A pressão sofrida diariamente pelos bancários em função do modelo organizacional imposto pelos bancos, baseado sobretudo no cumprimento de metas, e os prejuízos que isso causa à saúde é o tema do livro “Adoecimento psíquico no trabalho bancário: da prestação de serviços à (de) pressão por vendas”, de autoria do psicólogo Vitor Barros, lançado nesta segunda-feira (11), na sede do Sindicato, abrindo a programação do ciclo de debates do Congresso Distrital dos Bancários de Brasília.
Participaram da mesa a secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Fabiana Uehara, o psicólogo Vitor Barros e as psicólogas e professoras do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Ana Magnólia e Luciane Araújo.
O livro é baseado em mais de três mil horas de depoimentos dos bancários atendidos por meio do trabalho realizado junto à Secretaria de Saúde do Sindicato e à Clínica do Trabalho em três anos de acompanhamento. Segundo Fabiana Uehara, a secretaria chega a receber até 15 novos casos de adoecidos por dia em consequência do estresse do trabalho. “É importante divulgar esses números para as pessoas perceberem que não estão sozinhas, que existem outros colegas enfrentando os mesmos problemas. Isso pode encorajá-las a buscar ajuda”, diz.
Vitor diz que é comum aos bancários o sentimento de inconformidade e culpa diante dos transtornos psíquicos. “Eles sentem como se não estivessem trabalhando como deveriam por um erro próprio, e não por consequência da pressão que sofrem diariamente”, explica. “Quando você vê os mesmos problemas se repetindo em locais diferentes, percebe que algo precisa ser feito com certa urgência”.
O psicólogo também criticou as fusões dos bancos e a terceirização. Segundo ele, depois de um ano do processo de compra e venda, as empresas começam a se preocupar em receber de volta o investimento e, para isso, dão início a cortes de pessoal, reduzindo o número de trabalhadores nas agências e aumentando a pressão sobre os que ficam. “Seis pessoas já tentaram suicídio em um dos bancos que estão na lista de 150 melhores empresas para se trabalhar. Eles não divulgam que os bancários trabalham até estarem esgotados”, declarou. “A terceirização é uma forma precária de trabalhar no dia a dia. O terceirizado faz o mesmo trabalho do bancário, mas sem a mínima segurança. Abriram as portas para que os trabalhadores assumam os riscos da profissão”, critica.
Ana Magnólia destacou a importância da publicação do livro, feita em parceria com o Sindicato. “Do ponto de vista sindical, podemos ver a consolidação da área da Saúde e do trabalho que tem sido desenvolvido há muitos anos”, disse. Segundo a psicóloga, o livro é um instrumento de luta e deve ser usado nas próximas discussões. “É um retrato da realidade”, resumiu.
Luciane Araújo incentivou os bancários a conhecer a Clínica do Trabalho, criada pelo Sindicato em parceria com a UnB para atender bancários vítimas de doenças relacionadas ao trabalho. Ela explica que é necessário acabar com a crença de que a dor e o processo de adoecimento podem ser resolvidos com “pílulas mágicas”. “A Clínica é um espaço onde eles podem ser ouvidos, e isso é fundamental no processo de cura”, explicou.
Denúncias e fiscalização
Todos os trabalhadores do Ramo Financeiro que estiveram sofrendo em virtude das metas abusivas e do assédio moral devem procurar a diretoria do Sindicato e fazer suas denúncias para que a entidade possa realizar ações para coibir esta prática. Segundo o presidente do Sindicato, Rodrigo Britto, “a prática executada por alguns gestores reproduz a política de lucros a qualquer custo implementada por diversas instituições financeiras. Precisamos que os colegas do ramo entrem em contato conosco informado os fatos para que possamos atuar com o objetivo de acabar com estas atitudes que prejudicam a classe trabalhadora”."
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