terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

“Eurides Mescolotto, da Eletrosul: expansão e integração energética” (Fonte: ABRACE)

Após volta ao segmento de geração, estatal inaugura primeiras usinas e vislumbra participação em projetos de integração com países da vizinhos

O ano de 2011 será marcante para a Eletrosul. Após retomar os investimentos em geração em 2004, a estatal prevê a inauguração das hidrelétricas de Mauá (PR, 361 MW) e Passo São João (RS, 77 MW), além do complexo eólico Cerro Chato (RS, 90 MW) e da pequena central hidrelétrica Barra do Rio Chapéu (SC, 15 MW). Este ano, a estatal investirá R$ 1,179 bilhão em projetos de geração, ante R$ 771 milhões aplicados em 2010. Nesses projetos, a empresa atua em parcerias público-privadas. De acordo com o presidente da Eletrosul, Eurides Mescolotto, a estratégia deve continuar a ser adotada, com a realização de chamadas públicas para atrair parceiros. Para o leilão de fontes alternativas, previsto para o segundo trimestre, os focos da empresa serão eólicas e PCHs.

Nessa nova fase, a Eletrosul pensa em expandir suas fronteiras, não só na área de geração, como no segmento de transmissão. Em 2010, a estatal venceu, em consórcio, o direito de construir e explorar a UHE Teles Pires (MT, 1.820 MW). A empresa possui participação de 24,5% no consórcio, que tem a Neoenergia (50,1%) como majoritária, além de Furnas (24,5%) e Odebrecht (0,9%). Além disso, a Eletrosul será uma das responsáveis pela construção de parte do linhão Porto Velho - Araraquara, que interligará a energia das usinas do Rio Madeira ao Sudeste. A empresa possui participação de 24,5% no consórcio, formado ainda por Abengoa (51%) e Eletronorte (24,5%).

A Eletrosul também pode ter um papel importante de integração energética com países da América do Sul. O primeiro passo pode ser dado com a integração entre Brasil e Uruguai e com a construção de uma hidrelétrica binacional com a Argentina. "Temos uma possibilidade de sermos chamados pela Eletrobras a ajudar a construir a usina binacional no Rio Grande do Sul com a Argentina (...). Assim que a Eletrobras expandir-se por outros países, tenho a impressão de que, em relação ao Mercosul, seremos privilegiados nessa composição", contou Mescolotto, em entrevista exclusiva à Agência CanalEnergia. O executivo disse ainda possui interesse em permanecer na presidência estatal e que aguarda decisão da presidente Dilma Rousseff sobre seu futuro no cargo. Confira abaixo a entrevista com o presidente da Eletrosul, Eurides Mescolotto: 

Agência CanalEnergia - Quais as obras da Eletrosul estão mais adiantadas na área de geração?

Eurides Mescolotto -  Temos em construção 5.880 MW [incluindo parcerias]. Só a participação da Eletrosul, será de 1.553 MW. Todos estão em andamento. Entramos novamente na geração em 2004 e começamos a construção de usinas a partir de 2005. Os destaques hoje são: a UHE Passo São João (77 MW), que estamos construindo no Rio Grande do Sul e que deve entrar em operação até o final deste ano e a PCH em Braço do Norte [Barra do Rio Chapéu (SC,15 MW)]. Em fase de construção e bom ritmo de obras está a UHE São Domingos (MS, 48 MW); temos também a obra do Rio Madeira [Jirau (RO, 3.450 MW)], que também está em ritmo forte com a possibilidade muito grande de entrar em funcionamento antes do prazo. Também para este ano, temos a hidrelétrica de Mauá (PR, 361 MW) e o parque de Santana do Livramento [Cerro Chato (90 MW)].

Agência CanalEnergia - E no segmento de transmissão, quais os destaques?

Eurides Mescolotto - Estamos construindo a maior subestação da Eletrosul, em Porto Velho, que vai receber energia de Santo Antonio (RO, 3.150 MW) e Jirau (RO, 3.450 MW) - uma das maiores subestações do Brasil. Também estamos participando, junto com outros parceiros, da construção do linhão (Porto Velho - Araraquara) - é o maior linhão do mundo em corrente contínua. Também estamos começando essa obra. [Atualmente] Temos 11.300 quilômetros de linhas de transmissão em operação, 23 mil torres e 93.400 quilômetros de cabos.

Agência CanalEnergia - Como será feita a interligação Brasil - Uruguai?

Eurides Mescolotto - Já recebemos o comando para fazer a interligação. Vamos fazer a ligação até a divisa com o Uruguai e a empresa estatal uruguaia de energia fará até a divisa deles. E ali faremos uma conversora que vai poder fazer a transmissão entre Brasil e Uruguai.

Agência CanalEnergia - Quanto a empresa investirá em transmissão em 2011?

Eurides Mescolotto - Já investimos R$ 153 milhões na coletora de Porto Velho e vamos investir mais R$ 69 milhões ainda em 2011. No linhão do Madeira, estamos em parceria e já investimos R$ 2 milhões e vamos investir R$ 113 milhões. O total da obra [do linhão do Madeira] é de R$ 500 milhões.

Agência CanalEnergia - A Eletrosul possui muitos projetos na região Sul, mas também atuará na região Norte. A empresa pretende crescer para outras regiões?

