A região Nordeste é onde os sindicatos conquistaram os maiores aumentos reais em 2011 nas negociações para quem tem data-base entre setembro e dezembro. A média de ganho nas 40 convenções coletivas analisadas pelo Valor foi de 1,82% - enquanto a brasileira ficou em 1,53%. Os investimentos na região têm puxado o seu crescimento, que supera o nacional. No Piauí, Estado que se destacou com a maior média de ganho real no período (2,92%), um sindicato de trabalhadores na construção civil pesada (Sintepav-PI) fez acordo com similares do Ceará e de Pernambuco para pressionar o setor patronal e alcançar a meta de 11% nominal.
"A obra da ferrovia Transnordestina [que vai interligar os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará] foi fundamental para garantirmos esse aumento. Ameaçamos fazer uma paralisação nos três Estados e assim conseguimos negociar uma proposta maior que 6% nominais oferecidos inicialmente", explica Régis Freire, presidente do Sintepav-PI. Segundo o sindicato, 1,5 mil trabalhadores estão empregados nessa obra no Piauí e o número deve subir para 5 mil ainda neste ano. Somados os três Estados, são mais de 11 mil pessoas envolvidas na obra.
O Sintepav-PI existe há dois anos. Em sua primeira negociação, foi conquistado um aumento de 8%, o que representou 1,81% de ganho real em 2010. Esse é um índice alto, mas comum ao Nordeste. "O Produto Interno Bruto (PIB) nordestino cresce acima da média, como resultado dos investimentos públicos e privados na região, mas também do efeito gerado pelo aumento do salário mínimo e de programas sociais como o Bolsa Família, que estimulam a economia local e refletem nas negociações", diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Atrás do Piauí nesse levantamento aparece Pernambuco, com média de ganho real de 2,65%. O Estado apresentou, não somente nos últimos quatro meses, mas também ao longo de 2011, reajustes que sempre estiveram bem acima da média nacional. Em 2010, enquanto que o Brasil cresceu 7,5%, Pernambuco avançou 9,3%. As projeções de crescimento para o país no ano passado estão em torno de 3%, mas para o Estado nordestino superam 5%. "Essa dinâmica econômica favorável tem influenciado as negociações, além de resgatar a autoestima dos trabalhadores, que reivindicam mais com menos medo de perder o emprego", afirma Jackeline Natal, supervisora regional do Dieese-PE.
Embora os ganhos reais sejam expressivos, é o aumento do mínimo o que mais impulsiona o avanço salarial no Estado, diz Jackeline. "O salário na região ainda é baixo. Os pisos estão muito colados no mínimo, o que tem efeito de irradiação para os demais patamares."
Ela também aponta que houve, nos últimos quatro anos, uma mudança de posição do governo estadual, que passou a atuar de maneira mais agressiva na atração de empresas para Pernambuco. "Desde o início das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), há um grande fluxo de investimentos no Estado, como no porto de Suape", diz. A grande quantidade de obras fortalece os trabalhadores da construção civil, o que ajuda nas negociações, como no caso do Sintepav-PI.
O Sudeste é o segundo colocado nesse ranking. Em levantamento feito pelo Valor que contemplou os meses de junho a setembro, a região aparecia em último lugar, com média de ganho real de 0,55%. Entre setembro e dezembro de 2011, esse índice quase triplicou, chegando a 1,61%. "O Sudeste conta com o peso da indústria, além de concentrar vários sindicatos mais fortes com data-base nos últimos meses do ano", explica Silvestre.
Para boa parte da região, nem é o reajuste de 14,13% do salário mínimo que chega a pautar as negociações, mas sim o piso regional. São Paulo e Rio de Janeiro adotam um mínimo individual, acima do piso nacional. Em 2012, os paulistas já anunciaram que o seu piso será de R$ 690 a partir de 1º de março. O reajuste no ano foi de 15% e representa a injeção de pelo menos R$ 7,7 bilhões na economia do Estado nos próximos 11 meses, já que o reajuste em 2012 deve valer a partir de fevereiro. No Rio, ainda não há uma decisão sobre o reajuste do piso, que atualmente está em R$ 639,26."
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