"As campanhas salariais das categorias mais organizadas do sindicalismo brasileiro serão lançadas nas próximas semanas. Com data-base para reajustes programada entre setembro e novembro, metalúrgicos do ABC e de São Paulo, trabalhadores da indústria têxtil de Santa Catarina, químicos, comerciários, petroleiros, eletricitários e bancários vão desconsiderar o argumento corrente - de que preços em alta e desaquecimento da economia dificultam a concessão de aumentos reais - e prometem fortes pressões sobre as empresas no segundo semestre em busca de ganhos salariais acima da inflação.No entendimento de Artur Henrique da Silva Santos, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o quadro econômico do país ainda é positivo a ponto de sustentar ganhos reais para os trabalhadores, apesar de a inflação no acumulado de 12 meses ter chances de bater na casa dos 7% em algum momento do terceiro trimestre do ano e indicadores importantes de atividade demonstrarem desaceleração.
"Agricultura, comércio, serviços, indústria, mercado financeiro, todos os setores da economia estão ganhando muito dinheiro este ano. Acabamos de ver a indústria automotiva, com todos os problemas apontados sobre câmbio, bater recorde na venda de carros. Isso é fruto da forte produtividade que precisa ser compartilhada com os trabalhadores, seja por meio de redução da jornada de trabalho sem corte nos salários ou por reajustes reais", afirma Artur Henrique.
O sindicalista não descarta pressão e greves de vários sindicatos. "Os movimentos serão bastante intensos, vamos ter bastante gente nas ruas e greve, como em todos os anos. Bancário faz greve todo o ano, os eletricitários e os petroleiros, também. Na campanha salarial do segundo semestre não será diferente."
Na prática, os reajustes reais recordes do segundo semestre do ano passado podem não se repetir, levando em conta tendência verificada em uma dezena de categorias que buscaram aumentos acima da inflação no primeiro semestre deste ano. Há duas semanas, reportagem do Valor mostrou que sindicatos com bases importantes, como comerciários do Rio de Janeiro e construção civil do Distrito Federal, tiveram ganhos inferiores àqueles obtidos um ano antes.
À frente de uma base de mais de 105 mil trabalhadores, Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, lembra que o ganho recorde do ano passado (de 4% a 5% real) ocorreu sobre uma base muito baixa de 2009, ano que absorveu os impactos da crise econômica internacional. "Vamos para cima das empresas, mas não vamos reivindicar no "achômetro". Olharemos produtividade e crescimento do PIB, nesse contexto o ganho real está dado. Se cada empresa fizer um acordo no seu tamanho, não teremos problema de pressão da inflação", pondera Nobre.
Para ele, o recuo da inflação verificado a partir de maio deverá favorecer os trabalhadores nas negociações do segundo semestre. "A inflação deixou o pico do começo do ano para trás e voltou a cair, o que mostra que as pressões vinham mais de commodities e de preços que o empresário não tem como controlar, como tarifas do governo e alimentos", completa o dirigente sindical."
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