sexta-feira, 3 de junho de 2011

"Em Sergipe, greve dos terceirizados da Oi chega ao 31º dia sem abertura para negociações" (Fonte: CUT-SE)

"Categoria reivindica que RM Telecom cumpra o acordo coletivo firmado entre a empresa antiga (MM) e os trabalhadores

Nesta sexta-feira, 3 de junho, os trabalhadores do serviço de telecomunicações em Sergipe, da empresa RM Telecom, terceirizada da Oi, chegam ao 31º dia de greve. A categoria está na luta por melhorias salariais e de trabalho, e conta com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores das Telecomunicações em Sergipe (Sinttel) e da Central Única dos Trabalhadores de Sergipe (CUT-SE). As negociações, no entanto, não estão existindo. Por isso, todos os dias, os trabalhadores estão reunidos em frente à sede da Oi Atende, na Rua Lagarto, Centro de Aracaju, buscando mobilizar e conscientizar a sociedade sobre o que está acontecendo.

A principal reivindicação é para que a empresa RM cumpra o acordo coletivo firmado com a empresa antiga, MM, e os trabalhadores. A categoria alega que quando a RM assumiu, em março de 2010, ela firmou uma carta-compromisso com a categoria, com o Sindicato, com a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) e com a própria empresa contratante, a Oi. Nessa combinação estava acordado que o salário, de R$541, passaria para R$575 em março de 2010, e R$622 em março deste ano. A RM, no entanto, não respeitou o que estava pactuado.

O instalador da RM Telecom, Luiz José Chaves, trabalha há 11 anos no ramo e diz que os trabalhadores estão sendo desvalorizados, humilhados e assediados pela empresa. “A RM não honrou com os compromissos firmados. Quando ela assumiu o comando, em março de 2010, ela assinou as nossas carteiras de trabalho com o salário de R$545 e até hoje não deu nenhum sinal de que isso iria melhorar. Agora que nós paralisamos, a RM ofereceu o reajuste do ano passado. Só que agora, esse valor já está defasado. Completamos um mês em greve, mas, infelizmente, as negociações não estão existindo. É preciso que a RM ou a própria Oi compreenda a necessidade de se pagar um salário justo e digno aos trabalhadores”, declarou o instalador Luiz.

Na última terça-feira, 31 de maio, a categoria participou de uma reunião com a Delegacia Regional do Trabalho (DRT), mas o resultado não mostrou avanços. “A RM continua oferecendo R$579, e nós pedimos R$700. Além disso, pedimos outras questões que não estão sendo atendidas, como o aumento do valor do tiquet alimentação de R$7,36 para R$10. Eles oferecem R$7,62. E o aumento no valor do aluguel do carro do trabalhador, que atualmente é de R$700 para carros 0Km, R$514 para carros até 2005, e R$466, para carros abaixo do ano 2005”, afirmou Luiz José Chaves.

A categoria terá uma nova reunião com a DRT, na próxima terça-feira, 7 de junho, para discutir a se há possibilidade de conciliação. Os trabalhadores pretendem formalizar denúncias de assédio, e de que a RM está contratando funcionários para repor os que estão em greve. “Nossa greve foi declarada legal, por isso a empresa não pode contratar, no entanto ela está. E essa é mais uma das formas que a RM utiliza para pressionar os trabalhadores. Instaladores, cabistas e distribuidores em geral da RM Telecom, terceirizados da Oi, trabalham com um carga horária de mais de oito horas por dia. Perto do final da semana o supervisor chega e diz que no sábado e domingo é 100% do pessoal trabalhando e pronto. Nós reivindicamos, mas a empresa assedia os funcionários e diz que quem não for trabalhar vai perder o emprego. Então, praticamente, toda semana, de domingo a domingo, nós estamos trabalhando. E a RM não repassa as horas extras como devia ser. É por conta dessa desvalorização, dessa pressão e assédio que nós recebemos no trabalho que estamos na luta, em estado de greve”, assegurou Luiz.

Assédio no trabalho
Os trabalhadores em telecomunicações em greve informaram que apenas 30% da categoria está mobilizada. Isso por conta do assédio que eles vêm recebendo dos supervisores da empresa RM. “Os supervisores estão fazendo um trabalho muito intenso de pressionar os trabalhadores. Eles afirmam que a empresa não vai dar nada, e que se eles (os trabalhadores) entrarem em greve junto conosco, eles vão ser demitidos e vão perder o emprego. Os supervisores pressionam psicologicamente o trabalhador para que ele não pare de trabalhar. Quem está em greve são os veteranos, que trabalham no setor a mais de 10, 15 anos, e que resolveram dar um basta, porque o trabalho é muito, o salário está sendo pouco, e a humilhação está demais”, relatou o instalador e reparador de linhas telefônicas Gilmar Santos da Silva.

