terça-feira, 1 de março de 2011

“Homem forte do setor elétrico perde espaço” (Fonte: Valor Econômico)


“Autor(es): Cláudia Schüffner e Rafael Rosas | Do Rio


Na posse do novo presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, ficou clara uma perda de poder de Valter Cardeal, homem forte da estatal durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Cardeal, que como diretor das áreas de engenharia e tecnologia era o responsável pela montagem dos consórcios das grandes hidrelétricas como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte - teve sua diretoria redimensionada.
A área foi dividida em geração e transmissão, sendo que essa última será comandada por José Antonio Muniz Lopes, que saiu da presidência da estatal na sexta-feira e preferiu continuar no Rio do que assumir a presidência da Eletronorte. Cardeal será diretor de geração e comercialização de energia. Foi Cardeal o idealizador do consórcio que venceu a licitação para construir Belo Monte e que agora precisa encontrar um substituto para o problemático Grupo Bertin.
Criado às pressas, o consórcio Norte Energia foi criticado desde o início porque o mercado entendeu que o grupo foi formado às pressas como uma manobra para garantir um empreendimento caríssimo, de grande sensibilidade ambiental com baixo retorno sobre o investimento. Os problemas do Bertin para depositar garantias sobre a sua participação no projeto mostram que as preocupações tinham fundamento.
Ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o substituto do Bertin no consórcio será conhecido "no início de março".
Cardeal tem acesso direto à presidente Dilma Rousseff desde quando ela era ministra de Minas e Energia no início do governo Lula e isso continuou na Casa Civil, um acesso que nem seus superiores diretos - ele foi subordinado a Luiz Pinguelli Rosa, Silas Rondeau, Aloísio Vasconcellos e José Antonio Muniz Lopes - tiveram. Ele, inclusive, ocupou interinamente a presidência da estatal. Ainda não está claro se José da Costa Carvalho Neto poderá se reportar diretamente à presidente da República. Em entrevista ontem ele disse que prestará contas a Lobão.
"A minha chefia é o ministro. Eu me reporto ao ministro. Fui convidado pela presidente junto com o ministro. Mas a quem eu me subordino é ao ministro Lobão", disse José da Costa.
No setor já é conhecido o fato de ele ter sido convidado diretamente por Dilma Rousseff, que depois pediu ao ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que chamasse o ministro a sua sala para comunicar a decisão. Mais um indício da perda de influência do PMDB do senador José Sarney (AP) no setor.
"O dr. José Sarney não tem um diretor no sistema elétrico, não indicou nenhum. Não tem um diretor nas agências. Todavia, a todo instante declaram que ele ocupou [o setor elétrico]. Como é que se pode conviver com uma situação dessas?", questionou Lobão ontem.
Quanto às mudanças na diretoria de Cardeal, o novo presidente da Eletrobras elogiou Valter Cardeal dizendo que o considera "uma das pessoas mais brilhantes no setor elétrico brasileiro", tendo ainda "papel importante na gestão".
As mudanças no setor que começaram quando a presidente Dilma decidiu tirar Furnas da área de influência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ela nomeou Flávio Decat para a presidência de Furnas, quando este era o nome mais cotado para o lugar de Muniz na Eletrobras.
O fato foi lembrado ontem por Lobão na posse e causou um certo mal estar. O próprio Costa terá como subordinados dois ex-presidentes - Muniz e Cardeal. O que está ficando claro no setor é uma grande quantidade de profissionais tarimbados com grande experiência no setor ocupando cargos executivos tanto na holding quanto nas subsidiárias.
Isso pode causar alguma dificuldade para o governo executar o plano de centralizar o comando das decisões na holding e reduzir a influência política regional nas controladas.
Com Decat em Furnas o deputado Eduardo Cunha perdeu influência na estatal. Ele também teve bloqueada sua intenção de nomear um diretor internacional para a Eletrobras. O cargo nem foi criado nas mudanças anunciadas agora.
O novo presidente da Eletrobras assumiu a estatal ontem dizendo que a presidente Dilma quer aumentar o valor de mercado da empresa e contribuir para a modicidade tarifária. "Só tem um jeito de fazer isso. É que a empresa seja cada vez mais eficiente. Que é reduzir os custos, ter maior produtividade e é isso que vamos procurar ter", disse.”
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