A reportagem é de Cláudio Angelo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-02-2011.
Ironicamente, as justificativas para a retomada desses projetos são as mesmas que levaram o mundo a desconfiar deles 20 anos atrás: questões ambientais e sociais.
Os governos brasileiro e chinês, principais construtores de hidrelétricas do mundo, argumentam que barragens são preferíveis a termelétricas porque não emitem gases de efeito estufa.
O Brasil chegou a incluir a polêmica usina de Belo Monte e outras que já estavam planejadas na lista das metas nacionais de redução de emissões de CO2 apresentada emCopenhague em 2009. O truque de contabilidade carbônica foi patrocinado por Dilma Rousseff.
A China se comprometeu a aumentar em 15% a participação de energias renováveis em sua matriz e, para isso, deve anunciar nas próximas semanas um projeto tão polêmico quanto Belo Monte ou mais: o complexo de usinas do rio Nu.
Trata-se de um conjunto de 13 usinas que somam 22 mil megawatts, a serem feitas num sítio tombado pela Unesco como patrimônio natural mundial.
"É o único grande rio do Sudeste Asiático que ainda não foi barrado", diz Peter Bosshard, da International Rivers Network.
O projeto foi suspenso em 2004 depois que a Unesco ameaçou tirar os cânions do rio Nu de sua lista. Neste ano, o governo voltou a citar a região como alvo de desenvolvimento hidrelétrico.
É mais do que coincidência que a China, uma ditadura, seja o principal construtor de grandes barragens no mundo. E que o projeto de Belo Monte tenha sido gestado por um regime militar.
Essas obras mobilizam grande quantidade de mão de obra e recursos públicos, deslocam muita gente e podem ser entendidas como obras de integração nacional e de geração de energia.
Das dez maiores barragens do mundo, cinco foram concebidas ou feitas sob regime autoritário. "Franklin Roosevelt fez grandes hidrelétricas nos EUA, mas era um governo com forte presença do Estado", diz o físico José Goldemberg, da USP.
Após críticas sérias a essas obras nos anos 1980 (quando o Banco Mundial parou de financiá-las) e 1990 (quando foi criada a Comissão Mundial de Barragens para regular seu planejamento), governos como o brasileiro começaram a repensar os planos para as grandes usinas.
O DNA autoritário, porém, emerge de tempos em tempos. Desde 2003, por exemplo, a academia e a sociedade civil estão excluídas do Conselho Nacional de Política Energética."
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