“20 anos para ser rico
Autor(es): Cristiane Bonfanti e Larissa Garcia
Até 2050, o país terá 49% da sua população ativa com mais de 65 anos. Essa realidade exigirá do governo grandes reformas e investimentos em áreas como a saúde e a previdência social. Mudanças que devem começar a partir de agora.
Se quiser aproveitar sua força de trabalho jovem e se tornar próspero, o Brasil precisa correr. Em duas décadas, quase metade dos brasileiros terão mais de 65 anos de idade
O Brasil tem 20 anos para ficar rico. Com sua população em rápido processo de envelhecimento, o país possui hoje dois terços dos habitantes em idade produtiva, entre 15 e 64 anos, configurando o chamado bônus demográfico — fenômeno definido pela força de trabalho maior que o número de pessoas economicamente dependentes. Esse é o período que a nação tem para aproveitar as oportunidades e ser alçada ao seleto grupo das mais ricas e industrializadas do mundo ou cruzar os braços e perder o bonde da história. Relatório do Banco Mundial mostra que integrantes do Velho Continente, como a França, levaram mais de um século para ver a quantidade de pessoas com mais de 65 anos saltar de 7% para 14% do contingente populacional. Em solo nacional, esse processo se dará em intervalo bem menor.
Pelos dados do documento Envelhecendo em um Brasil mais velho, a quantidade de idosos no país hoje representa 11% da população em idade ativa e será de 49% em 2050. Em 2022, o Brasil viverá o auge do bônus demográfico. A partir dessa data, a população em idade de produzir vai começar a cair e todo o crescimento populacional será guiado pelo aumento do número de idosos. Para se ter noção, nos próximos 40 anos esse grupo populacional crescerá a uma taxa de 3,2% ao ano, comparada à de 0,3% da população total. Em 1950, havia 2,6 milhões de idosos brasileiros, ante os atuais 19,6 milhões. Esse número vai saltar para 64 milhões em 2050.
Para o Banco Mundial, o país poderá acrescentar 2,48 pontos percentuais ao seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita a cada ano, somente com os resultados da produção da população em idade ativa e com a acumulação de capital que as pessoas farão nesses anos. “As evidências internacionais mostram que, quanto maior é a expectativa de vida, maior é a tendência de a população fazer poupança, pensando no futuro. Isso garante reservas de capitais que impulsionam o desenvolvimento da economia”, explicou o coordenador do estudo, Michele Gragnolati.
Desafio
Para especialistas, o governo Dilma Rousseff carrega sobre os ombros um enorme desafio e, se não quiser fazer feio, precisa reagir. A experiência internacional revela que, quanto mais se adiam as reformas, mais drásticas elas têm de ser. “Vamos passar por um boom no desenvolvimento nos próximos anos. Mas, se quisermos realmente enriquecer, precisamos investir pesado em áreas como educação e infraestrutura, além de facilitar a abertura de empresas. O setor privado vai impulsionar o crescimento”, analisou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Abi-Ramia Caetano.
Na área da saúde, os desafios são enormes. As projeções indicam que, em 2050, será necessário o quíntuplo do número de profissionais que atualmente cuidam dos mais velhos. Além disso, o governo terá de investir em hospitais e em toda a infraestrutura necessária para atender essa população. Economista e professor de política social da Universidade de Brasília (UnB), Evilásio Salvador ressaltou que, hoje, o investimento do Brasil em saúde representa cerca de 3,5% do PIB, enquanto esse índice deveria ser próximo de 5%. Além disso, o gasto público equivale a 45% do total no setor. Em países como Bélgica e Canadá, ele ultrapassa 70% e, na Inglaterra, 85%.
“São dois caminhos. O primeiro é aumentar as despesas com prevenção. O segundo é investir nos níveis mais complexos de atendimento à saúde. O governo precisa garantir o financiamento adequado”, avaliou. Com o amadurecimento da população ativa, as empresas também terão de capacitar seus funcionários. “Para ser competitivo, é preciso inovar, criar produtos e processos. Os aprendizados estão evoluindo de maneira contínua e rápida, principalmente na área tecnológica, e é preciso estar atento a isso”, ressaltou João Lins Pereira Filho, sócio responsável pela área de Consulturia de Recursos Humanos da PricewaterhouseCoopers Brasil (PwC).
