Numa reunião bastante tensa que adentrou até tarde da noite de terça-feira para tratar do apagão do Nordeste, a presidente Dilma Rousseff exigiu da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que intensifique a fiscalização preventiva nas principais linhas de transmissão e subestações do País. E que todas as explicações técnicas sobre a causa do incidente, que deixou 46 milhões de pessoas no escuro, estejam nas mãos dela até amanhã ou, no máximo, até o início da semana que vem.
"O estilo dela é de cobrar e é de cobrar mesmo. Ela quer saber tudo nos mínimos detalhes", revelou ao Estado uma fonte que participou da reunião. Segundo essa fonte, ao contrário de muitos ministros, que deixam decretos e projetos de lei nas mãos da equipe técnica, e simplesmente tomam conhecimento dos resultados apenas no final, Dilma acompanha de perto todas as etapas. "Se alguém faz um decreto, um projeto de lei, muitos ministros não se envolvem. Não é o caso dela como ministra nem como presidente da República. Ela quer saber os detalhes dos detalhes dos detalhes", ressaltou.
Em razão de uma ocorrência de forte repercussão como essa, que atingiu oito Estados na sexta-feira, ainda mais no setor no qual ela esteve à frente durante anos, Dilma foi categórica. "Ela quer muito mais ações preventivas para ter um sistema absolutamente confiável", afirmou a fonte. Uma fonte do Planalto revelou que Dilma continua insistindo em não aceitar como explicação para o ocorrido a falha no cartão de proteção da subestação Luiz Gonzaga, em Pernambuco.
Em nota, o Ministério de Minas e Energia informou ontem que o sistema Nordeste já estava com uma linha de transmissão desligada para manutenção, o que contribuiu para agravar as condições do sistema da região.
Falhas. O diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, disse ao Estado que, de fato, há alguns anos, não era prática da agência fazer muitas fiscalizações preventivas, mas a agência passou a atuar nessa frente de forma mais intensa nos últimos anos.
"Ano passado fizemos muito mais fiscalizações do que a média histórica da agência", ressaltou. E confirmou que a presidente quer que o órgão regulador priorize esse tipo de fiscalização. Para cumprir essa demanda, Hubner informou que o quadro de funcionários da equipe de fiscalização terá de ser reforçado. "Temos de colocar mais gente nas linhas (de transmissão). De fato, ela quer e acho que é muito importante mesmo."
A participação da Aneel, segundo Hubner, na reunião de terça-feira foi para acompanhar e assessorar os outros agentes do setor elétrico, pois a agência só poderá atuar de forma concreta depois da conclusão do Relatório de Análise de Perturbação (RAP), previsto para ser divulgado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) até amanhã.
"A gente tem discutido, vai ter de rediscutir, ver se teve problema de decisão operacional. Acho que cabe uma revisão da questão da proteção como um todo", ressaltou. Hubner explicou que "por causa de um erro de proteção, teve de desligar tudo". Por essa razão, sustentou, terá de ser averiguado o que de fato aconteceu para desencadear o desligamento do sistema e, depois disso, elaboradas recomendações e instruções para evitar que o incidente se repita.
"A origem foi uma falha no cartão de proteção. Mas aquilo não pode acontecer (desligar o sistema e deixar milhões de consumidores no escuro)", ponderou."Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/AdvocaciaGarcez
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