"O banco estatal tem atualmente 49,9% das ações com direito a voto da Brasiliana, holding da AES Eletropaulo e da AES Tietê, e 100% das preferenciais, o que representa 53,8% do capital total; governo está preocupado com impacto na qualidade do serviço
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está prestes a retomar o processo de venda de sua participação na Brasiliana, holding que controla a distribuidora AES Eletropaulo (SP) e a geradora AES Tietê.
A instituição está concluindo o processo para a contratação de um banco com vistas a estruturar o leilão de venda de sua fatia acionária na empresa, que também controla a térmica a gás natural AES Uruguaiana e a operadora de telecomunicações AES Atimus.
Hoje, o BNDES detém 49,9% das ações ordinárias da Brasiliana e 100% das preferenciais, o que representa 53,8% do capital total da empresa. O banco de fomento é sócio da americana AES Corp., que controla a companhia com 50% mais uma ação das ON. A movimentação da instituição para vender essa fatia acionária já tem provocado reações no mercado.
Segundo apurou a Agência Estado, os principais interessados no ativo estão contratando advisors para auxiliar na operação. No passado, já demonstraram interesse a CPFL Energia, a Cemig, a Tractebel e a Neoenergia.
O pano de fundo do negócio está relacionado à necessidade de recursos do BNDES para continuar a sua política de financiar os seus projetos de infraestrutura e participar de novas oportunidades de investimento.
Nos cálculos dos analistas do Itaú BBA, Marcos Severine, Marcel Shiomi e Mariana Coelho, o banco de fomento poderia obter, no mínimo, R$ 4,8 bilhões com a operação, sendo este o valor de mercado da participação da instituição no ativo. "A Brasiliana é uma operação madura e próxima do seu potencial de valorização. Além disso, o banco tem outras prioridades no momento", disse uma fonte do mercado que acompanha de perto o processo.
Com o processo de seleção da instituição financeira para estruturar a operação prestes a ser concluída, fica a dúvida de quando o BNDES deve tornar pública a retomada do processo. A fonte ouvida pela Agência Estado disse que, embora seja difícil afirmar com segurança em que momento isso irá ocorrer por causa dos fatores políticos que envolvem o negócio, o anúncio deve ocorrer no curto prazo.
Para analistas do setor, o negócio faz parte do processo de desinvestimento conduzido pelo banco. Nos últimos meses, a companhia reduziu suas participações na Light e na Cesp - apenas com a concessionária fluminense, a política de desinvestimento gerou um ganho de R$ 421,9 milhões entre 2009 e 2010, segundo o formulário de referência do BNDESPar.
A constituição da holding Brasiliana, em 2003, foi a solução encontrada pelo banco de fomento para não amargar um prejuízo bilionário. Em decorrência do racionamento de 2001, a AES Corp. deixou de pagar, em 2003, o empréstimo obtido junto ao BNDES para compra da Eletropaulo, no processo de privatização conduzido pelo governo paulista em 1998. A dívida já somava US$ 1,2 bilhão, e a saída para equacionar o passivo foi converter metade do valor, US$ 600 milhões, em ações da Brasiliana - a outra metade foi paga pela AES Eletropaulo no fim de 2006.
Com a quitação da dívida, o BNDES iniciou, no segundo semestre de 2007, o processo de venda de sua fatia na Brasiliana. O banco de fomentou chegou a contratar o Citibank para preparar o leilão, mas o negócio não chegou a ser concluído. Nesse meio tempo, o BNDES e a AES produziram laudos sobre o valor da Brasiliana. Como houve divergência, um terceiro laudo independente chegou a ser produzido. Tal procedimento terá que ser realizado novamente com a retomada do processo de venda, conforme está previsto no acordo de acionistas celebrado no fim de 2003.
Pelos termos do acordo de acionistas, a AES Corp. tem o direito de preferência para comprar a fatia do BNDES. Caso decline de exercer essa opção, o banco poderá obrigar a AES Corp. a vender as suas ações na Brasiliana, cláusula conhecida no mercado como drag along. Embora exista essa possibilidade, o presidente do grupo AES no Brasil, Britaldo Soares, já manifestou em diversas ocasiões que a companhia americana pretende comprar a fatia do BNDES na Brasiliana.
Procurado, o BNDES informou que não poderia se pronunciar sobre o tema, por envolver empresas de capital aberto.
Preocupação. Outra fonte afirma que o leilão pode continuar sendo adiado a pedido do governo, que está preocupado com uma piora na gestão da companhia após os recentes apagões que prejudicaram o abastecimento de energia em São Paulo.
A AES Corp. estaria suficientemente capitalizada para exercer seu direito de preferência na aquisição, o que não é visto com bons olhos pelo governo."
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