"São Paulo – O resultado eleitoral em âmbito nacional não foi surpresa, na conjuntura pós-impeachment francamente favorável à direita e com o declínio do PT, que se reflete na esquerda de modo geral. Nesse cenário, o Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país, se destaca como um dos poucos pontos em que o campo progressista é protagonista no segundo turno, com o candidato Marcelo Freixo (Psol), que disputará a prefeitura com Marcelo Crivella (PRB).
“No quadro geral nacional há um declínio político-eleitoral do PT inegável, e uma ascensão da direita, do conservadorismo, do engodo da antipolítica que esse Doria vende em São Paulo. Não por acaso, o número de abstenções nas eleições municipais, que são as mais próximas do cidadão, é enorme. É muito desencanto com a política”, diz o deputado Chico Alencar (Psol-RJ)
De um ponto de vista puramente matemático, a situação de Freixo não é fácil. Ele teve cerca de 563 mil votos, contra 842 mil do líder Crivella. Os outros candidatos da esquerda, cujos votos naturalmente se transferirão majoritariamente para o candidato do Psol, conseguiram juntos pouco menos de 145 mil votos. Jandira Feghali (PCdoB) chegou a 101 mil e Alessandro Molon (Rede) obteve 43 mil. Do outro lado, só Pedro Paulo (PMDB) atingiu 488 mil votos. O extremista Flavio Bolsonaro (PSC) teve 424 mil, para não falar de Índio da Costa (PSD), com 272 mil, e Osório (PSDB), com 261 mil.
Mas política não é matemática, lembra Alencar. “Eleição não é uma soma matemática. Se fosse olhar por aí, nem precisaria disputar o segundo turno. Entretanto, é uma outra eleição, com tempo igual de TV e rádio e embate direto. E o eleitorado hoje em dia já não segue os caciques e a orientação partidária.”
Para o deputado, a chance de Freixo se eleger é real não apenas pela igualdade das campanhas, que permite ao eleitor analisar a partir de cada proposta e cada candidatura. “Outro fator é que o Rio de Janeiro tem uma tradição mais libertária do que conservadora. O segundo turno está indefinido. Temos chances reais de ganhar.”
Jogo de enganos
Para Chico Alencar, o desencanto revelado nas eleições nacionais interessa à direita. “Em vez de canalizar isso para um voto mais questionador, o eleitor vai para a omissão. E há os que votam para quem vende a imagem do não-político, como Doria. Crivella faz um pouco essa imagem, embora seja senador há muito tempo. É um jogo de enganos.” No Rio, a abstenção no primeiro turno chegou a praticamente um quarto do eleitorado, ou 24,28%.
O deputado federal avalia que a queda do partido de Luiz Inácio Lula da Silva afeta toda a esquerda do país. “A débâcle do PT vai exigir talvez umas duas décadas para a gente se recolocar de maneira protagonista, forte, no cenário político. Eu falo em termos nacionais”, diz o parlamentar. “Mas se o PT não fizer uma autocrítica profunda, ficar só se lamuriando, não ajuda.” Apesar das discordâncias entre os dois partidos, a bancada do Psol na Câmara dos Deputados foi uma das mais aguerridas na batalha contra o impeachment de Dilma Rousseff.
Apesar de tudo, diz o deputado, a atual crise tem a ver com a missão da própria esquerda, a luta contra as dificuldades. “A esquerda na história do mundo nunca deixou de ter enormes dificuldades. O caminho é duro, difícil, na contramão das forças dominantes, e a gente tem que se reinventar, fazer autocrítica, renovar. O bom desempenho do Psol no Rio é também em função de a gente incorporar novas pautas. O entusiasmo da juventude carioca conosco é impressionante.”
Fonte: RBA
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