"Internacional é entoada no antigo DOI-Codi paulista em ato contra torturadores
Ativistas de direitos humanos e ex-presos políticos lotaram o pátio do local onde ainda hoje funciona uma delegacia de polícia
Por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo
50 anos após o golpe militar que perseguiu, prendeu, torturou, matou e desapareceu com os corpos de centenas de ativistas de esquerda durante a ditadura, a internacional, hino comunista, ecoou na manhã desta segunda-feira, 31, no pátio onde funcionou o antigo DOI-Codi de São Paulo, o principal centro de torturas do país, no ato que exigiu a punição dos torturadores e financiadores da repressão.
Dezenas de ex-presos políticos que tiveram o grito sufocado nas sessões de tortura, puderam cantar a plenos pulmões a canção que silenciaram durante os Anos de Chumbo, junto com aproximadamente duas mil pessoas que compareceram à manifestação.
Do lado oposto do pátio que dava acesso às celas e salas de tortura, a ex-guerrilheira do Araguaia, Criméia Almeida, torturada pessoalmente pelo então comandante do DOI, Carlos Alberto Brilhante Ustra, quando estava grávida de sete meses, contemplava o local onde ficou presa. “Foi ali, naquela janela da esquerda, que eu fiquei”, afirma recordando o inferno que viveu.
Vitória da resistência
Apesar do sofrimento, Criméia considera que o ato desta segunda, em repúdio ao golpe, foi uma vitória daqueles que lutaram contra a ditadura. “Apesar de ser um lugar de muitas memórias tristes (ela viu o companheiro de partido, Carlos Nicolau Danielli, ser assassinado sob tortura), a sensação, hoje, é muito boa. Com muito sacrifício ocupamos este espaço. É sem dúvida uma vitória”, enfatiza.
O presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, deputado Adriano Diogo (PT-SP), organizador da manifestação, também foi pessoalmente torturado pelo coronel do Exército, Brilhante Ustra. Ele ficou preso três meses no centro de tortura. No dia em que chegou ao DOI-Codi haviam acabado de matar seu colega de classe na Geologia da USP, Alexandre Vannuchi Leme..."
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