quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Discriminação em decadência (Fonte: Correio Braziliense)

"Pela primeira vez, em 19 anos, setembro registrou a menor diferença - 0,8 ponto percentual - na taxa de desemprego entre negros e não negros. No geral, o índice ficou em 12,5%NotíciaGráfico
 O mercado de trabalho no Distrito Federal mostrou-se mais justo do que nunca com a população negra em setembro último. Pela primeira vez desde o início da série histórica da Pesquisa Emprego e Desemprego no DF (PED-DF), em 1992, a taxa de desemprego foi quase a mesma para negros e não negros. O primeiro grupo registrou 12,8% de desocupação e o segundo, 12%. Na década de 1990, o índice de desempregados negros chegava a mais de 20%. No início dos anos 2000, a situação melhorou, mas a desigualdade ainda era alta. A diferença de 0,8 ponto percentual entre as duas taxas do mês passado é a menor em 19 anos.
O desemprego geral em setembro ficou em 12,5%, segundo a PED-DF realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan). O índice caiu frente a igual período do ano passado, quando estava em 13%. Entretanto, teve pequena variação de 0,2 ponto percentual na comparação com agosto deste ano. Em números absolutos, 3 mil passaram a fazer parte do contingente de desempregados, atualmente composto de 176 mil pessoas.
Segundo Daniel Biagioni, sociólogo e analista do Dieese, a leve oscilação mensal da taxa de desemprego indica estabilidade. "Não é um dado negativo. O desemprego vem caindo no DF desde maio e agora ficou estável pelo segundo mês consecutivo", destacou.
Estabilidade
Biagioni lembra que o comportamento da taxa local acompanhou o das sete regiões metropolitanas analisadas pela PED — além do Distrito Federal, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Salvador e São Paulo integram a pesquisa. Juntas, as áreas tiveram desemprego de 10,6% em setembro, frente a 10,9% em agosto. É o sexto mês em que a média regional apresenta estabilidade.
Para pessoas como a servidora pública Andrea Henrique Campos, 35 anos, a notícia de que diminuiu a desigualdade entre negros e não negros na busca por emprego representa uma vitória. Andrea, que ingressou no mercado aos 17 anos, deparou-se mais de uma vez com a discriminação. "Os shoppings eram um dos lugares onde pessoas negras não eram bem-vindas. Uma vez, fui entregar currículo em uma loja com uma colega. Eu já tinha trabalhado com vendas, ela não. Mas ela, que era branca e foi selecionada."
Formada na área de tecnologia de redes e cursando uma nova gradução em segurança da informação, a jovem diz que sempre teve que trabalhar com afinco redobrado para conquistar cargos e promoções. Ela acredita que hoje o ambiente está menos hostil do que no passado. "Acredito que muita coisa mudou por conta do avanço da legislação. O preconceito existe, mas de maneira menos explícita", comenta.
Para a especialista em carreira profissional Carmem Cavalcante, da Rhaiz Soluções em Recursos Humanos, dois fatores contribuem para que a população negra tenha acesso dificultado ao mercado de trabalho. Um é o preconceito em si. O outro, a diferença histórica de renda e grau de escolaridade frente aos não negros. "A situação está melhorando, mas há muito que caminhar. No setor varejista, por exemplo, há uma certa discriminação. Trabalhamos com esses contratantes no sentido de mostrar que a diversidade enriquece a empresa, pois o mercado consumidor também é diverso", afirma.
Convocados do Qualificopa
Está disponível para consulta no site da Secretaria de Trabalho (www.setrab.df.gov.br) a lista de 1,1 mil convocados para integrarem a segunda turma do Qualificopa, programa do Governo do Distrito Federal (GDF) que objetiva preparar os trabalhadores para atender à demanda da Copa do Mundo de 2014. Para montar o projeto, o setor privado foi consultado sobre as principais necessidades do mercado local. Camareiro e garçom são alguns dos cursos oferecidos. Os que estiverem na lista divulgada pela Setrab começarão a ter aulas na próxima segunda, 31. Esse também é o dia da formatura da primeira turma, composta de 800 alunos. Os inscritos que ainda não foram chamados devem aguardar as próximas turmas. O Qualificopa pretende capacitar 32 mil pessoas."

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