"As regiões ricas dos subúrbios americanos sempre foram redutos financeiros para o jornalismo local. É por isso que, nos idos de 2009, quando foi lançada a Patch – rede online de notícias locais da AOL –, seus sites se concentraram nestes ditos ricos subúrbios. E é por isso também que os jornalistas que ficaram desempregados após o declínio da rede não jogaram a toalha. A AOL vendeu sua participação majoritária da Patch no início do ano para uma empresa especializada em recuperar companhias com problemas. Logo foi anunciada uma reestruturação com direito a centenas de demissões.
Kenny Katzgrau é o cofundador da Broadstreet, empresa sediada em Nova Jersey que constrói plataformas de publicidade para organizações de notícias locais. Antes de fundar a Broadstreet, em 2012, trabalhou no Yahoo; seu sócio, John Crepezzi, era engenheiro na Patch.
“Após as primeiras demissões [no ano passado], percebemos que as coisas não estavam indo muito bem com a Patch e que faria muito sentido capitalizar em cima disso”, diz Katzgrau. “Assim que as demissões foram anunciadas, nós basicamente juntamos todos os e-mails da Patch e enviamos uma mensagem que dizia: ‘Obviamente lamentamos pelas más notícias, mas se você estiver pensando em se tornar independente, podemos facilitar o caminho’.” O agente facilitador da Broadstreet, no caso, era uma nova plataforma batizada de Blargo.
No entanto, mesmo com a divulgação maciça e oportuna, apenas 15 funcionários da Patch responderam à oferta da Broadstreet de imediato; e algo entre cinco e 10, diz Katzgrau, estão criando sites independentes em parceria com a empresa.
Novas perspectivas
Michael Dinan era funcionário da Patch em New Canaan, Connecticut. Agora ele administra a página de notícias New Canaanite, juntamente ao seu irmão Terry, usando o Blargo. "Imediatamente após a dispensa, todos recebemos propostas de grupos e empresas que já possuíam plataformas prontas, dispostos a nos ajudar a dar os passos seguintes, e assim por diante", conta Dinan.
Outra equipe que quis auxiliar os ex-funcionários da Patch a se recolocar no mercado foi a NJ News Commons. Com base na Montclair State University, a News Commons usou capital do Fundo de Recuperação de Nova Jersey, criado após a passagem do furacão Sandy, para apoiar a primeira rodada do programa Grow & Strengthen (Crescimento & Fortalecimento, em tradução livre), voltado à criação de novos sites no estado. Em fevereiro, a equipe anunciou o lançamento de uma nova rodada de sites independentes de notícias.
“Quando a Patch fechou, e nós sabíamos que ia fechar, nos vimos numa posição confortável para converter um monte de gente”, diz a diretora da NJ News Commons, Debbie Galant. “Alguns dos funcionários dispensados são muito amados em suas cidades. Eles não sabem como se vender, isso nunca foi parte do trabalho deles, mas nós vamos ajudar para que aprendam o necessário”.
Além dos microfinanciamentos, os membros do programa Grow & Strengthen terão acesso a consultorias regulares com Joe Michaud, veterano da Maine Media, bem como acesso a treinamento com a NJ News Commons, aconselhamentos com mentores e outras atividades, incluindo uma conferência sobre dados municipais.
Velocidade de migração
Não que realizar este salto tenha sido fácil. Debbie e Dinan concordam que é essencial agir rapidamente para atrair a audiência já existente às novas plataformas.
Do ponto de vista financeiro, foi muito importante fazer esta troca de plataforma de forma rápida. “Eu fiz isso de forma veloz não apenas porque trabalho rápido”, diz Dinan, “mas porque eu tinha de fazê-lo; eu precisava me assegurar antes que a indenização pela demissão ou minhas economias acabassem e eu fosse obrigado a aceitar um emprego que me afastasse da reportagem e de meus objetivos profissionais”. O site New Canaanite publicou seu primeiro tweet apenas dois dias após as demissões da Patch terem se tornado públicas.
A busca ambiciosa por expansão por parte da Patch pode ser história agora, mas isso não significa que todo o alicerce do trabalho deva virar pó. “A Patch foi um ótimo campo de treinamento para mim, não apenas em termos de ferramentas para divulgação de reportagens ao público online, mas também por conceder capacidade de aprendizado multitarefa e capacidade de inovação de um veículo em plena atividade”, relata Dinan. "Não quero ser desrespeitoso com os jornais impressos tradicionais, [mas] não sei quantos jornalistas de impressos seriam capazes de lançar o próprio site de notícias apenas dois dias depois de uma demissão, e confiantes de que, com planejamento e trabalho duro, ele iria crescer e se transformar em seu emprego em tempo integral”."
Fonte: Observatório da Imprensa
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