Com mais de R$ 5,5 bilhões em dívidas, enfrentando um processo para retomada da concessão por parte do governo federal e sem poder reajustar suas tarifas há quatro anos por inadimplência com o setor elétrico, a companhia estadual de energia de Goiás (Celg) está em busca de um sócio estratégico. A nova administração decidiu recusar o financiamento de quase R$ 4 bilhões que seria dado pela Caixa Econômica Federal (CEF) e BNDES, que condicionava o crédito à gestão e aumento da participação acionária da Eletrobrasna empresa. "Seria uma federalização branca e não vamos permitir isso", diz o novo presidente da empresa e vice-governador do Estado de Goiás, José Eliton Figuerêdo Júnior (DEM).
Em 30 dias um plano de recuperação da empresa será apresentado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Figuerêdo, que será presidente do conselho de administração e também da empresa, diz que já está sendo realizado um encontro de contas entre governo estadual e a Celg. Pelos estudos preliminares, a companhia deve R$ 700 milhões ao governo, em impostos, e o governo deve cerca de R$ 2 bilhões. A diferença, cerca de R$ 1,3 bilhão, será paga imediatamente pelo governo do Estado, segundo Figuerêdo. O Tesouro estadual já estuda uma forma de levantar os recursos no mercado financeiro.
A mais importante operação, entretanto, segundo Figuerêdo será a busca de um sócio estratégico para a compra de até 49% daCelgPar, empresa holding que controla a Celg. "Não haverá privatização", ressalta Figuerêdo. "Essa é uma determinação do governador (Marconi Perillo, do PSDB) pela importância da Celg para o povo goiano." Mas tampouco haverá distinção de capital público ou privado. Uma das possibilidades em aberto é uma parceria com a Cemig, empresa do Estado de Minas Gerais que também é governado pelo PSDB. "Temos excelente relação com o novo governador Antônio Anastasia", disse Figuerêdo.
Para atrair sócios, entretanto, o discurso é de que a Celg passará a ter uma administração profissional. Um dos novos membros do conselho de administração da empresa que chama a atenção é o nome de Firmino Sampaio, ex-presidente da Eletrobras e atual presidente daEquatorial Energia. A Equatorial é uma empresa de capital privado, de ex-sócios do banco Pactual, que comprou há alguns anos a Cemar, distribuidora do Maranhão que já foi estadual e foi reestruturada pelo grupo GPe mais tarde pelos novos donos da Equatorial. A Cemaré hoje um caso de sucesso de reestruturação no setor elétrico. A distribuidora do Estado do Maranhão estava em condições financeiras tão ruins quanto as da Celg e em pouco tempo foi completamente recuperada.
Mas sem processo de privatização, a busca de sócios privados será tarefa difícil, até porque as distribuidoras vivem hoje o impasse sobre como serão as novas regras para o terceiro ciclo de revisão tarifária. Uma série de mudanças vai afetar a receita das companhias e calcula-se que, em média, no setor, a perda de geração de caixa ficará em 40%.
Outra dificuldade da Celg é que boa parte da dívida (que inclui obrigações e não somente dívida financeira) e chega a R$ 5,5 bilhões precisa ser paga imediatamente para que a companhia possa reajustar as tarifas de energia. Desde 2006, nenhum reajuste aprovado pela Aneel pôde ser repassado às tarifas. Quando conseguir resolver esse problema, imediatamente terá um aumento na receita da ordem de 30%.
Nos últimos anos, a empresa tem acumulado prejuízos constantes e terá ainda de resolver uma carteira de inadimplentes que supera R$ 300 milhões, cerca de 15% da receita líquida. Dois terços dos inadimplentes são prefeituras. Mas o novo presidente garante que quem não pagar a conta terá de enfrentar as consequências, ou seja, corte de energia.
Na semana passada, o então ministro de Minas e Energia (MME) e hoje secretário executivo do ministério, Márcio Zimmermann, já havia informado a recusa da Celg em obter o empréstimo já aprovado pela Caixa e BNDES. Em seu discurso de posse, o governador Perillo reafirmou a posição. O negócio tinha todo sido costurado com o governo anterior, na tentativa de sanear a Celg. A empresa foi a grande protagonista das eleições realizadas ano passado.
Perillo é um desafeto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que subiu duas vezes no palanque para tentar derrotá-lo. Mesmo assim o tucano bateu Iris Rezende (PMDB) no segundo turno por 52,99% a 47,01% dos votos válidos. Perillo conseguiu ainda reverter o jogo no segundo turno das eleições presidências e o candidato José Serra (PSDB), derrotado no primeiro turno no Estado, foi mais votado que Dilma Rousseff (PT) no segundo turno nas urnas de Goiás."
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