quinta-feira, 24 de março de 2011

“Agnelli busca apoio da oposição para ficar na Vale. Diretores ameaçam sair” (Fonte: O Globo)

“Autor(es): agencia o globo:Regina Alvarez, Cristiane Jungblut e Danielle Nogueira

José Serra e presidente do DEM criticam interferência do governo na empresa

BRASÍLIA e RIO. O presidente da Vale, Roger Agnelli, articula pessoalmente uma resistência à tentativa do Palácio do Planalto - intermediada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega - de retirá-lo do cargo. O executivo, que comanda há dez anos a mineradora, vem conversando com governadores, deputados e senadores da oposição em busca de apoio. Ontem, após dois dias de noticiário intenso detalhando a estratégia do governo para substituí-lo, Agnelli trocou e-mails com líderes partidários, enviou emissários ao Congresso e mobilizou a oposição. Os presidentes do PSDB e do DEM dispararam críticas ácidas à administração petista, acusada por eles de querer instituir uma "burguesia de Estado" e "aparelhar" a Vale.
A mineradora também enviou a gabinetes de parlamentares farto material com informações sobre a empresa desde sua privatização.

Em reação à interferência política no comando da Vale, diretores da empresa encabeçam um movimento de resistência. Parte deles está disposta a colocar o cargo à disposição, caso Agnelli deixe a companhia. Um comunicado oficial com a posição da diretoria deverá ser entregue aos acionistas nos próximos dias, entre eles a Previ, que preside o Conselho de Administração da Vale. Segundo interlocutores de Ricardo Flores, presidente do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, tem procurado se manter distante da briga travada nos bastidores do governo pela cadeira do executivo.
- O que me apavora é a ideia de aparelhamento do Estado - afirmou o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

Mantega é convidado a dar explicações na Câmara

Até o candidato tucano derrotado nas eleições presidenciais, José Serra, saiu em defesa da blindagem da mineradora. Ele esteve no Congresso para debater reforma política com a bancada do PSDB, evento que não foi divulgado previamente:

- É a burguesia de Estado petista, se expandindo, no sentido de aparelhar a maior empresa brasileira privada. Vale e Petrobras estão na disputa de quem é a maior (...) O problema não é estatizar ou privatizar, o problema é aparelhar a Vale, é utilizar a empresa para fins político-partidários distintos da finalidade social da empresa.
A União está presente diretamente na mineradora por intermédio da fatia da BNDESPar. Mas, por controlar as empresas patrocinadoras, também orienta as decisões dos fundos de pensão das estatais. Este "grupo federal" tem junto 61,51% da holding que controla a Vale. A destituição do presidente, porém, demanda 75% dos votos. Por isso, Mantega foi escalado para negociar com o Bradesco (21,21%) a substituição de Agnelli. Além disso, por acordo de acionistas, cabe ao banco a gestão da empresa.

No dia 19 de abril, haverá uma assembleia geral ordinária para eleger os novos conselhos de Administração e Fiscal, que poderão decidir pela não renovação do mandato de Agnelli e dos demais diretores, que acaba dia 21 de maio.

O assunto dominou os debates no Congresso e na Câmara motivou a apresentação de um requerimento, pelo deputado Mendonça Filho (DEM-PE), convocando Mantega a prestar esclarecimentos sobre a ingerência política na Vale. Por acordo, a Comissão de Tributação e Finanças aprovou um convite ao ministro da Fazenda, sem data para ocorrer.

- É insaciável (a fome por cargos do PT) e do conjunto de partidos que a ele se aliam, nem sempre com objetivos republicanos. Deixa a Vale em paz, é um pedaço do país que vai bem - acrescentou o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse esperar que Mantega dê explicações e que será apresentado requerimento à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) com esta finalidade:

- É uma oportunidade para o ministro Mantega se colocar à disposição e, com muita clareza, dar todas as explicações.

Aliado do governo, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) também criticou a interferência do governo na Vale em plenário.

- Eu gostaria que o ministro Mantega, em público, afirmasse que o governo vai respeitar uma empresa privada e que não vai utilizar os mecanismos que tem para intervir no seu processo decisório e na formação de sua diretoria - disse Dornelles.

Na Câmara, os líderes dos dois maiores partidos da oposição também defenderam a Vale.

- Nós, da oposição, temos o compromisso de preservar os interesses dos milhares de acionistas que não podem ser prejudicados por essa voracidade do governo federal - disse o deputado ACM Neto (BA), líder do DEM.

- Se a empresa tivesse feito o que o Lula queria teria ido para o buraco. Se queriamreestatizar a Vale, por que não fizeram à luz do debate com a sociedade? Não tiveram coragem - afirmou o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP).

Já o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou que o governo esteja interferindo na Vale:

- Os fundos de pensão são autônomos para definir investimentos e política de gestão.”



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