"Apesar de suspensão temporária e parcial de marcas e exigência de venda de ativos, Brasil Foods consegue manter 87% do faturamento
Após mais de dois anos de análise pelo governo, a Brasil Foods (BRF) conseguiu aprovar a fusão entre Sadia e Perdigão e manter 87% do faturamento total e 78% das vendas no mercado interno. O acordo selado ontem com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recebeu a bênção dos investidores e provocou uma alta de 9,77% nas ações da BRF, para R$ 28,55.
Ao contrário do relator, Carlos Ragazzo, que recomendou a reprovação da fusão, os demais conselheiros do Cade concordaram com a suspensão temporária da marca Perdigão, conforme antecipou o Estado. Os prazos de suspensão variam entre três e cinco anos em nove categorias de produtos, como presunto, linguiça, salames, lasanhas e pizzas congeladas. A marca Batavo também foi suspensa por quatro anos no mercado de carnes.
A empresa será obrigada ainda a vender um pacote que inclui 12 marcas menores, dez fábricas, oito centros de distribuição, quatro abatedouros, quatro fábricas de ração, 12 granjas de matrizes de frangos e dois incubatórios de aves. Isso significa 730 mil toneladas, ou 11,6% do total processado pela BRF. Não há obrigação, no entanto, de que a venda seja feita para um só comprador.
Segundo fato relevante divulgado pela BRF, os ativos a serem vendidos correspondem a faturamento de R$ 1,7 bilhão. Somado à perda provocada pela suspensão de marcas, o prejuízo chega a quase R$ 3 bilhões, ou 13% dos R$ 22,7 bilhões de faturamento líquido da gigante de alimentos.
"É um bom acordo. O que é bom não dói. Estamos contentes", disse ontem José Antonio do Prado Fay, presidente da BRF, visivelmente mais relaxado que nas últimas semanas. Ele ressaltou que o acordo "acomoda as necessidades da empresa" e "atende às preocupações das autoridades antitruste".
Rivalidade. Para os conselheiros do Cade, que aprovaram o acordo por quatro votos a um, esses ativos se transformarão em uma nova empresa capaz de manter a rivalidade no setor. O conselheiro Ricardo Ruiz, que esteve à frente das negociações, disse que suspender temporariamente a marca Perdigão foi a única saída para deixar a marca Sadia mais desprotegida e reduzir a barreira de entrada para novas empresas. Ele frisou que os produtos suspensos significam 80% das vendas da Perdigão no mercado interno brasileiro.
Fay, presidente da BRF, disse, porém, que a marca Perdigão segue "firme e ativa" em vários produtos, como hambúrgueres, empanados, salsichas, etc. "A marca continua presente na vida do consumidor. Não podemos confundir com o caso Kolynos", completou. Na década de 90, o Cade determinou a Colgate que suspendesse a marca Kolynos.
Especialistas em defesa da concorrência consideraram o acordo um recuo do Cade, após o voto de Ragazzo. Também há dúvidas sobre como controlar o cumprimento do acordo em milhares de pontos de venda.
Para analistas de mercado, o desfecho foi melhor que o esperado para o desempenho da empresa. "Foi uma aprovação mais branda", disse Cauê Pinheiro, analista da SLW. Ronaldo Kasinsky, da Fator Corretora, afirmou que a BRF está livre para integrar as empresas e maximizar os lucros. "A Sadia já tem negociação com os grandes pontos de venda e tende a assumir o espaço da Perdigão." / COLABOROU LUCIANA COLLET."
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