quinta-feira, 19 de maio de 2011

“Acionistas e governo travam queda de braço na Petrobras” (Fonte: Valor Econômico)


“Autor(es): Cláudia Schüffner | Do Rio 

As dúvidas em torno dos projetos incluídos no novo plano de investimentos da Petrobras, com horizonte até 2015, sugerem a existência de algum grau de divergência entre o conselho de administração e a direção da companhia. E também cristalizam uma queda de braço entre o governo e o mercado financeiro, que há muito tempo vem reclamando da maior intervenção de Brasília na estatal.
Não é crível imaginar que um conselho que tem dois homens fortes do calibre dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Casa Civil, Antonio Palocci, tenha tomado conhecimento do plano de investimentos da Petrobras apenas na sexta-feira. E que, surpreendidos, eles tenham pedido mais informações e análises para decidir pela aprovação ou não desses investimentos.
O plano atual, para o período 2010-2014, é de US$ 224 bilhões, o que implica uma média anual de US$ 45 bilhões por ano. A Petrobras só conseguiu alcançar essa média no ano passado por causa do câmbio. Diante da escalada de custos da indústria e da quantidade de projetos que a estatal colocou em marcha simultaneamente, o mercado calculava que a atualização do plano estratégico para até 2015 ficaria entre US$ 260 e US$ 265 bilhões. É sobre esse valor que se estaria estudando cortes que reconduzam os investimentos ao patamar anual anterior. O mercado gostou e as ações começaram a reagir. Mas ontem a estatal disse, em nota, que as notícias seriam "mera especulação".
Nas palavras do diretor financeiro, Almir Barbassa, a empresa vai "reexaminar e prosseguir com estudos de sensibilidade", sendo que um deles "incorpora a redução do investimento".
Mas essa não é a única questão a ser examinada, frisou o executivo. Foi um banho de água fria nas expectativas.
Até o momento, o único plano novo que a estatal divulgou é o de início da produção e escoamento de petróleo do pré-sal da bacia de Santos, o Plansal.
Serão US$ 73 bilhões até 2015, dos quais US$ 54 bilhões realizados diretamente pela Petrobras e o restante pelos sócios. Tudo indica que a única área não sujeita a raios e trovoadas é o pré-sal da bacia de Santos, o que significa que até o pré-sal das bacias de Campos e Espírito Santo podem sofrer atrasos. O exercício que se fará até a divulgação do plano estratégico é apostar quais áreas poderão ser cortadas ou postergadas.
O novo plano terá, forçosamente, que incluir as áreas do pré-sal onde estão os 5 bilhões de barris de petróleo compradas no regime de cessão onerosa durante a capitalização. Quanto mais rápido a Petrobras produzir nessa parte do pré-sal, principalmente Franco, mais "barato" custará cada barril de óleo.
No conjunto, a companhia está diante de projetos cada vez mais complexos e custosos em um momento em que a inflação volta a ser um problema para o governo. Desde 2005 a Petrobras não muda o preço da gasolina produzida nas suas refinarias, que continua sendo R$ 1,05 por litro, antes dos impostos. Em 2008, quando o barril de petróleo foi a US$ 147, o governo reduziu a Cide, permitindo um fôlego, já que a empresa passou a pagar menos imposto.
O controle aumentou com o risco de uma contaminação inflacionária na economia. Este ano a Petrobras teve que importar diesel e gasolina pagando mais caro do que o valor de revenda no mercado nacional. No ano passado ela também importou, mas o preço no Brasil estava mais alto, ou seja, ela teve lucro ou pelo menos empatou, ao contrário de agora. Os efeitos no resultado não demoraram. Nos últimos dois anos a Petrobras vem investindo mais do que ela ganha com suas atividades. Em 2010, ela teve uma geração de caixa de US$ 25 bilhões e investiu US$ 45 bilhões. Em 2009, a diferença foi coberta com empréstimos e no ano passado com novas dívidas e o aumento de capital.
O dinheiro que entrou deveria dar tranquilidade para que a companhia começasse a produzir petróleo que, no frigir dos ovos, traria o retorno do capital investido. Mas não foi isso que se viu. A Petrobras acelerou projetos distintos. Na área de refino, o aumento do consumo de combustíveis consolidou a intenção de construir as refinarias (e algumas estão atrasadas em relação aos projetos originais) para atender o mercado doméstico e evitar o retorno dos rombos na balança comercial. A companhia também tem um plano arrojado de investimento em etanol e biodiesel, geração de energia termelétrica e um novo terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL), só para mencionar as áreas fora da exploração e produção.
A política escamoteada de controlar preços dos combustíveis como instrumento de política macroeconômica não colabora para reduzir o risco político da Petrobras, ao contrário. Não foram de nenhuma ajuda as recentes declarações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, antecipando em um dia os percentuais de redução dos preços da gasolina e diesel na rede de postos da BR Distribuidora. Se o novo plano trouxer cortes de investimento sem liberar os preços dos combustíveis da Petrobras, o mau humor deve continuar.
Ontem, as ações preferenciais da companhia caíram 1,23%, depois de terem acumulado alta de 3,7% na segunda-feira e na terça. No caso das ordinárias, a baixa foi de 1,46%, devolvendo parte dos ganhos de 3,98% acumulado nos dois pregões anteriores.”


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