"BRASÍLIA. O petista José Graziano da Silva foi eleito ontem novo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), para um mandato que começa em janeiro de 2012 e vai até julho de 2015. A eleição, apertada, ocorreu ontem em Roma, após vigorosa campanha do governo e da diplomacia do Brasil. Graziano será o primeiro brasileiro e o primeiro latino-americano a ocupar o cargo. Seu desafio, conforme a meta da FAO, é grande: aumentar a produção de alimentos sem degradar o meio ambiente, propiciando a alimentação de nove bilhões de pessoas até 2050.
Primeiro ministro do Combate à Fome do governo Lula, em seu discurso, após a vitória, José Graziano falou da expectativa de acabar com a fome no mundo:
- Precisamos erradicar a fome e ajudar os países mais pobres. Estou convencido, com base em minha experiência no Brasil e em outros países, que erradicar a fome é uma meta razoável e alcançável.
Fome Zero fracassou e foi sucedido por Bolsa Família
Ainda no discurso, o brasileiro afirmou que quer contar com a ajuda de seus cinco adversários na eleição ao longo do mandato. Ele citou frase do sociólogo Betinho, que lutou pelo fim da fome no Brasil, para dizer que, quando o propósito é nobre, não há espaço para lutas internas na FAO.
- Quem tem fome tem pressa. Por isso, durante toda minha campanha, insisti na necessidade de lograr consensos e acordos para superar a divisão interna que tanto tem impedido essa organização de caminhar mais rápido para a erradicação da fome - afirmou.
Graziano estreou no primeiro governo Lula como ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, que tinha como principal projeto o Fome Zero. Mas a gestão do programa foi marcada por problemas. Extenso e minucioso, o plano esbarrou na desarticulação de órgãos federais e locais, o que levou o Palácio do Planalto a intervir na condução da política social.
Em outubro de 2003, antes mesmo de completar um ano, o governo Lula lançou o Bolsa Família, vinculado diretamente à Presidência da República. Em janeiro de 2004, criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, sob o comando de Patrus Ananias.
A eleição na FAO foi apertada. Graziano obteve o apoio de 92 países e ficou apenas quatro votos à frente de Miguel Ángel Moratinos, ministro de Assuntos Exteriores da Espanha. O brasileiro substituirá o senegalês Jacques Diouf a partir do primeiro dia de 2012. Diouf está no cargo desde 1994. O apoio decisivo da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula foram recompensados no discurso da vitória.
- Quero agradecer ao meu país na figura da minha presidenta Dilma e do ex-presidente Lula - disse no plenário. - Quero dizer que a partir de agora não sou mais um candidato brasileiro, mas um diretor-geral eleito de todos os países.
Com a eleição de Graziano, o governo da presidente Dilma contabilizou sua primeira grande vitória diplomática. Mas é também uma vitória do ex-presidente Lula, que escolheu o nome de Graziano como o candidato do governo brasileiro em novembro do ano passado, em comum acordo com Dilma, então já eleita.
Aos 61 anos, Graziano é formado em Agronomia, mestre em Economia e Sociologia Rural e doutor em Economia. Desde 2006, Graziano é subdiretor-geral da FAO e representante regional para a América Latina e o Caribe no organismo.
Em seu programa de gestão para a FAO, ele incluiu a luta pela erradicação da fome de forma ampla: "da produção ao acesso; dos direitos à sua realização; da emergência ao desenvolvimento; do crédito à renda; de incentivos às redes de segurança socioeconômica; da oferta à demanda; da sustentabilidade ao crescimento".
Dilma: eleição é importante conquista internacional
O resultado da eleição na FAO foi recebida por Dilma com "enorme satisfação", segundo nota divulgada pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto. "Sua reconhecida contribuição na formulação da bem-sucedida estratégia governamental de assegurar o direito dos povos à alimentação, aliada às sólidas credenciais acadêmicas e o profundo conhecimento da FAO, acumulado à frente do escritório regional da entidade em Santiago, conferem a José Graziano qualificações essenciais para o cargo que ocupará nos próximos quatro anos", diz o texto.
Ainda segundo a nota, a eleição de Graziano é uma importante conquista do Brasil no cenário internacional. "A vitória do candidato brasileiro reflete, igualmente, o reconhecimento pela comunidade internacional das transformações socioeconômicas em curso em nosso país - que contribuem de forma decisiva para a democratização de oportunidades para milhões de brasileiras e brasileiros -, bem como o compromisso do Brasil de inserir o combate à fome e à pobreza no centro da agenda internacional. Um objetivo possível de ser alcançado com o fortalecimento do multilateralismo e com o aprofundamento da solidariedade e da cooperação entre as nações e os povos", disse Dilma, tratando Graziano por "meu amigo".
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, também comemorou a escolha de Graziano: "A eleição consolida o Brasil como referência internacional em promoção de políticas de segurança alimentar e nutricional e inclusão social não somente ao seu povo, mas para os demais países do mundo", disse, em nota. "Sua eleição contribuirá para caminharmos na direção de um mundo sem fome e com mais e melhores oportunidades de vida para todos".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mentor da candidatura, não se manifestou sobre a eleição. Segundo sua assessoria de imprensa, ele estava muito abalado com a morte de sua irmã mais velha, Marinete, ocorrida na última sexta-feira. Na semana passada, reta final da campanha para a FAO, Lula publicou um artigo no jornal britânico "Guardian" em defesa da candidatura do petista: "Com essa candidatura, o Brasil reafirma seu compromisso com a agenda universal do combate à pobreza e à fome"."
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