"O Hospital Alfa, na esquina da Domingos Ferreira com a Barão de Souza Leão, em Boa Viagem, mudou de dono e nome. Passou a funcionar desde segunda-feira com a marca Hospital CHS Nossa Senhora das Graças, cujos sócios são a corretora de planos de previdência e saúde CHS e a associação beneficente Ahmar. Essa é a única certeza que cerca de 350 funcionários sumariamente demitidos depois do negócio fechado sabem até o momento. Nada de pagamento de verbas rescisórias, direitos trabalhistas como FGTS e INSS, aviso prévio. Nem mesmo o salário de novembro foi pago. Para eles, o recado da administração foi: “procurem seus direitos na Justiça”.
“Os trabalhadores, entre técnicos de enfermagem e pessoal de serviços gerais, passaram a nos procurar. Diante disso, entramos com uma solicitação de audiência com o Ministério do Trabalho. Sabemos que o hospital sempre teve diversos outros problemas, como não cumprimento de cláusulas de convenção coletiva, não pagamento de quinquênio e atraso de salários”, diz a coordenadora jurídica do sindicato da categoria, Mírcia Ferreira, do Sindipeenfermagem/PE.
Segundo informações de três técnicas de enfermagem que pediram para não ter o rosto revelado, os rumores de mudanças na empresa começaram há três meses. “O hospital sempre operou no limite e, nesse período, começaram as histórias de que ele seria vendido e de que tudo melhoraria pra gente”, informa a técnica Amanda Virgínia. A mudança, no entanto, foi para pior. “Na sexta-feira, eles passaram a comunicar as demissões. Começou com o pessoal de limpeza e rouparia, pois ainda tem muito paciente que precisa de apoio dos enfermeiros”, relata Andréa Melo. Neílsa Santos, outra colega, diz que alguns profissionais receberam o convite para continuar no hospital, mas abrindo mão de entrar na Justiça para procurar os direitos não pagos e se comprometendo, ainda, a não acionar o novo grupo controlador. “De início aceitei, mas eles não entregaram o novo contrato de trabalho”, diz. “Além disso, eles querem dedicação integral e o horário que eles estão propondo não é bom”, critica Andréa.
O advogado Gilberto Simões tem pouco mais de 100 clientes que passou a defender essa semana. Ele diz que o arrendamento assinado entre o antigo e os novos controladores é um contrato “obscuro”, que ninguém sabe exatamente como foi feito. “O que tudo indica é que o real objetivo do negócio é se livrar das questões tributárias, pois a Ahmar é uma ONG beneficente e, como tal, é dispensada de tributos”, comenta o advogado. Ele reforça que 92 funcionários decidiram ficar na empresa, mas sob condições impostas. “Não faz sentido demitir para contratar de novo. A irregularidade está aí. O profissional está tendo de renunciar seus direitos para ser recontratado.” Simões diz que o hospital não tem mais emergência e só mantém a UTI e cirurgias.
A entidade não é ligada ao Sindicato dos Hospitais (Sindhospe). Planos de saúde de primeira linha não atuam com o hospital, que vive dos leitos de UTI bancados pelo SUS e dos pacientes dos planos de autogestão Sassepe (do Estado) e Geap (dos funcionários federais). Os donos do Alfa, Fernando Rodrigues e seu filho Júnior, não foram localizados. O presidente da Ahmar, padre Tiaraju de Araújo, retornou a ligação, mas informou que quem falaria sobre o assunto seria o novo sócio-administrador do hospital, Pedro Paraíso. Até o fechamento desta edição Paraíso não havia procurado o jornal, como havia prometido o padre."
Fonte: EcoFinanças
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