terça-feira, 5 de abril de 2011

“Médicos se organizam contra planos de saúde” (Fonte: Correio Braziliense)

“Autor(es): Gustavo Henrique Braga e Cristiane Bonfanti

 Entidades da área se aliam aos profissionais nas reivindicações feitas às operadoras

A paralisação dos médicos, marcada para a próxima quinta-feira, Dia Mundial da Saúde, contará com aliados de peso no embate contra os planos de saúde. Entre as organizações que manifestaram apoio ao movimento estão o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Sindhosp) e a Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp). Enquanto a categoria ajusta os últimos preparativos para o protesto, os usuários continuam em meio ao fogo entre os profissionais e os planos.

O empresário Monclair Cammarota, 33 anos, vem enfrentando uma maratona em busca de um pediatra credenciado em Brasília. Ele esteve ontem no Hospital Santa Lúcia, em busca de atendimento para o filho, de apenas 10 meses, que sofre de pneumonia, mas todo o processo de atendimento levou cerca de seis horas. Ele esperou três horas para ser atendido. “Para piorar, o pneumologista do plano informou que só atenderá até 15 maio, depois disso não renovarão o convênio. Há um problema de ordem administrativa, é preciso respeitar mais os médicos para que isso não aconteça”, acredita Cammarota.

A bancária Lilian Bueno Portela, 27 anos, também tem problemas frequentes para conseguir pediatra. Com uma filha de cinco anos, já chegou a procurar quatro hospitais para ser atendida. “Quando estamos doentes, não podemos enfrentar tanta demora”, disse. Já a farmacêutica Kátia Kummer, 32 anos, precisou trocar 80% de seus médicos desde o ano passado, pois a maioria se descredenciou das operadoras de plano de saúde. “Temos um histórico com cada profissional e precisamos estabelecer toda a confiança novamente quando mudamos de clínica”, desabafou.

O objetivo dos médicos é pressionar as operadoras para elevar o valor pago à categoria a, no mínimo, R$ 60 por consulta — o dobro da média desembolsada atualmente — bem como estabelecer regras contratuais com critérios e periodicidade de reajustes aos profissionais. Eles dizem que as emergências serão atendidas normalmente, mas consultas terão de ser remarcadas para outro dia. “O apoio às reivindicações é imprescindível, pois o desrespeito das empresas impacta diretamente na qualidade do atendimento”, declarou Juliana Ferreira, advogada do Idec.

Em nota, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que é papel das entidades médicas lutar pelos direitos dos profissionais e que casos de negativa de cobertura podem ser denunciados pelo Disque-ANS 0800 701 9656, ou pelo Fale com a ANS, no site www.ans.gov.br. Já a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), representante das operadoras, alegou que é livre a negociação entre as partes sobre os serviços a serem prestados e que o movimento dos médicos é aceitável, desde que não prejudique o atendimento aos beneficiários dos planos de saúde.

O presidente do Sindicato dos Médicos de Brasília, Gutemberg Fialho, apontou como consequência dos baixos valores pagos pelos planos o descredenciamento em massa dos profissionais, que passam a se recusar a atender pelo plano. “Entre 1996 a 2010, os reajustes das mensalidades chegaram a 475%. No mesmo período, a inflação foi de 255% e o repasse aos médicos foi de 110%. É preciso corrigir essa distorção”, argumentou.

Outra queixa comum é a preferência de clínicas e hospitais por pacientes particulares, em detrimento dos conveniados. Enquanto pacientes sem plano conseguem atendimento quase que imediato, os beneficiários levam meses para fazer procedimentos simples. No entender de Florisval Meinão, diretor financeiro da Associação Médica Brasileira (AMB), são problemas como esses que fazem com que seja praticamente inviável para o médico atender pelos planos. “Passamos o ano passado inteiro em negociação, mas não saímos da estaca zero. Queremos ser levados mais a sério pelas prestadoras”, disparou.

A desistência também vem por parte dos usuários. Cansada de não conseguir atendimento, a pastora evangélica Célia Maria Alves Menezes, 54 anos, pediu o cancelamento do seu plano de saúde. “Eu ligava para as clínicas e havia horário apenas para um mês depois do solicitado. Além disso, só encontro clínicas credenciadas distantes da minha casa”, afirmou Célia.


Longa espera

Um levantamento da Proteste detectou que os usuários de planos de saúde chegam a esperar até três meses para a marcação de uma consulta, nos casos de planos individuais em algumas especialidades, e sofrem ainda com interferências e restrições. Para os planos coletivos a espera é ainda maior: sete meses.

Influência

A interferência dos planos de saúde também ficou comprovada em recente pesquisa do Instituto Datafolha. Os dados mostram que 92% dos profissionais reclamam que as operadoras de saúde influem sobre as condutas de diagnósticos e de tratamentos dos pacientes, ao recusar procedimentos que só ao médico caberia decidir se são ou não necessários.”




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