“O acidente no Japão ocorreu em um momento de forte discussão no Brasil sobre os problemas ambientais envolvendo a construção das grandes hidrelétricas, como Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira, e a construção de Belo Monte, no rio Xingu. Mesmo antes do vazamento que provocou efeitos devastadores na economia japonesa, o que parece irrefutável é que as opções de geração térmica, seja a carvão, gás ou nuclear, vão elevar o custo da energia no futuro.
A MPX, do grupo empresarial de Eike Batista tem planos de investir R$ 15 bilhões na construção de térmicas a gás e carvão capazes de gerar 5.000 MW no complexo do Açu, no Rio de Janeiro. Uma parte dessas usinas vai usar gás como combustível e outras, carvão mineral, inclusive importado da Colômbia, onde o grupo tem minas. O próprio Eike Batista foi protagonista de uma situação inusitada. Depois de dizer que a energia nuclear era "um monstro" e "apavorante", ele foi criticado em nota pela Eletronuclear - numa das poucas vezes que uma estatal se envolveu em uma discussão pública através de jornais - que o acusou de "manipular o acidente de Fukushima para alavancar as alternativas fósseis, geradoras de gases de efeito estufa", mencionando especificamente os negócios do empresário na área de carvão.
Se esses R$ 15 bilhões fossem aplicados hoje e todos os projetos da MPX andassem simultaneamente (o que não está previsto), o valor do investimento seria mais caro do que a gigantesca Jirau, que está sendo construída no Madeira, orçada em R$ 11,9 bilhões - US$ 7,4 bilhões na cotação atual, o que representa um custo de aproximadamente US$ 1.875 por kW instalado. A usina nuclear de Angra 3 vai custar US$ 4.600 por Kw instalado considerando-se os gastos desde 1986. Se for levado em conta apenas o atual orçamento, o custo é de US$ 3.800.
A diferença entre o combustível nuclear e o carvão é que no primeiro há um alto custo de investimento e baixo custo com combustível. No carvão, ou mesmo no caso das térmicas a gás, acontece o inverso, o custo inicial é menor, mas o custo do combustível é mais elevado. No caso de combustível importado - como o gás da Bolívia e o carvão colombiano, também há impacto na balança comercial do país.
Para o consultor Mário Veiga, presidente da PSR Consultoria, ninguém discute que a hidrelétrica é a opção mais barata para o Brasil, mas ele pondera que isso não significa que o preço das outras tecnologias será sempre muito mais alto.
Os seguintes fatores devem contribuir para a redução dos preços: diminuição do custo dos equipamentos, especialmente os de fabricação chinesa; a redução da taxa de rentabilidade desejada pelo investidor, à medida que a economia do Brasil cresça e que os juros cheguem a níveis internacionais; e o aperfeiçoamento tecnológico, por exemplo no caso das eólicas. "Outra observação importante é que o custo da geração não é a maior parte do custo para o consumidor. Outras parcelas, como encargos e impostos são mais importantes e uma análise da evolução do custo da energia tem que levar em conta esses fatores", diz Veiga.”
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