quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Bioeletricidade busca um lugar na matriz (Fonte: Abegás)

"A energia da biomassa da cana-de-açúcar passa por um momento delicado: por mais que esteja atrelada à produção dos canaviais, também está vinculada a outras fontes quando se trata de leilões realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Sua ausência tem sido observada nos últimos certames. De acordo com dados levantados pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única), o setor chegou a comercializar 541 MW médios em 2008 para entrega em 2013 (leilão A-5), mas vendeu 76 MW médios ao ano entre 2009 e 2012, ou seja, uma queda de 86%.
Tanto consultores como empresários são unânimes em afirmar que a fase atual é de implementação de projetos de leilões realizados anteriormente. Os números variam a partir de que valor a biomassa de cana-de-açúcar se torna competitiva – os mais citados oscilam entre R$ 150 e R$ 175 MWh, mas o preço-teto despencou nos últimos leilões.
De acordo com Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade da Única, até a safra 2012/2013, houve crescimento na biomassa de cana-de-açúcar destinada ã cogeração -em 2011/12, o aumento foi de 20%. Esta expansão deveu-se a projetos anteriores, contratados entre 2008 e 2009, e que foram concretizados nos últimos anos. “A preocupação é com o futuro”, afirma o executivo, ao ressaltar a ausência da biomassa de cana-de-açúcar nos leilões de energia do governo realizados recentemente. O preço de partida dos últimos leilões de energia estava a RS 112 o kW/h, o que desestimulou a participação do setor. “O preço médio era de RS 157 na época – R$ 190 em valores atuais”, ressalta.
Outro ponto de consenso entre especialistas foi a causa desta retração da participação da biomassa de cana-de-açúcar nos leilões de energia: a pressão representada pelo preço da energia eólica. “Isso não foi só prejudicial para a cana, como também para as demais fontes (carvão, gás natural, PCHs)”, diz o gerente da Única.
Para Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, a competição representada pelas usinas eólicas desequilibrou o mercado: “O problema, neste caso, é a planilha do Excel”, destaca. “Em outros países, o fator de carga (razão entre a demanda média e a demanda máxima da unidade consumidora ocorrida no mesmo intervalo de tempo especificado) oscila de 20% a 24%, enquanto as eólicas brasileiras afirmam que seu fator de carga é de 45% a 67% – por acaso, o vento do Brasil é mais forte?”
Na avaliação de Luiz Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar, maior empresa comercializadora de açúcar e álcool do país, as eólicas trouxeram o preço do leilão para baixo. “Diante da ausência de outras fontes, partiu-se para o leilão segmentado por tipo de energia”, ressalta. Desta forma, os editais de leilão da Aneei foram separados entre energia eólica e as demais fontes de energia.
Essa divisão pode ter diminuído as disparidades, mas não evitou distorções, de acordo com analistas do setor. Isso porque o preço-teto fixado para o próximo leilão A-5, a ser realizado amanhã, de R$ 140, valerá tanto para as usinas baseadas em biomassa como para as termelétricas movidas a carvão e a gás natural, ou seja, com combustíveis fósseis, além de fontes hídricas como as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Com isso, não se incluem no preço as vantagens e desvantagens de cada fonte – uma reivindicação antiga do segmento bioenergético.
O argumento é que a energia de biomassa é oferecida, no Centro-Sul, principalmente no período da seca, quando o fornecimento das hidrelétricas – a principal fonte de energia brasileira – é mais vulnerável. De acordo com dado da Única, o fornecimento de bíoeletricídade poupou 6% da água nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste.
Ainda segundo a Única, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) cadastrou 68 empreendimentos de amanhã, para entrega em 2018, totalizando 7.552 MW de potência instalada. Entre as térmicas, a biomassa foi a fonte que mais apresentou projetos -30, somando 1.472 MW, o equivalente a 19% da potência cadastrada para o leilão.
A Única cita estudo da União Européia que concluiu que cada MWh gerado por meio do gás natural representa emissão entre 400 e 440 quilos de CO„ ao passo que cada MWh produzido por carvão mineral resulta na emissão de 800 quilos de C02 a mais na atmosfera. Já a emissão produzida pela biomassa não é considerada por ser tratar de uma fonte de energia renovável e sustentável.
Atualmente, não há dúvida de que a cogeraçào tornou-se o terceiro produto da cana-de açúcar, depois do açúcar e do etanol. Todos os novos projetos de usinas que surgiram nos últimos anos incluíam a cogeração de energia. “Não se consegue mais imaginar um greenfield (projeto lançado a partir do plantio da cana), uma usina nova desde a formação dos canaviais, sem a cogeração”, ressalta João Alberto Abreu, diretor de bioenergia e tecnologia da Raízen – parceria entre Cosan e Shell.
No caso da Odebrecht Agroindustrial, a bioeletricidade fez parte da estrutura de suas usinas ainda na fase de planejamento. “Atualmente, temos capacidade de geração de 900 MW, podendo vender 3,1 mil MW/h”, diz Luiz de Mendonça, presidente da empresa.
Sem arriscar aportes em projetos novos, as usinas têm investido na melhoria do equipamento, visando aumentar a capacidade de geração de energia. De acordo com Jacyr Costa, diretor da divisão de cana do grupo Tereos, ao qual pertence a Guarani, as inversões são feitas com foco no aumento da produção, tanto no campo como na indústria. “Projetamos vender, em 2013, 800 mil MW, chegando a 1,2 milhão de MW em 2015 – o suficiente para abastecer uma cidade de mais de um milhão de habitantes”, afirma.
O potencial de crescimento da biomassa é notável, uma vez que conta com o aumento da produção brasileira de cana-de-açúcar para se expandir. O setor, que vendeu para a rede 126 MW médios em 2005 em energia (sem falar no consumo próprio), chegou a exportar 1.133 MW médios em 2011, pelas contas do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Única. Na avaliação de Zilmar de Souza, da Única, a biomassa se ressente da mesma falta de visão de uma política de longo prazo que atinge todos os derivados da cana. Potencial, existe. A questão é criar parâmetros e políticas para aproveitá-lo."

Fonte: Abegás

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