Eurides Mescolotto - Estamos indo conforme somos chamados pela Eletrobras, mas estamos indo nos empreendimentos mais estruturantes. A nossa vocação é de sermos fronteiriços. Temos uma vocação importante em relação aos países do Mercosul. Temos uma possibilidade de sermos chamados pela Eletrobras a ajudar a construir a usina binacional no Rio Grande do Sul com a Argentina e temos esta possibilidade grande de trabalhar ali. E, assim que a Eletrobras expandir-se por outros países, tenho a impressão de que, em relação ao Mercosul, seremos privilegiados nessa composição porque fazemos fronteira no Sul do país e temos muita relação com nossos vizinhos.

Agência CanalEnergia - Em 2010, a Eletrosul saiu vencedora, em consórcio, da disputa pela UHE Teles Pires. Qual a expectativa para esse empreendimento?

Eurides Mescolotto - As obras começarão esse ano e ela está prevista para entrar em operação em 2015. É uma obra importante, que tem 1.800 MW e é estruturante para o fornecimento de energia do país. Ainda falta assinar a concessão. Já foi aprovada pela Aneel, mas ainda não foi marcada a data de assinatura. Assim que for assinada a concessão, vamos poder obter a licença do canteiro de obras e começar a mobilizar a obra no Mato Grosso.

Agência CanalEnergia - Qual a expectativa para essa assinatura?

Eurides Mescolotto - A concessão deve sair rapidamente. Acho que até o final de fevereiro deve sair a concessão. E aí, sem dúvidas, no primeiro semestre mobilizaremos a obra.

Agência CanalEnergia - Existe a possibilidade de antecipar esse projeto, a exemplo de Jirau?

Eurides Mescolotto - Essa possibilidade existe e vamos trabalhar para que ela aconteça. É claro que não sabemos ainda o que vamos encontrar, mas a possibilidade de antecipar a entrada de Teles Pires é muito forte. Estamos otimistas em relação a isso.

Agência CanalEnergia - Qual a visão da empresa para os leilões de 2011?

Eurides Mescolotto - Uma modalidade que deu muito certo é a parceria público-privada. Consideramos que isso é muito importante e vamos continuar fazendo. Já para o leilão de abril de energias alternativas vamos fazer chamadas públicas e ver a possibilidade de ver esses empreendimentos. Vamos entrar tanto com eólicas como com PCHs. Vamos fazer chamada pública para o próximo leilão, previsto para abril. Vamos continuar com essa metodologia que tem dado certo. Vamos participar de todas as possibilidades. Claro que quem nos escala para so grandes projetos é nossa holding.

Agência CanalEnergia - Como está o projeto de placas solares?

Eurides Mescolotto - Vamos fazer projeto piloto em nossa sede, cobrindo-a com placas fotovoltaicas. Já temos um piloto num estacionamento que nós fizemos como experimento e agora vamos fazer a sede [da Eletrosul]. É um investimento em torno de R$ 10 milhões para colocar a energia solar na sede da empresa como um protótipo. No mês de março, vamos receber um financiamento [de quase 100%] do banco KfW, da Alemanha, para fazermos nosso telhado, que será a ponta de lança para fazermos outras possibilidades de energia solar. Praticamente tudo será financiado pelo banco. É um financiamento muito importante porque é um financiamento a fundo perdido. Vamos cobrir os gastos [consumo] da empresa. Devemos produzir aproximadamente 1 MW.

Agência CanalEnergia - Quais os prejuízos que a empresa teve nos últimos anos por conta das condições climáticas desfavoráveis?

Eurides Mescolotto - Aconteceram vários problemas quando houve aquelas grandes enxurradas nos anos de 2009 e 2010. Tivemos problemas com torres de transmissão, tivemos que trocar algumas e refazer outras. Temos trabalhado para que as manutenções aconteçam de maneira adequada e a troca de equipamentos estão sempre acontecendo.

Agência CanalEnergia - O senhor está na Eletrosul desde abril de 2008. Já houve uma conversa em relação ao seu futuro na empresa?

Eurides Mescolotto - Depende da avaliação do ministro e da presidente Dilma. Eles estão vendo. Das estatais [subsidiárias], só foi definida a presidência de Furnas. Estamos esperando ver quais as orientações que vão vir. Estou à disposição.

Agência CanalEnergia - Quais os desafios da Eletrosul para 2011?


Eurides Mescolotto - Esse ano será um ano muito interessante. Vamos colocar em atividade duas usinas. Será um marco importante a volta da Eletrosul para geração. Temos a nossa menina dos olhos, na eólica de Santana do Livramento [Cerro Chato]. Além de poder colocá-la gerando, queremos ampliar o parque, que tem possibilidades de ampliação e, com isso, nos garantirá vários feitos importantes. Se considerarmos todo aquele planalto e incluir o Uruguai é uma possibilidade de gerar energia eólica do tamanho de Itaipu. É claro, que teríamos que entrar num país vizinho. Mas, ainda no Rio Grande do Sul, temos muitas possibilidades de crescimento, bons ventos e queremos fazer os parques conforme pudermos trabalhar. [Energia Eólica] já faz parte do nosso portfólio de maneira forte. Estamos com muita expectativa que vamos conseguir ter felizes momentos em 2011.


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