Valor Econômico - 06/02/2012
A Eletrobras apertou o cerco aos clientes de suas distribuidoras que não pagam pela energia que consomem. No ano passado, a companhia conseguiu recuperar R$ 455 milhões de clientes das suas seis complicadas distribuidoras federalizadas e Marcos Aurélio Madureira da Silva, diretor de distribuição da Eletrobras, diz que isso é só o começo. A estatal vai aumentar o cerco às ligações clandestinas investindo na blindagem de parte de sua rede de distribuição nos estados, de modo a monitorar o consumo de grandes clientes por meio de equipamentos de telemedição.
Manaus, que é um dos mercados onde o consumo mais cresce no país, terá uma central de monitoramento exclusiva. Outra central será instalada em Brasília, que terá um centro de inteligência para monitorar o consumo dos clientes das outras cinco distribuidoras federalizadas, analisar os resultados e indicar pontos que merecem mais atenção.
O arrocho incluiu o corte da energia para centenas de prefeituras dos estados de Alagoas, Rondônia, Roraima e Piauí que tiveram que renegociar e chegar a acordos para ter o fornecimento de volta. Em Alagoas, onde foi cortada a energia de 21 prefeituras, foram renegociados R$ 68 milhões com 40 municípios reunidos no Consórcio Intermunicipal de Gestão de Iluminação Pública com a Eletrobras Distribuição Alagoas, novo nome da Ceal. No Piauí as negociações com 196 municípios inadimplentes foi duríssima. Para renegociar o pagamento de R$ 137 milhões parcelados com 192 prefeituras a Eletrobras Distribuidora Piauí (antiga Cepisa) teve ajuda do Tribunal de Justiça do Estado.
Em Roraima a prefeitura de Boa Vista pagou R$ 2 milhões que devia, enquanto em Rondônia a Eletrobras conseguiu R$ 1 milhão em pagamentos atrasados e que eram devidos por 16 municípios e uma secretaria estadual. Um grande passo nessa negociação, destaca Madureira da Silva, foi o fato de o governo de Rondônia ter aceitado colocar as contas das secretarias de estado em débito automático.
Além da cobrança das contas municipais em atraso com desligamento dos devedores, a Eletrobras também passou a combater com mais eficácia o furto de energia. No primeiro momento a empresa aumentou a fiscalização e as autuações, mas já prepara a blindagem de sua rede para monitorar de perto o consumo de grandes clientes. A estratégia já deu resultados. A Amazonas Energia - que sozinha acumula prejuízo de R$ 1,375 bilhão entre 2005 e 2010 e registrou perdas de 41,84% em 2011 - conseguiu recuperar R$ 3 milhões no ano passado depois de autuar 16.500 instalações, das quais 3 mil tinham ligações clandestinas, o chamado "gato".
O Estado do Amazonas faz parte do sistema isolado de transmissão e é justamente onde o consumo de energia vem apresentando o maior crescimento nos últimos anos. Em 2011 o consumo na região, liderada por Manaus, cresceu 5,3%, mais que a média de consumo do Brasil, que ficou em 3,6%.
Um dos maiores flagrantes de desvio de energia no Amazonas foi encontrado pela Eletrobras no estaleiro Y eshua Reparos Navais, que dava um prejuízo estimado em R$ 300 mil por ano (R$ 25 mil mensais) há pelo menos um ano à Amazonas Energia. Outra empresa do setor, a Comércio e Serviço Náutico furtou o equivalente em energia ao consumo mensal de 1 milhão de residências, tendo deixado de pagar R$ 184,24 mil.
O diretor de distribuição lembra que em 2009 o objetivo da Eletrobras, ao centralizar a gestão das distribuidoras federalizadas, era o de reverter problemas de falta de investimento, de gestão e a perda de receita das empresas, que enfrentam índices altíssimos de inadimplência por várias origens. "Grande parte da inadimplência é do setor público, o que é incoerente, porque ao emitir o faturamento a empresa paga o ICMS e não recebe esse dinheiro, já que o imposto é recolhido no faturamento e não na arrecadação", afirma Madureira da Silva."
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