do líder do PDT, Giovanni Queiroz (PA), na primeira reunião com os líderes da base aliada, Dilma teve uma audiência com Lupi - presidente licenciado do PDT - no Palácio do Planalto e garantiu a permanência do pedetista no cargo.
"Eu acho estranho que os meus ministros sejam convidados e demitidos pela imprensa sem que eu saiba. Eu sempre sou a última a saber estas coisas", brincou ela.
A presidente declarou que não cabe ao governo resolver problemas envolvendo os partidos da base aliada. "Se existem problemas deste tipo, eles devem ser resolvidos dentro dos partidos", disse ela. Como adiantou o Valor, a relação do PDT com o governo e o PT está desgastada. Existe uma disputa interna pelos cargos no segundo escalão do Ministério do Trabalho que envolve ainda as duas principais centrais sindicais do país: a CUT e a Força Sindical.
A CUT e o PT nunca aceitaram o aparelhamento do Ministério do Trabalho pela Força Sindical e pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Além disso, existem denúncias de irregularidades nos recursos utilizados em cursos de qualificação profissional, com o favorecimento da Força Sindical.
O desgaste político de Lupi com o governo começou porque o Planalto considerou muito "dúbia" a postura do ministro durante a tramitação do projeto que reajustava em R$ 545 o salário mínimo. Apesar do valor ser uma decisão conjunta do governo, Lupi afirmava diante dos parlamentares pedetistas que se sentia "constrangido em defender uma proposta que divergia do estatuto do partido e da carta-testamento de Getúlio Vargas".
Lupi e o PDT escaparam de sanções mais graves porque mais de 60% dos deputados votaram a favor da proposta do governo. Mas as declarações ásperas do líder Giovanni Queiroz levaram Dilma a vetar a presença dele na reunião de líderes de quarta-feira. Para Queiroz, as declarações de ontem da presidente Dilma sinalizam que esta é uma página virada. "A presidente tem grandeza política de saber que, em certos momentos, precisamos votar de acordo com nossas convicções ideológicas. Nem o PT votou 100% afinado com o governo", provocou o líder do PDT.
Apesar da atitude de Dilma, continua o recrudescimento do embate entre as centrais sindicais. O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, disse que a "lua-de-mel" entre as centrais não existe e criticou o líder da Força Sindical, por misturar a defesa dos interesses dos trabalhadores com o de seu partido político. Segundo o presidente da CUT, a Força Sindical quebrou o acordo firmado entre os sindicalistas das diferentes centrais sindicais para aliar-se com partidos de oposição ao governo federal.
"Quem mudou de lado foi o Paulinho. Negociamos que o valor do salário mínimo seria de R$ 580, mas ele fez um acordo com o PSDB e DEM em torno dos R$ 560", disse. "Só aceitaríamos os R$ 560 se tivesse havido uma perspectiva de acordo com o governo. Como não houve, nós mantivemos a coerência e defendemos os R$ 580. "O Paulinho preferiu aliar-se à oposição, mas depois levou uma rasteira deles", afirmou o presidente da CUT.
A discordância sobre o encaminhamento do debate do reajuste do salário mínimo deve afastar ainda mais a CUT da Força Sindical. "Temos nossa agenda e pauta independentemente das outras centrais sindicais. Temos 40% da base sindical. Temos força para nos mobilizar e defender nossa pauta", comenta Arthur Henrique.
A disputa entre as centrais deve ser levada para dentro da Coordenação dos Movimentos Sociais, integrada por entidades como MST e UNE. "A Força quer impor uma pauta sindical, sendo que o debate deve contemplar as diferentes demandas do movimento social", reclamou Artur Henrique. No dia 23, deve haver uma grande manifestação em todo o país, organizada pelos movimentos sociais.”
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