"A alta do dólar vai pressionar os reajustes das contas de luz em 2012, com índices entre 8% e 10%, turbinados pela correção dos pagamentos feitos pela energia elétrica de Itaipu. Também coloca o governo em mais um dilema: se der prioridade à volta da inflação para o centro da meta, segurando aumentos nas refinarias, aprofundará a já considerável defasagem dos preços de derivados de petróleo em relação ao mercado internacional, prejudicando o caixa e os acionistas da Petrobras.
Os efeitos da desvalorização do real nas últimas semanas foram medidos pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a pedido do Valor, com uma simulação baseada em dois valores diferentes da moeda americana: a R$ 1,60 e a R$ 1,85. Com isso, a defasagem dos preços cobrados pela Petrobras aumenta de 10,1% para 22,3%, no caso da gasolina, e de 9,5% para 21,7%, para o óleo diesel. A última mudança dos valores nas refinarias foi em junho de 2009. A defasagem em relação aos preços internacionais só não ficará maior porque a queda do petróleo no mercado internacional compensa parcialmente a alta do dólar.
"Essa desvalorização do real afetará ainda mais as contas da Petrobras", diz Adriano Pires, diretor do CBIE. O governo e a estatal travaram um duelo nos bastidores sobre a necessidade de aumento dos combustíveis. Sem reajustes no horizonte, a empresa precisou frear seus investimentos em refino, no plano de negócios 2011-2015. "Até quando o governo vai ficar subsidiando o transporte individual e sangrando o caixa da Petrobras?", pergunta Pires, acrescentando que o valor das ações já tem precificado a "intervenção política".
No reajuste anual das distribuidoras, sob responsabilidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), não há margem de manobra. A desvalorização do real é repassada integralmente às tarifas, conforme pedido das empresas e avaliação dos números pelo órgão regulador. O reajuste é dividido em duas partes. Na "parcela A", que reflete os custos com a compra de energia e representa 70% do reajuste, há forte peso da usina binacional de Itaipu. Na "parcela B", que corresponde aos outros 30% da correção anual, o IGP-M tem importante reflexo. Tudo somado, Pires afirma que "é possível pensar em reajustes em torno de 8% a 10%".
Além da alta do IGP-M, haverá impacto direto da desvalorização do real no valor da energia comprada de Itaipu, que é cotada em dólar. As distribuidoras das regiões Sul e Sudeste têm 20%, em média, de sua energia proveniente da usina binacional. Mas a proporção varia conforme a empresa. De qualquer forma, com o dólar subindo de R$ 1,60 para R$ 1,85, apenas a atualização da tarifa de Itaipu exercerá uma pressão de dois a três pontos percentuais no reajuste das empresas.
A Abradee, associação das distribuidoras de energia elétrica, diz que ainda não tem estimativas sobre o impacto do câmbio nos reajustes de 2012. "Mas essa linha de raciocínio está correta", reconhece Nelson Fonseca Leite, presidente da entidade. Ele faz duas ponderações. Em primeiro lugar, "é preciso ver se a alta do dólar veio para ficar ou é temporária". Segundo, os reajustes devem ser amortecidos pela aplicação do "fator X", que varia para cada empresa. O fator X é um indicador que capta os ganhos de produtividade e que se reverte em benefício dos consumidores.
De qualquer forma, espera-se que os aumentos das contas de luz fiquem acima dos reajustes de 2011. Embora os índices variem muito conforme a empresa, as tarifas de energia elétrica terão alta de 2,8% em média, segundo o último relatório de inflação do Banco Central. No último boletim semanal do BC, analistas do mercado financeiro previam alta do IGP-M de 5,04% em 2012. Muitos ainda não alteraram suas estimativas, à espera de uma acomodação da taxa de câmbio. "Ela ainda está muito volátil", explica Thaís Zara, da Rosenberg & Associados. No passado, quando houve fortes desvalorizações do real, a Aneel acertou com as distribuidoras o parcelamento dos reajustes tarifários, como forma de aliviar um pouco o aumento para os consumidores. "Não acredito que o governo faça isso de novo", diz Adriano Pires, lembrando que mesmo reajustes perto de 10% estariam longe de outras situações, quando ultrapassaram a barreira de 20%."
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