O Conselho, que reúne a direção mundial da empresa, os diretores de RH e 42 representantes dos trabalhadores de países como Alemanha, Brasil, Canadá, China, Finlândia, França, Índia, Itália, Polônia, Reino Unido, Cingapura e Suécia deixa de ser reconhecido oficialmente. Para a Rolls-Royce, de agora em diante será mantido apenas o Conselho Europeu. Confira a entrevista.
O que aconteceu com efetivamente com o Conselho Global dos Trabalhadores na Rolls-Royce?
Rogério Fernandes -A Rolls-Royce anunciou no início deste ano que daria fim ao Conselho Global de Trabalhadores alegando uma mudança de legislação na Europa, que trata sobre a consulta antecipada aos conselhos de empresa sobre medidas como o fechamento de plantas. Eles alegaram que a lei obriga apenas que a empresa mantenha um conselho europeu, excluindo a possibilidade de reconhecer representantes de outras partes do mundo, como o Brasil.
Houve possibilidade de negociar outra saída a não ser o fim?
Rogério Fernandes - O Conselho tem um acordo firmado, que deveria ser respeitado e é valido até o fim deste mês. Nele há uma resolução sobre solução de conflito entre trabalhadores e empresa, que serviria nesta situação, mas não foi respeitado. Eles não queriam nem permitir a última reunião, em caráter extraordinário, que aconteceu entre 11 e 13 de maio em Nottingham. Ela só aconteceu de fato depois de muita luta por parte dos representantes de cada país.
No encontro, a Rolls-Royce disse que faria uma consulta jurídica para ver se estenderia o conselho até julho, e só. A partir disso, foram irredutíveis e disseram que manteriam o Conselho Europeu. Tentamos fazer um acordo que proporcionasse algum tipo de segurança jurídica para que ela não precisasse seguir as mesmas regras de consulta aplicada na Europa para o resto do mundo, mas não foi aceito. Estavam convencidos de que não queriam mais o Conselho Global.
E a partir dessa posição radical da empresa, foi tomada alguma atitude?
Rogério Fernandes - O sindicato inglês Unite está entrando com um processo judicial para contestar essa decisão unilateral, já que a empresa avisou no limite do prazo legal para dar fim ao Conselho, que era de seis meses. Isso pegou todos de surpresa.
Em função disso, a FITIM acompanhou a última reunião e disse que vai dar total apoio à luta dos trabalhadores e que vai tentar meios de garantir a participação dos membros não europeus nos próximos encontros, mesmo que na condição de convidados. A CNM/CUT está dando todo o apoio necessário também nesta tarefa.
Há vários outros conselhos globais de trabalhadores, de importantes empresas europeias, e todos estão mantidos mesmo após essa nova resolução da União Europeia sobre consulta e informação. Por que somente a Rolls-Royce está extinguindo o seu conselho global? Essa é uma dúvida que ficou sem resposta.
Na prática, quais são os efeitos desta decisão para os trabalhadores?
Rogério Fernandes - Essa relação entre trabalhador e empresa, que existiu até agora por meio do Conselho Global, é boa e ajuda a minimizar diversos conflitos entres as duas partes. No Brasil, por exemplo, É comum que as empresas européias não tenham a mesma relação que existe com os trabalhadores na Europa. Aqui a relação entre as partes melhorou muito por conta deste contato direto com a direção mundial da Rolls-Royce. Agora, essa atitude tomada é um péssimo exemplo que a direção mundial da empresa dá para as direções das filiais de países de fora da Europa.
Ter uma relação boa com o sindicato hoje é um diferencial competitivo. Eu mesmo escutei isso várias vezes nas reuniões do Conselho, mas como podemos ter uma boa relação se a empresa não quer mais receber os representantes sindicais de fora da Europa?
Agora, a partir do momento em que não podemos ter qualquer tipo de representação nesta esfera, nos dá a sensação de estarmos sendo tratados como um trabalhador de segunda categoria, se comparado ao acesso que agora só os europeus vão ter. Esse novo formato de Conselho Europeu não é bom para os trabalhadores de lá, pois eles mesmos disseram claramente isso para a empresa na última reunião. Também não é bom para nós. Então, para quem é bom esse novo formato?
Quais foram os ganhos para os trabalhadores brasileiros no Conselho?
Rogério Fernandes - A participação no Conselho fazia com que as gerências nos locais de trabalho tivessem um respeito maior a todos, por medo de ter suas atitudes levadas para a direção mundial e agora esse canal se perdeu.
Aqui, conquistamos o acordo de cargos e salários. Antes, a empresa afirmava que a matriz não deixava, mas depois que comecei a participar do conselho, tive acesso a acordos coletivos de companheiros de outros países, o que nos ajudou a construir nosso acordo. Os trabalhadores brasileiros viram na prática o resultado de ter uma representação deste tipo.
Outro exemplo foi a pesquisa de satisfação dos trabalhadores feita pela empresa, que teve uma maior transparência e participação somente depois de o Conselho Global ser instituído, já que ele deu mais confiança para que os companheiros preenchessem com segurança, sabendo que não seriam punidos por colocarem o que realmente pensam da empresa. Agora, vejo que a insegurança no preenchimento de uma pesquisa como essa pode voltar.
E como ficará a relação com os membros do Conselho?
Rogério Fernandes - Entre nós, que participamos do Conselho há um consenso de que a troca de informações foi benéfica para todos os países participantes para a evolução nas negociações salariais. Por isso, vamos buscar todas as formas possíveis para não perdermos contato uns com os outros, pelo menos até que esta situação seja restabelecida."
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