"Estratégia: Petroleira francesa tem planos para investir globalmente cerca de € 5 bi no segmento até 2020
O presidente de gás e energia da petroleira francesa Total, Philippe Boisseau, já avisou que a empresa está em vias de entrar no processamento de cana-de-açúcar no Brasil. Mas não para fabricar etanol combustível, como já fazem suas concorrentes Petrobras, Shell e BP. Em entrevista ao Valordurante evento (Ethanol Summit) em São Paulo, o executivo explicou que o objetivo da multinacional é buscar no país matéria-prima - o caldo de cana - para fomentar seu avanço global em bioenergia de segunda geração. O plano é incluir no portfólio bioquerosene, biodiesel e biolubrificantes feitos a partir da cana. O grupo projeta investir globalmente € 5 bilhões em fontes de bioenergia até 2020, incluindo solar.
Boisseau explicou que na "sustentação tecnológica" desse projeto está a americana Amyris, da qual a Total é a maior acionista global, com 22% de participação. A americana está no Brasil há cerca de dois anos com parcerias com alguns dos maiores grupos do segmento sucroalcooleiro, como Cosan e São Martinho. Seu foco é desenvolver leveduras para converter açúcar em compostos químicos. Com a Amyris, a Total já tem contratada uma produção de químicos equivalente a uma moagem de 6 milhões de toneladas de cana. "Em breve", afirmou o executivo, esse contrato será ampliado para que, em quatro anos, o volume fornecido seja equivalente ao processamento de 13 milhões de toneladas.
Além de acionista da Amyris, a Total tem parcerias com diversas companhias de biotecnologia para o desenvolvimento de tecnologias avançadas. Com faturamento de € 159 bilhões em 2010, a Total tem metas ambiciosas de participação de mercado de cana-de-açúcar do Brasil, diz Boisseau. Entre elas está atingir, em dez anos, participação entre 5% e 10% na moagem de cana no Brasil. "Precisamos processar cana e atingir escala para acessar a segunda geração da bioenergia", disse o executivo.
A francesa já disputa a aquisição de ativos sucroalcooleiros no país. Conforme fontes ouvidas pelo Valor, estão no radar da companhia duas usinas do grupo Clealco que também são disputadas por outros players, como Açúcar Guarani / Petrobras Biocombustíveis e a indiana Shree Renuka, que tem uma unidade vizinha às plantas da Clealco.
Mas Boisseau prefere não comentar se negocia ou não os ativos. "Aquisição é uma opção, pois não sabemos como produzir e processar cana-de-açúcar. Estamos começando nesse processo com foco em encontrar o parceiro certo", afirmou o executivo. A decisão de investir no Brasil, diz ele - que em São Paulo, pela primeira vez participou de uma conferência de etanol - aconteceu porque o país atende às diretrizes da empresa de não competir com produção de alimentos. O baixo nível de subsídios e o uso sustentável da terra também pesaram na decisão.
Quinta maior companhia de gás e petróleo do mundo, a Total não tem previsão exata do montante que deverá investir no Brasil nos próximos anos. "Mas, como uma referência, temos planos de aplicar € 5 bilhões em todas as áreas definidas por nós em bioenergia até 2020", reiterou.
A energia solar é outra forte aposta da Total nessa frente. Neste momento, afirmou Boisseau, está em curso investimentos de € 1,4 bilhão na empresa americana Sun Power, na qual a petroleira detém 60% de participação para desenvolvimento de projetos nessa área. Boisseau reconhece que o negócio de bioenergia ainda é pequeno globalmente dentro da companhia, mas que já representa 20% de sues gastos totais. Com atuação em 130 países, a Total é listada nas bolsas de Paris, Bruxelas, Londres e Nova York. Suas atividades englobam, também, a produção de resinas e de outros itens petroquímicos, além de fertilizantes."
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