"O aumento no número de pessoas matriculadas em cursos superiores melhorou o nível profissional de uma parte da população, mas trouxe uma contradição embutida. Embora sejam comuns entre os empresários as reclamações sobre a falta de mão de obra qualificada no país, uma pesquisa que comparou dados dos Censos de 2000 e 2010 mostra uma queda no salário médio mensal dos trabalhadores com nível superior, principalmente daqueles que atuam em profissões da área de humanas ou ligadas à saúde, como enfermagem e farmácia.
O levantamento foi elaborado pelo economista Naercio Menezes Filho, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) e da USP, a pedido da BRAiN (Brasil Investimentos & Negócios), associação mantida por bancos e entidades como a Federação do Comércio de São Paulo e a Bolsa de Valores de São Paulo.
A pesquisa indica um descompasso entre a necessidade de profissionais no mercado de trabalho brasileiro e a formação de universitários. O excesso de formandos que saem dos cursos de humanas e da área de saúde – com exceção da medicina – joga para baixo os salários pagos a essas carreiras e prejudica até mesmo o desempenho salarial médio dos profissionais com nível superior.
Para Daniel Rosenfeld, gerente de projetos da BRAiN, essa queda no valor dos salários mostra que não há uma falta generalizada de mão de obra qualificada, mas sim de problemas em áreas específicas. Segundo ele, seria importante incentivar a formação universitária nas áreas que hoje têm experimentado melhorias nos salários, como medicina e engenharia civil, entre outras, já que aí estão as profissões consideradas “do momento”.
Na conclusão de sua pesquisa, Naercio Menezes Filho também descarta a hipótese da falta de trabalhadores qualificados. “É difícil compatibilizar essa queda de salário em termos absolutos e relativos com um hipotético “apagão” de mão de obra qualificada, já que, se a demanda estivesse crescendo a uma taxa superior à da oferta por ensino superior, os diferenciais de salários nesse nível deveriam estar aumentando”, disse.
Segundo ele, profissões como médico e engenheiro tiveram aumentos nos salários, mas houve queda na participação entre os formados. “Nessas profissões, a demanda está aumentando mais rapidamente do que a oferta, ou seja, a sociedade está precisando de mais profissionais nessas áreas.”
Extraído de http://www.diariosp.com.br/n/42372
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