"Enquanto aguardam a definição das diretrizes governamentais para a adoção da rede inteligente (smart grid, em inglês) no país, fabricantes de sistemas e equipamentos, distribuidoras de energia e associações de classe ligadas ao setor elétrico aprofundam estudos, desenvolvem projetos pilotos e ampliam seus investimentos. O objetivo é introduzir novas tecnologias de informação e conceitos inovadores de gestão dos fluxos de energia elétrica que viabilizarão uma mudança radical no modelo de negócio das empresas. E na infraestrutura de atendimento de milhões de consumidores.
É um movimento ambicioso, avalia o economista Otávio Mielnik, que coordenou um recente estudo da Fundação Getúlio Vargas sobre Energia Elétrica e Inovações Energéticas. Afinal, a rede elétrica brasileira é hoje um sistema integrado que articula 2.335 unidades de geração com uma capacidade de 113.55 MW. Elas estão conectadas a 97 mil quilômetros de linhas de transmissão e 2,35 milhões de linhas de distribuição. Tudo isso para atender a 47 milhões de unidades consumidoras. Na prática, o smart grid consiste em implantar medidores inteligentes que vão mesurar e informar com precisão dados de consumo da rede elétrica.
"A rede elétrica inteligente altera o padrão de concorrência entre sistemas de geração elétrica, que tem sido determinado por empreendimentos de grande escala. Além disso, torna mais acessível e competitiva a geração descentralizada de pequena escala, aliviando a carga das linhas de transmissão (reduzindo investimentos para sua ampliação) e valorizando a proximidade em relação a consumidor", afirma ele.
As oportunidades de negócio são amplamente favoráveis. Do lado da indústria, por exemplo, a Cooper Power Systems, divisão da multinacional America Cooper Industries, fabricante global de equipamentos elétricos com faturamento de US$ 5,1 bilhões em 2010, anuncia investimentos de R$ 40 milhões na transferência e expansão da sua produção (atualmente no bairro paulistano de Santo Amaro) para uma nova planta, que será construída na cidade de Porto Feliz, no interior paulista. Fornecedora de tecnologias de smart grid que melhoram o desempenho das redes elétricas, a nova fábrica vai aumentar a produção de religadores (considerados o coração do sistema de gestão das redes), iniciar a produção de capacitores e de reguladores de tensão, além de criar um centro de tecnologia de smart grid.
"A adoção intensiva de tecnologias de smart grid pode dobrar o volume do mercado brasileiro de equipamentos elétricos na área de média tensão, estimado atualmente em US$ 1 bilhão", confia Flávio Marqueti, vice-presidente da Cooper Power no Brasil.
A Alstom Grid, uma nova divisão do grupo francês Alstom, também está envolvida com projetos experimentais da tecnologia smart grid no Brasil, informa Sérgio Gomes, vice-presidente para a América Latina. "Nosso foco em smart grid está concentrado em sistemas de energia na área de geração, transmissão e distribuição. Já fornecemos para o Operador Nacional de Sistemas (OSN) software para o sistema central de controle. Também estamos instalando equipamentos na AES Eletropaulo e Light para monitorar e controlar as centrais de operação das redes", diz ele.
No campo das distribuidoras, não há previsões sobre o volume de investimentos que serão consumidos com a introdução das novas tecnologias. Na verdade, o setor espera até o final do ano o resultado dos estudos que estão sendo realizados com participação da indústria, distribuidoras e outros agentes, sob coordenação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para definição de como será feita a troca e implantação do parque dos medidores inteligentes.
De qualquer forma, os projetos pilotos estão em ritmo avançado. Só a CPFL tem um programa de investimentos da ordem de R$ 215 milhões para desenvolver projetos nas áreas de telemedição (smart meter), mobilidade e operação. Na área de telemedição do grupo A (clientes industriais e comerciais), a distribuidora pretende implantar 25 mil medidores inteligentes até meados de 2013. O projeto de mobilidade, de acordo com o executivo, tem por objetivo automatizar o fluxo de informações entre os centros de despacho de serviços com as equipes que executam as atividades em campo. "Atualmente temos em torno de mil equipes que são comandadas por meio de rádio. Com esse projeto, as informações serão enviadas aos eletricistas através de um palm top. Com essa nova ferramenta será possível melhorar a gestão das ordens de serviço e a produtividade das equipes, assim como melhorar a qualidade do serviço prestado", diz Paulo Bombassaro, diretor de engenharia e gestão da CPFL.
Já o projeto de operação prevê a instalação, até 2013, de cinco mil chaves e religadores inteligentes para dar mais flexibilidade e agilidade às centrais de telecomandos.
Segundo Nelson Fonseca Leite, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), que elabora uma proposta de migração do sistema atual para a nova infraestrutura de redes inteligentes, os vários projetos pilotos em andamento - o da Eletrobrás em Parintins (AM), da Cemig (Cidade do Futuro) em Sete Lagoas (MG), e o da Copel em Curitiba (PR), entre outros -, pretendem avaliar os benefícios das inovações para indústria, fornecedores e usuários.
"É necessária uma definição clara das políticas públicas para o smart grid. Por exemplo: ainda é incerto como as concessionárias vão agregar valor às redes inteligentes. Isso vai depender do modelo regulatório, que definirá qual será a infraestrutura necessária e quem vai pagar a conta no futuro", afirma.
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