quarta-feira, 25 de maio de 2011

“Sindicatos brigam pelo controle dos trabalhadores da hidrelétrica” (Fonte: Valor Econômico)


“A Polícia Civil vai colher amanhã os depoimentos das lideranças dos dois sindicatos que, desde o ano passado, têm travado uma verdadeira guerra para ver com quem vai ficar a representação dos quase 40 mil trabalhadores que estão na região da hidrelétrica de Jirau. Hoje quem está à frente é o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero), filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). O inimigo declarado é o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Sintrapav), vinculado à Força Sindical.
A briga entre os dois sindicatos foi parar até em vídeos no YouTube, onde dirigentes do Sticcero aparecem em imagens fazendo supostas negociações para demitir das obras de Jirau quem não se submete ao seu comando. Há ainda acusações de suposto uso indevido de contribuições trabalhistas arrecadadas. Os vídeos foram divulgados pelo ex-funcionário do sindicato, Danny Bueno, que também move uma ação contra o Sticcero. Na semana passada, após matéria sobre o assunto veiculada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Bueno teve seu carro apedrejado em Porto Velho. A reportagem tentou encontrar Danny Bueno, mas não teve retorno até o fechamento desta edição. As acusações do ex-funcionário são negadas por Raimundo Enélcio, diretor do Sticcero. Ele diz que vai processar Bueno por divulgar "inverdades".
Por trás da rixa está a contribuição sindical, correspondente a um dia de trabalho, que é paga por todos que têm carteira assinada, ao sindicato de sua categoria. Segundo Enélcio, o Sticcero arrecadou cerca de R$ 700 mil de contribuição dos trabalhadores de Jirau e Santo Antônio em 2010.
A disputa sindical começou no ano passado, quando Antonio Acácio Amaral, que presidia o Sticcero havia menos de dois meses, foi afastado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por supostas irregularidades no comando do sindicato. Amaral, que é presidente da Força Sindical em Rondônia, acusa a CUT de conluio para colocar no Sticcero alguém vinculado ao PT. Ele é filiado ao PDT.
Amaral afirma que move uma ção no Tribunal Superior do Trabalho para ter de volta a liderança do Sticcero. Em paralelo, no entanto, a Força Sindical agiu rápido na criação do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Sintrapav). Segundo Amaral, a missão de representar os trabalhadores de projetos de grande porte como o das usinas seria, na realidade, do Sintrapav. Ele alega que o Sticcero foi criado para responder por outros tipos de projetos de construção civil, conforme estabelecido em seu cadastro no Ministério do Trabalho.
"O governo não percebeu ainda que está dando guarida a essa quadrilha que se estabeleceu dentro da construção civil", acusa Amaral. "O Sticcero não representa porcaria nenhuma, colocaram semianalfabetos lá, gente que está enganando até o [ministro da Secretaria-Geral da Presidência] Gilberto Carvalho", comenta ele.
Na semana passada, a Polícia Civil teve informações de que panfletos foram distribuídos clandestinamente entre os trabalhadores de Jirau, informando que o Sticcero não tinha nenhuma representatividade sobre seus direitos. Perguntados sobre o fato, os dois sindicatos informam que desconhecem o ocorrido. O consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), responsável pelas obras de Jirau, também declarou que não encontrou material circulando no canteiro de obras.
O resultado imediato dessa briga é a completa insegurança transmitida aos trabalhadores, diz o delegado Hélio Teixeira Lopes Filho, diretor da divisão de repressão ao crime contra o patrimônio da Polícia Civil em Rondônia. "Os sindicatos estão desacreditados e os funcionários, perdidos".”


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