"Autor(es): Adriana Nicacio |
Isto é - 04/01/2011 |
A falta de investimento em educação básica e formação profissional está cobrando seu preço no momento em que o País mais precisa de trabalhadores qualificadosO longo e penoso processo de sucateamento que vitimou a educação pública brasileira no decorrer das últimas décadas começa a mostrar seus nefastos efeitos para o Brasil. Exatamente agora, quando as taxas de expansão do Produto Interno Bruto quebram recordes históricos e o volume de criação de empregos surpreende até mesmo os empresários mais otimistas, o País passa a se deparar com um problema há muito anunciado: a falta de mão de obra qualificada para sustentar um ritmo de crescimento acelerado e sustentável. Não importa o setor, não importa o nível de qualificação exigido e nem mesmo a região. O problema é crônico e atinge de forma quase homogênea as diferentes regiões. Pior: tende a agravar-se pelos próximos anos sem condições de acompanhar o ritmo de expansão do PIB, previsto por todos, governo, empresários e analistas econômicos. Numa pesquisa realizada pela IBM no segundo semestre deste ano, presidentes brasileiros de grandes empresas apontaram a falta de profissionais qualificados como um dos principais entraves ao crescimento do seu ramo de atividade nos próximos cinco anos. Preocupado com os prejuízos iminentes, o Ministério do Trabalho conseguiu ampliar em R$ 300 milhões os recursos para a qualificação profissional. Mais de 400 mil trabalhadores participaram de cursos oferecidos pelo governo. Mas, nas palavras do próprio ministro, Carlos Lupi, isso está longe de ser o suficiente para resolver um problema que só tende a se agravar. “Eu sei que não é. O Brasil tem anualmente necessidade de qualificar 4,5 milhões de pessoas, sem contar os que deveriam ser requalificados”, diz Lupi. Não é só na formação profissional que o Brasil amarga uma situação desastrosa. Por falta histórica de investimentos e valorização do ensino público, as crianças e adolescentes de hoje estão aprendendo muito menos do que deveriam. A última pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos comprovou isso. O estudo, realizado com estudantes de 15 anos de idade, mostrou que o Brasil avançou, mas ainda amarga a 53a posição entre os 65 países pesquisados. O avanço só ocorreu porque os estudantes das escolas privadas, a minoria no Brasil, saíram-se muito melhor do que no último levantamento, realizado há três anos. De acordo com a pesquisa, 49% dos estudantes brasileiros ficaram no mais baixo grau de compreensão na leitura de textos básicos e quase 70% deles não passaram no nível básico em conhecimentos matemáticos. Consciente da limitação, o setor industrial trata de investir em seus quadros para não ver os planos de crescimento serem abortados por falta de profissionais. Nos últimos três anos, foram investidos cerca de R$ 10 bilhões no Programa Educação para a Nova Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Sesi e o Senai. Segundo a CNI, o trabalhador médio brasileiro tem seis anos de escolaridade contra 12 dos norte-americanos e europeus. Esse descompasso, por si só, já é um complicador. Ocorre que, apesar do otimismo, não se previa que o Brasil fosse crescer tanto em 2010 nem o crescimento médio de 5% nos próximos anos. Tudo isso, é claro, exige e vai exigir mais mão de obra. A Petrobras, por exemplo, subestimou a quantidade de trabalhadores de que necessitaria para sustentar sua expansão até 2013. Sabe agora que precisará de mais cinco mil empregados acima da previsão inicial. Suas ações no Complexo Petroquímico do Rio e na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, vão exigir pelo menos 212 mil pessoas capacitadas até 2014. A segunda maior petrolífera do mundo se associou ao Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional do Petróleo) para cumprir a meta. De acordo com o coordenador do Prominp na Petrobras, José Renato de Almeida, a empresa licitou a construção de 28 novos equipamentos para dar seguimento a seu plano agressivo de exploração do pré-sal. “Vamos precisar de operadores. Mas eles devem ter treinamento mais completo. É como um piloto de avião”, diz Almeida. Trata-se, porém, de ações localizadas num país com deficiências profundas no sistema educacional e uma massa de oito milhões de desempregados. Assim como as vantagens, os problemas brasileiros não passam despercebidos pelo resto do mundo. Segundo um estudo do Banco Mundial sobre os impactos do conhecimento e da inovação na competitividade brasileira, o País perderá oportunidades na expansão da economia por “falta de investimento em educação e qualificação profissional”. As pesquisas internas também não são alentadoras. Em novembro, depois de entrevistar 76 grandes empresas, a Fundação Dom Cabral descobriu que a construção civil, indústria naval, automobilística, ferroviária, moveleira, metalurgia, siderurgia e no setor de transportes e de serviços se debatem com a falta de mão de obra qualificada. “É muito mais caro para uma empresa se instalar num país onde terá de captar funcionários no Exterior”, diz Jorge Cunha, diretor financeiro da BDO, quinta maior empresa de consultoria do mundo." |
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011
"O risco do apagão da mão de obra" (Fonte: Istoé)
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