"O temor do risco de um desastre nuclear chegou à Argentina, depois que a Agência de Energia Nuclear, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), colocou a central de Atucha 1 em estado de alerta. A medida foi tomada pelo fato de o fabricante dos reatores da usina argentina ser o mesmo dos reatores da central belga Doel-3 — cujo equipamento apresentou fissuras em seus dispositivos atômicos. Acredita-se que um defeito de fabricação tenha provocado as rachaduras, pondo em risco todas as usinas cujo material foi fornecido pela holandesa Rotterdamsche Droogdok Maatschappij (RDM). Essas falhas estruturais podem causar vazamento de combustível ou de material radioativo, como ocorreu durante o desastre na usina atômica de Fukushima, no Japão, em 2011.
Em entrevista ao Correio, o chefe de comunicação da AEN, Serge Gas, garantiu que o estado de alerta é apenas uma medida de precaução, segundo a qual a estrutura de Atucha 1 precisa ser analisada. "As empresas argentina e belga têm o mesmo fornecedor, o que não significa que apresentem o mesmo problema de fissuras. O alerta é apenas para que o governo argentino tenha cuidado e conduza uma investigação, a fim de evitar danos ao ambiente e à população", esclareceu.
A escala de riscos de incidentes da AEN vai de 1 a 7, sendo 1 — o caso da usina argentina — a menos crítica e 7 — para os casos de Fukushima e Chernobyl — a mais grave. "Não há motivo para pânico. Felizmente, a cooperação internacional nos permitiu saber que existem 19 centrais com reatores construídos pela RDM", tranquilizou Gas. As centrais em alerta, que devem passar por uma investigação, estão localizadas na Argentina, na Bélgica, na Alemanha, nos Estados Unidos, na Espanha, na Suécia e na Suíça. A belga Doel-3, onde foram detectadas as primeiras fissuras, foi desativada há dois meses. O organismo regulador do país europeu cogita fechá-la definitivamente.
Análise
O Greenpeace, a entidade Los Verdes e a Fundação Ambiente e Recursos Naturais (Farn) exigiram que a Autoridade Reguladora Nuclear (ARN) da Argentina divulgue a situação dos reatores da usina. Mauro Fernández, do Greenpeace, afirmou ao jornal La Nación que "22 milhões de argentinos vivem a menos de 300km da usina e poderiam ser afetados por um acidente grave". Juan Carlos Villalonga, do Los Verdes, contou que nenhuma autoridade deu respostas sobre a usina.
Natalia Mironova, presidente do Movimento para Segurança Nuclear da Rússia, acrescenta que os operadores das usinas, as agências reguladoras e o governo devem estar preparados para um vazamento atômico. "Eles devem saber remover a população, informá-la sobre como se preparar em situações de emergência e fornecer locais com água e comida", enumerou. A 100km de Buenos Aires, Atucha 1 é a central mais antiga da América do Sul, inaugurada em 1974.
Número de usinas nucleares em todo o mundo cujos reatores foram construídos pela empresa holandesa RDM."
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