“Autor(es): Caio Junqueira | De Brasília |
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Com o apoio da ala mais governista do partido, o ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), articula a candidatura do senador Benedito de Lira (AL) à sucessão do atual presidente, Francisco Dornelles (RJ), que trabalha por sua reeleição. O objetivo do ministro é assegurar ao Palácio do Planalto que o partido é aliado preferencial do PT nas eleições municipais de 2012 e, principalmente, na de 2014. Tenta, assim, reverter a imagem de agremiação dividida que ficou das eleições de 2010, quando a legenda optou pela neutralidade na disputa presidencial entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Dornelles, inclusive, foi cotado para ser vice do tucano. Após a vitória da petista, contudo, declarou apoio oficial da sigla ao governo. É na quebra desse posicionamento que se fundamenta a articulação para retirar Dornelles do cargo. "O partido sempre foi governo, desde o início do governo Lula. Hoje também é governo e é evidente que precisa fortalecer esse laço, já que estamos servidos neste governo com um grande ministério. O partido tem que ter um lado, não pode ficar esperando ver quem ganha a eleição. E se somos aliados hoje, vamos contribuir para fazermos o maior número possível de alianças com o governo em 2012 e estarmos juntos na reeleição da Dilma em 2014", disse Lira ao Valor. Ele contou ainda que ele, Negromonte e a maioria do partido defenderam, em 2010, a aliança formal com Dilma, mas que a legenda optou por não seguir esse caminho. "Isso realmente não agradou a um segmento grande do partido." O principal triunfo dos governistas do PP que tentam impedir a recondução de Dornelles é a vedação expressa da reeleição no estatuto do partido. O artigo 132 estabelece que "é vedada a reeleição do presidente, primeiro-vice, secretário-geral e tesoureiro-geral da Comissão Executiva Nacional". Uma brecha foi aberta na primeira reeleição de Dornelles e incluída no artigo 135, que prevê que a regra "não se aplica a eleição da Comissão Executiva Nacional - biênio (2009-2011)". São esses dispositivos que Negromonte e Lira vão colocar na mesa para negociar quem comandará o partido nos próximos dois anos, já que qualquer recondução de Dornelles necessariamente terá de passar por uma alteração no estatuto que, por sua vez, precisa da anuência do grupo do ministro. Essa ala é composta pela maioria dos 41 deputados do partido, uma vez que boa parte deles foi liderado na Câmara por Negromonte entre 2006 e 2010. Lira também encontra respaldo aí, pois foi deputado federal por três mandatos antes de se eleger senador em 2010. Em favor de Dornelles estão nomes mais históricos da legenda, como Simão Sessim (RJ). O partido tem a quarta maior bancada da Câmara, atrás de PT (88), PMDB (77), PSDB (52) e DEM (44). Em 2008, foi a quarta legenda com o maior número de prefeitos eleitos: 552. Ficou atrás do PMDB (1207), PSDB (798) e PT (565). O partido é mais forte no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia, muito embora as preferências por um ou outro nome para a presidência nacional se relacionem mais à opções individuais do que estaduais. Se a manutenção do atual presidente for o caminho, a moeda de troca que Lira negociará será a alteração de nomes do diretório e da executiva nacional. "Precisa haver renovação no diretório porque está na mesma há quatro anos. O grupo atual quer uma renovação sem alteração de quadros e isso não concordamos. Para continuar crescendo, o partido precisa ter em seu comando quem tem voto, para poder ajudar os prefeitos na próxima eleição", disse Lira, que defende basicamente a substituição dos atuais dirigentes sem mandato pelos que têm mandato. Dos 20 integrantes da Executiva Nacional do PP, 11 estão sem mandato. Na outra frente, Dornelles se apoia em sua biografia e no trabalho interno que fez nos últimos quatro anos para captar apoios. "A história do PP tem dois momentos: antes e depois do Dornelles. Ele colocou ordem no partido, tirou-o das páginas policiais. Não vejo nenhum nome hoje no partido melhor do que o dele", disse ao Valor Márcio Reinaldo (PP-MG), deputado federal pela sigla desde 1995. "A bancada, sensata, vai ter que pensar bem, porque não está em jogo uma aventura, mas a manutenção de uma linha positiva e de crescimento do PP." Ele se refere às medidas saneadoras que Dornelles implementou depois que assumiu a sigla, em 2007, como retirada de celulares de assessores em todo o país e limitações á realizações de eventos partidários nos Estados que acabavam colocando o partido no vermelho. O episódio mais desgastante do PP pré-Dornelles, contudo, foi a participação na crise do mensalão, a mais grave dos oito anos da era Lula. A Procuradoria Geral da República apontou que integrantes do PP receberam irregularmente, em 2003 e 2004, R$ 4,1 milhões para apoiar o governo no Congresso Nacional. Destes integrantes, quatro se tornaram réus no Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro: João Cláudio Genu, ex-assessor da liderança do PP; José Janene, primeiro-tesoureiro do PP, já falecido; e o então presidente, deputado Pedro Corrêa (PE), e o líder da bancada, deputado Pedro Henry (MT). O primeiro foi cassado pela Câmara em 2006, o segundo, absolvido. Por essa razão, os aliados de Dornelles nessa prévia da disputa interna da convenção afirmam que sua eventual saída da presidência poderá acarretar o retorno de parte desse grupo. O melhor sinal seria que dois deputados ligados a Corrêa são grande entusiastas de Lira: Aline Corrêa (SP), sua filha, e Roberto Teixeira (PE), seu genro. Também atua por ele Henry, eleito deputado federal mas, pego pela lei Ficha Limpa, foi nomeado secretário de Saúde pelo governador é do Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB). Com a perda da validade da lei para as eleições de 2010, já pensa em seu retorno à Câmara.” |
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