“Autor(es): agência o globo: Graça Magalhães-Ruether* e Renato Grandelle |
Principal fornecedora de equipamento importado para o projeto de Angra III é a empresa francesa Areva BERLIM e RIO. A decisão do governo alemão de abrir mão da energia atômica no futuro não afetará as operações de usinas nucleares em construção e em operação na central de Angra dos Reis. A avaliação é de Aquilino Senra, professor de engenharia nuclear da Coppe/UFRJ. A parceria entre os dois países nesta área data de 1975, quando foi assinado o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, que previa a transferência de tecnologia. Mas, na prática, até hoje apenas Angra II saiu do papel com projeto da alemã Siemens/KWU. Angra I foi planejada pela americana Westinghouse. O projeto de construção de Angra III ficou parado por mais de 20 anos, até ser retomado durante o governo Lula. Nesse intervalo, a Siemens/KWU chegou a se associar em parceria com a empresa francesa Areva para a produção de reatores, mas acertou neste mês sua saída do negócio com a venda de 34% da sua participação no consórcio nuclear. Na prática, os franceses são os responsáveis pelo fornecimento de material. Um dos sinais do interesse da França pelo empreendimento foi a captação feita no início do ano pela Eletrobrás para custear a importação de equipamentos. Um grupo de bancos liderados pelo Société Générale concedeu empréstimo de até 1,5 bilhão com prazo de até 30 anos. Com o longo intervalo entre planejamento e execução, o projeto original de Angra III foi repaginado, o que inclui novidades na instrumentação e no controle digital, já assinados pela Areva. Além disso, a indústria nacional deve responder por 60% dos componentes da usina. Mudança reduz importância da indústria atômica alemã A indústria atômica alemã, que já foi exportadora de tecnologia para o mundo inteiro, perde ainda mais em importância após a decisão do governo de fechar a última usina até o ano de 2022. A decisão política de abandonar o uso da energia atômica, no entanto, não é inédita. Em 2000, o governo do então chanceler Gerhard Schroeder, uma coalizão do Partido Social Democrata (SPD) com os verdes, decidiu fechar as usinas, medida que foi revogada parcialmente pelo governo conservador-liberal da chanceler Angela Merkel. Em outubro do ano passado, ela resolveu prolongar o uso das usinas, uma forma de anular a decisão do governo anterior. Poucas semanas depois da nova lei atômica passar no Parlamento, a tragédia de Fukushima fez o governo de Merkel voltar atrás. Diante da iniciativa anterior, Senra reagiu com ceticismo à decisão anunciada ontem. Para o professor, o país europeu teve reação similar após a tragédia de Chernobyl, na Ucrânia. Para o especialista, a energia nuclear alemã é "tecnicamente viável, mas não politicamente viável". - O governo alemão pensou em abdicar dessa energia em, no máximo, 30 anos, quando a vida útil das energias nucleares já em operação chegaria ao fim - lembra. - Mas depois viu-se que elas poderiam durar mais e, por algum motivo, elas estão aí até hoje. Na indústria alemã, porém, a tecnologia atômica já vinha sendo avaliada como de vida curta desde a primeira decisão, do governo Schroeder. Um exemplo dessa estratégia é o caso da própria Siemens, que passou a concentrar interesses na produção de centrais focadas em outras fontes de energia. Segundo Sylvia Kotting-Uhl, deputada do Partido Verde, pouco antes de vender a sua parte do consórcio a Siemens entrou com um pedido de garantia Hermes (garantia do governo federal alemão para crédito para exportação de produtos alemães) para um empréstimo de 1,4 bilhões para a construção de Angra III. O negócio foi bastante criticado pelos partidos de oposição. Os opositores criticaram a decisão da garantia pois avaliam que o empreendimento pode ser considerado de risco elevado. A localização é o principal fator de críticas. Apesar da resistência ao crédito e ao projeto em si, Sylvia Kotting-Uhl afirma que o projeto não deve ser afetado pela decisão recente do governo. Os verdes pretendem lutar por uma nova lei que proíba a exportação da tecnologia nuclear. -- O que não é bom para a Alemanha não deve ser bom também para o Brasil - disse. Angra III deve entrar em operação no fim de 2015. Antes do desastre nuclear em Fukushima Daiichi, no Japão, o governo brasileiro ainda estudava a construção de uma nova central nuclear, mas não há local definido. O governo chegou a conduzir um estudo para mapear os locais capazes de receber o empreendimento.” Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/AdvocaciaGarcez Cadastre-se para receber a newsletter da Advocacia Garcez em nosso site: http://www.advocaciagarcez.adv.br |
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terça-feira, 31 de maio de 2011
Governo alemão abrirá mão da energia atômica: “Decisão do governo Merkel não afeta usinas no Brasil” (Fonte: O Globo)
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