Atualização
Ao que tudo indica, não só as empresas estão entendendo o processo, mas os próprios trabalhadores, que têm buscado treinamento. “Há três anos, 10% de nossos alunos tinham mais de 40 anos. Hoje, 30% estão nessa faixa etária”, disse Carolina Romancini, sócia-diretora da empresa de Recursos Humanos Romancini Treinamento & Desenvolvimento.
Depois de concluir a graduação em enfermagem, em 1980, a enfermeira Maria Zilma dos Santos, 55 anos, não parou de estudar. Maria já fez quatro especializações e um mestrado. Hoje, faz cursos de capacitação, muitos incentivados pela empresa em que trabalha. Os últimos foram de gestão de pessoas e atendimento de excelência. “Estou sempre me atualizando, principalmente em informática. Os jovens têm muito contato com a área e não posso ficar para trás”, disse.
As mudanças demográficas no Brasil exigirão mudanças nada populares na Previdência Social. Segundo o estudo do Banco Mundial, se não fossem as reformas no setor realizadas nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, os gastos previdenciários, que representavam 10% do PIB há cinco anos, subiriam para 37% em 2050. Por conta das reformas, eles devem chegar a 22,4%, ainda um percentual bastante elevado para padrões internacionais.
Conforto
Diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e ex-ministro da Previdência, José Cechin avaliou que uma das medidas mais urgentes a serem tomadas é a revisão do critério de concessão de pensão por morte. “Hoje, se uma pessoa tem 25 anos de idade, perde o cônjuge e começa a receber o benefício, ela o terá para o resto da vida. Além disso, não se analisa se ela trabalha ou não ou se tem outra fonte de renda. O objetivo não é cortar a pensão, mas estabelecer parâmetros”, avaliou.
Para Abi-Ramia, outro ponto a ser revisto é o limite de idade para aposentadoria. “Além disso, o governo precisa implementar a previdência complementar para funcionários públicos, a exemplo do que é feito hoje na iniciativa privada. Eles devem poupar se quiserem ter rendimentos maiores quando pararem de trabalhar”, observou.
Consciente das deficiências da Previdência Social, o engenheiro de controle e automação Gustavo Ramos da Silva, 26 anos, recorreu à previdência privada. “Assim que fui contratado, pensei em garantir a aposentadoria. Sei que o governo não vai suportar a quantidade de idosos no futuro”, ressaltou. De seu salário, R$ 325 são reservados ao fundo. “Só com esse valor, já asseguro R$ 7 mil mensais para depois que eu parar de trabalhar”, fez as contas. O servidor público Felipe Xavier, 24, procurou outra maneira de ter uma velhice confortável. Ele investe em títulos de capitalização e poupança para assegurar a aposentadoria. “Meus pais sempre incentivaram esse tipo de iniciativa. Meu irmão, de apenas 20 anos, também tem suas aplicações”, relatou.”
Para o Banco Mundial, o país poderá acrescentar 2,48 pontos percentuais ao seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita a cada ano, somente com os resultados da produção da população em idade ativa e com a acumulação de capital que as pessoas farão nesses anos. “As evidências internacionais mostram que, quanto maior é a expectativa de vida, maior é a tendência de a população fazer poupança, pensando no futuro. Isso garante reservas de capitais que impulsionam o desenvolvimento da economia”, explicou o coordenador do estudo, Michele Gragnolati.
Desafio
Para especialistas, o governo Dilma Rousseff carrega sobre os ombros um enorme desafio e, se não quiser fazer feio, precisa reagir. A experiência internacional revela que, quanto mais se adiam as reformas, mais drásticas elas têm de ser. “Vamos passar por um boom no desenvolvimento nos próximos anos. Mas, se quisermos realmente enriquecer, precisamos investir pesado em áreas como educação e infraestrutura, além de facilitar a abertura de empresas. O setor privado vai impulsionar o crescimento”, analisou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Abi-Ramia Caetano.