A situação de assédio moral se agrava, quando se observa que a categoria dos trabalhadores em telecomunicações está há mais de três anos sem aumento salarial. “Para nós, que trabalhamos mais de 8h por dia, nos finais de semana, com um serviço pesado e perigoso, debaixo de chuva ou de sol, subindo em postes de alta tensão e em escadas, esse se torna um serviço arriscado demais para receber um salário tão baixo. Não pode ser dessa maneira, quando a empresa quer ela dá uma folga para a gente, quando ela quer, aumenta ou diminui os nossos salários. Vale ressaltar que todos nós estamos lutando por algo melhor. A empresa tem lucrado bastante nesse ramo de telecomunicações, mas quer pagar pouco para os seus trabalhadores. O assédio e as ameaças sempre existiram, e agora estão cada dia piores. Eles dizem que nós não iremos receber nossos salários, que nós vamos perder os nossos empregos, só que isso não pode acontecer. A nossa greve é legal, e ninguém está aqui querendo prejudicar a empresa. Estamos todos em busca de valorização profissional e melhores condições de trabalho. Todos os funcionários que estão paralisados são grandes profissionais e trabalham nesse ramo a mais de 15 anos. São qualificados e estão preparados para atender qualquer demanda. A empresa precisa se conscientizar que nós precisamos receber um salário mais digno e de acordo com o nosso trabalho”, pontuou Gilmar Santos da Silva.

Oi: campeã em lucros e reclamações
O setor de telecomunicações, o qual está incluída a Oi, é um dos que mais cresce no país. Após a compra da Brasil Telecom, a OI se tornou a principal provedora de serviços de telecomunicações no Brasil, oferecendo telefonia móvel, fixa, transmissão de dados e banda larga e TV por assinatura.

Apenas nos serviços de telefonia móvel, a Oi atingiu uma receita bruta de R$ 11,2 bilhões em 2010, 13% a mais que em 2009. A base de clientes da companhia na telefonia móvel apresentou maior porcentual de crescimento no País, chegando a 20,4%, contra 15,5% da média nacional. Em termos de receita media por usuário, a Oi registrou uma alta de 4,1%, atingindo um valor anual de R$ 22,6, ante R$ 23,5 somente do quarto trimestre.

No entanto, os lucros alcançados pela empresa não se revertem em ganhos salariais para os trabalhadores do setor. “A gente sempre tem a esperança de que o tratamento dado ao trabalhador possa melhorar, mas o que nós recebemos são só cortes e mais cortes, melhorias trabalhistas não vêm de maneira nenhuma. A RM e a Oi só visam o lucro. Fala-se em participação nos lucros. Isso eu posso dizer com certeza que nunca existiu. Se a RM não paga o que deveria pagar, imagine uma gratificação de participação nos lucros. A situação está difícil”, expôs o instalador Luiz José Chaves.

A situação se agrava quando dados do Ministério da Justiça revelam que a Oi é a empresa campeã em reclamações de usuários no país. Foram quase seis mil reclamações no último período. Em Aracaju, as reclamações também são constantes.

“Levando em consideração os serviços, eu posso dizer que não estou satisfeito com os serviços da Oi, principalmente a questão de atendimento ao consumidor por telefone, demora muito para ser atendido, para falar com uma atendente, e quando a gente finalmente consegue falar com a atendente, nem sempre conseguimos resolver o nosso problema. Com relação aos valores das tarifas e custos dos serviços, eu considero muito elevado. Acho que deveria haver uma concorrência maior, principalmente na questão da telefonia fixa”, reclama Maicon Batista, usuário dos serviços de telefonia fixa, móvel e banda larga da OI.

A nossa equipe fez contato com a Gerência da Oi em Aracaju, que nos repassou por telefone à Assessoria de Comunicação da empresa em Recife, alegando que todas informações da empresa sobre as questões de trabalho são centralizadas.

Segundo a assessoria da empresa, não cabe à Oi resolver os problemas dos trabalhadores, pois eles são terceirizados por outra empresa. Questionado sobre a importância dos trabalhadores nos lucros, o assessor de comunicação afirmou que “os responsáveis pelos lucros são muito mais os investidores e colaboradores do que os trabalhadores”."

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