segunda-feira, 11 de abril de 2011

Siderúrgicas: “Sinais de reconquista” (Fonte: Valor Econômico)


“Autor(es): Roberto Rockmann | Para o Valor, de São Paulo

Após um 2009 conturbado pelos efeitos da crise mundial e um 2010 em que as importações reduziram o espaço do produto nacional e a lucratividade, os altos fornos das siderúrgicas estão cada vez mais aquecidos. No primeiro trimestre, a entrada de aço importado caiu, os pedidos de clientes têm crescido, enquanto as perspectivas futuras são positivas: a Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos, os investimentos em óleo e gás e na área de construção civil poderão dobrar nesta década o consumo per capita de aço, estagnado há 26 anos em cerca de 100 quilos por habitante. Se há otimismo em relação ao futuro, há ameaças no horizonte: para avançar, a indústria siderúrgica nacional tem alguns obstáculos a superar.
"A Copa, os Jogos Olímpicos, o programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida e os investimentos da cadeia de óleo e gás podem induzir que o consumo per capita passe para 200 quilos por habitante em cinco anos, o que pode fazer com que muitos investimentos saiam do papel. Mas é preciso enfrentar algumas questões, como a carga tributária que afeta a cadeia, problema agravado com o câmbio, que exacerba as deficiências competitivas", analisa Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil. Hoje, dia 8 de abril, é comemorado o Dia Nacional do Aço, data em que este ano as siderúrgicas devem celebrar a retomada do mercado.
Neste ano, a produção de aço bruto deve chegar a 39,5 milhões de toneladas, alta de 20% em relação a 2010, com as vendas internas crescendo 16% e atingindo 24,6 milhões de toneladas, segundo o Instituto Aço Brasil. Os embarques devem ter alta de 42%, alcançando US$ 8,2 bilhões e 12,8 milhões de toneladas. Já as importações - que atingiam cerca de 5% do mercado e em 2010 chegaram a responder por uma fatia de 20% do mercado - devem cair 42%, para 3,4 milhões de toneladas. "O mercado brasileiro tem boas perspectivas e é factível que possa crescer 35% a 40% nos próximos cinco anos", diz Ronaldo Valiño, líder de mineração e siderurgia da PwC Brasil.
No primeiro trimestre, o volume de aço importado caiu para cerca de 135 mil toneladas mensais na rede de distribuição, bem abaixo do nível de 460 mil toneladas apurado em outubro de 2010. "As importações estão caindo, os descontos das usinas estão sendo retirados em abril e o mercado está comprador", diz Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).
Os estoques na distribuição, que em 2010 chegaram a quatro meses de venda, estão perto do nível normal, de 2,6 meses. "A demanda está bastante aquecida, com muitos projetos de infraestrutura saindo. E não há ainda nenhum pedido para a Olimpíada e a Copa", diz Christiano da Cunha Freire, presidente da Frefer. De olho no futuro, a distribuidora irá investir R$ 20 milhões na aquisição de máquinas e equipamentos e lançou R$ 60 milhões em debêntures para reforçar seu caixa.
A demanda de aço deve crescer, impulsionada pelo setor de infraestrutura e de construção civil. "Muitas empresas terão de aumentar sua capacidade e contratar mais pessoas para atender aos pedidos da indústria de óleo e gás, que está em franco crescimento com os planos da Petrobras. A indústria naval está renascendo, e na área de energia elétrica, as perspectivas são positivas, mais de R$ 200 bilhões devem ser investidos nos próximos anos", diz o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy.
A Petrobras deve investir US$ 224 bilhões até 2014, sendo que US$ 212 bilhões serão direcionados a projetos de óleo e gás no Brasil. Além de produzir e explorar petróleo em fronteiras conhecidas, a estatal se prepara para avançar no pré-sal, o que tem despertado a atenção das siderúrgicas nacionais. No centro de tecnologia da usina de Ipatinga (MG), a Usiminas inaugurou, em fevereiro, um sistema que funciona como um simulador do processo de produção do aço para o pré-sal, capaz de testar aços especializados sem que a empresa precise consumir elevadas quantidades de material produzido. Em março, a siderúrgica anunciou investimentos de R$ 152 milhões na modernização tecnológica da aciaria 2 da unidade de Ipatinga, com a instalação de um desgaseificador a vácuo. A desgaseificação melhora a qualidade superficial do aço, o que permitiria atender às exigências da indústria do petróleo na exploração do pré-sal.
A realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos e a construção civil também devem elevar o consumo de aço no país. No início de março, a Gerdau anunciou investimentos de cerca de R$ 2,5 bilhões na expansão da produção de aço e laminados da usina Cosigua, localizada no Distrito Industrial de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. A capacidade de produção de aço da unidade será ampliada em 50%, chegando a 1,8 milhão de toneladas por ano. Será instalado um novo laminador de fio-máquina e vergalhões com capacidade instalada de 1,1 milhão de toneladas por ano.
O bom momento do setor poderia ser alavancado nos próximos anos, com uma estrutura de custos mais eficiente. Câmbio mais competitivo e carga tributária mais baixa poderiam aumentar a musculatura das siderúrgicas nacionais, em um momento em que o parque siderúrgico mundial opera com um excedente de 550 milhões de toneladas. "Desoneração é a palavra de ordem", diz Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil. Estudo da Booz&Co encomendado pela entidade aponta que a indústria nacional é bastante competitiva, quando se consideram os custos de produção para bobina a quente e vergalhão sem impostos. O Brasil figuraria entre os cinco mais competitivos do mundo. Com os impostos, que aumentam em mais de 40% os custos de produção, o país perde competitividade em relação a outros países.”


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