Na área da saúde, os desafios são enormes. As projeções indicam que, em 2050, será necessário o quíntuplo do número de profissionais que atualmente cuidam dos mais velhos. Além disso, o governo terá de investir em hospitais e em toda a infraestrutura necessária para atender essa população. Economista e professor de política social da Universidade de Brasília (UnB), Evilásio Salvador ressaltou que, hoje, o investimento do Brasil em saúde representa cerca de 3,5% do PIB, enquanto esse índice deveria ser próximo de 5%. Além disso, o gasto público equivale a 45% do total no setor. Em países como Bélgica e Canadá, ele ultrapassa 70% e, na Inglaterra, 85%.
“São dois caminhos. O primeiro é aumentar as despesas com prevenção. O segundo é investir nos níveis mais complexos de atendimento à saúde. O governo precisa garantir o financiamento adequado”, avaliou. Com o amadurecimento da população ativa, as empresas também terão de capacitar seus funcionários. “Para ser competitivo, é preciso inovar, criar produtos e processos. Os aprendizados estão evoluindo de maneira contínua e rápida, principalmente na área tecnológica, e é preciso estar atento a isso”, ressaltou João Lins Pereira Filho, sócio responsável pela área de Consulturia de Recursos Humanos da PricewaterhouseCoopers Brasil (PwC).
Atualização
Ao que tudo indica, não só as empresas estão entendendo o processo, mas os próprios trabalhadores, que têm buscado treinamento. “Há três anos, 10% de nossos alunos tinham mais de 40 anos. Hoje, 30% estão nessa faixa etária”, disse Carolina Romancini, sócia-diretora da empresa de Recursos Humanos Romancini Treinamento & Desenvolvimento.
Depois de concluir a graduação em enfermagem, em 1980, a enfermeira Maria Zilma dos Santos, 55 anos, não parou de estudar. Maria já fez quatro especializações e um mestrado. Hoje, faz cursos de capacitação, muitos incentivados pela empresa em que trabalha. Os últimos foram de gestão de pessoas e atendimento de excelência. “Estou sempre me atualizando, principalmente em informática. Os jovens têm muito contato com a área e não posso ficar para trás”, disse.
As mudanças demográficas no Brasil exigirão mudanças nada populares na Previdência Social. Segundo o estudo do Banco Mundial, se não fossem as reformas no setor realizadas nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, os gastos previdenciários, que representavam 10% do PIB há cinco anos, subiriam para 37% em 2050. Por conta das reformas, eles devem chegar a 22,4%, ainda um percentual bastante elevado para padrões internacionais.
Conforto
Diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e ex-ministro da Previdência, José Cechin avaliou que uma das medidas mais urgentes a serem tomadas é a revisão do critério de concessão de pensão por morte. “Hoje, se uma pessoa tem 25 anos de idade, perde o cônjuge e começa a receber o benefício, ela o terá para o resto da vida. Além disso, não se analisa se ela trabalha ou não ou se tem outra fonte de renda. O objetivo não é cortar a pensão, mas estabelecer parâmetros”, avaliou.
Para Abi-Ramia, outro ponto a ser revisto é o limite de idade para aposentadoria. “Além disso, o governo precisa implementar a previdência complementar para funcionários públicos, a exemplo do que é feito hoje na iniciativa privada. Eles devem poupar se quiserem ter rendimentos maiores quando pararem de trabalhar”, observou.
Consciente das deficiências da Previdência Social, o engenheiro de controle e automação Gustavo Ramos da Silva, 26 anos, recorreu à previdência privada. “Assim que fui contratado, pensei em garantir a aposentadoria. Sei que o governo não vai suportar a quantidade de idosos no futuro”, ressaltou. De seu salário, R$ 325 são reservados ao fundo. “Só com esse valor, já asseguro R$ 7 mil mensais para depois que eu parar de trabalhar”, fez as contas. O servidor público Felipe Xavier, 24, procurou outra maneira de ter uma velhice confortável. Ele investe em títulos de capitalização e poupança para assegurar a aposentadoria. “Meus pais sempre incentivaram esse tipo de iniciativa. Meu irmão, de apenas 20 anos, também tem suas aplicações”, relatou.”
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