“Autor(es): agência o globo: Jailton de Carvalho |
BRASÍLIA. A supervisora do Núcleo de Acervos do Regime Militar do Arquivo Nacional, Vivien Ishaq, afirmou ontem que é impressionante o número de pessoas espionadas pelo serviço de inteligência da Aeronáutica durante a ditadura militar. Ela chegou a esta conclusão depois de analisar parte dos 50 mil documentos repassados pela Aeronáutica ao Arquivo Nacional ano passado. Os documentos estão, desde ontem, liberados à pesquisa. Parte dos papéis - que dizem respeito à vida pessoal de ex-militantes políticos - só pode ser acessada por eles ou por pessoas devidamente autorizadas pelos investigados. - A quantidade de relatórios e de infiltrados (entre os movimentos de esquerda) é muito grande. Sobre o que você imaginar tem relatório. Tem gente que diz: "Achei que fazia as coisas na clandestinidade. Agora vejo que estava sendo monitorado" - afirmou Vivien. Entre os papéis estão relatos sobre a Guerrilha do Araguaia, organizações como a VAR Palmares e Colina, que tiveram a participação da presidente Dilma Rousseff, e até sobre o Exército Vermelho japonês. Num vasto painel da história da ditadura, os arquivos abrangem praticamente todos os episódios relacionados à esquerda e à repressão, no período entre a década de 60 e o início dos anos 90. Um dos documentos aponta o Araguaia como área de potencial foco guerrilheiro mesmo antes da descoberta da guerrilha do PCdoB na região. Entre os registros também constam comentários sobre necessidade de se "neutralizar" alguns militantes de esquerda mais atuantes. Para Vivien, o termo pode ser interpretado como uma clara ordem para matar. Segundo ela, agora é fácil conferir se as ordens foram mesmo cumpridas. Bastaria confrontar as informações do relatório com o destino conhecido de cada militante mencionado nos registros internos. Nos novos arquivos, estão ainda atas das reuniões do Conselho de Segurança Nacional. Para Vivien, os papéis indicam o grau de conhecimento e comprometimento de parte da cúpula militar com a repressão política. Até hoje alguns militares sustentam a versão de que os presidentes daquele período desconheciam o grau de violência da repressão contra adversários do regime. A tortura seria obra clandestina de setores da extrema direita. Os papéis foram recebidos pelo Arquivo Nacional em fevereiro do ano passado. Os documentos foram digitalizados e devidamente registrados, antes de liberados à consulta pública. A massa de documentos chegou ao Arquivo a partir de uma ordem expedida pela Casa Civil em 2005, quando a área era chefiada pela presidente Dilma. Toda estrutura do Estado foi orientada a fazer levantamento sobre eventuais arquivos produzidos durante a ditadura. A partir daí, os documentos deveriam ser repassados ao Arquivo Nacional. A Aeronáutica foi o primeiro órgão a cumprir as ordens. O Arquivo Nacional aguarda agora a contribuição de outras áreas do governo, entre elas o Ministério da Educação.” |
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