"Desde 2004, o mercado de trabalho no país tem mostrado um grande dinamismo, com
forte geração de emprego e consequente redução das taxas de desemprego. O setor
formal tem absorvido um grande contingente de trabalhadores com carteira assinada ao
mesmo tempo em que a remuneração média dos trabalhadores cresceu substancialmente no
período. Apesar da desaceleração da economia a partir de 2011, o mercado de trabalho
continua aquecido. A falta de trabalhadores, qualificados ou não, foi a principal
reclamação dos empresários na entrega do prêmio "Executivo de Valor" do Valor no
início de maio, superando outras questões importantes como demanda fraca, inflação,
câmbio elevado, custo do crédito e inadimplência no mercado.
Para medir a performance do mercado de trabalho montamos um indicador que utiliza
nove variáveis levantadas da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE e usamos uma
metodologia nova inspirada no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da
ONU, que produz valores entre 0 (zero) e 1 (um), representando a pior e a melhor
situação, respectivamente. São utilizadas três variáveis associadas a desemprego,
três relativas à remuneração e três associadas à qualidade do emprego e da mão de
obra.
Desemprego não sobe se crescer 3,5% ao ano, a taxa que absorve as pessoas que entram
no mercado a cada ano
As variáveis de desemprego utilizadas são a taxa de desemprego, o desemprego de
chefes de família e o desemprego de longa duração. As variáveis de remuneração
consideradas são a remuneração média dos trabalhadores, uma medida de sub
remuneração e uma de desigualdade de rendimentos recebidos. Finalmente, são usadas
informações relativas à presença da carteira assinada, sobre a intensidade de sub
ocupação e do nível de escolaridade dos trabalhadores para medir a qualidade dos
empregos e dos trabalhadores.
O indicador síntese obtido nas seis regiões metropolitanas cobertas pela PME não
passava de 0,493 em março de 2003, subindo para 0,764 em março de 2011 e para 0,810
em março deste ano (ver tabela). Houve uma melhora geral no período em todas as nove
variáveis utilizadas nas seis regiões cobertas pela PME - São Paulo, Rio de Janeiro,
Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife. O fato do indicador ter continuado
a se elevar nos últimos 12 meses confirma que efetivamente o mercado de trabalho
continua melhorando apesar da desaceleração econômica.
É interessante verificar o ocorrido nos três grupos de indicadores nos últimos 12
meses. No caso do indicador de desemprego, o aumento foi mínimo, passando de 0,749
para 0,759. Tal resultado não chega a representar uma surpresa, na medida em que o
desemprego já se encontrava em nível bastante baixo em 2011 não havendo muito mais
espaço para sua redução. Nas variáveis de remuneração, entretanto, o indicador
passou de 0,762 para 0,844 indicando que os trabalhadores têm se beneficiado do
aquecimento do mercado com melhoria significativa em termos de remuneração.
Finalmente, nos aspectos de qualidade do emprego e dos trabalhadores, o indicador
também cresceu de 0,780 para 0,827 por conta da forte geração de empregos com
carteira assinada e continuação do processo de aumento da escolaridade dos
trabalhadores que tem sido verificado nos últimos anos.
A comparação entre os indicadores das seis regiões confirmam a manutenção dos
desequilíbrios regionais do país e a situação mais favorável encontrada no Sul e
Sudeste comparativamente ao Nordeste. Em março deste ano a região de São Paulo
apresentava o indicador síntese mais elevado, chegando a 0,892, bem acima do obtido
em Belo Horizonte (0,802), Rio de Janeiro (0,788) e Porto Alegre (0,785). Refletindo
o atraso relativo da região Nordeste, o indicador síntese não passava de 0,638 em
Salvador e 0,645 em Recife. Cabe notar que houve crescimento do indicador síntese
nas seis regiões cobertas pela PME no último ano, especialmente em Salvador e
Recife, mostrando que a melhora do mercado de trabalho é generalizada.
Um ponto interessante que merece ser discutido é a comparação entre os indicadores
das seis regiões em março de 2003 e março de 2012. Surpreendentemente, se verifica
que os indicadores síntese de Salvador e Recife em 2012 superam o valor encontrado
em São Paulo em 2003 (0,548). Tal resultado aponta para a dimensão da melhoria
observada na última década no mercado de trabalho metropolitano do país. Por outro
lado, o fato das regiões mais atrasadas terem avançado proporcionalmente mais do que
as demais, poderia estar sinalizando para a formação de um mercado de trabalho
urbano mais nacional e menos regionalizado, com redução dos desníveis regionais.
Quanto às perspectivas do mercado de trabalho neste e nos próximos anos, dependem em
grande parte do crescimento da economia brasileira no futuro. A taxa média de
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no período 2003/2011 foi de 4,2% ao ano.
Portanto, se o crescimento se mantiver nesse patamar seria de se esperar a
continuidade da melhoria. Estimativas nossas mostram que a economia brasileira
necessita de cerca de 3,5% de crescimento anual do PIB para absorver o número de
pessoas que entram no mercado de trabalho a cada ano de modo a não aumentar a taxa
de desemprego.
Se as atuais metas governamentais para o crescimento econômico forem alcançadas o
mercado de trabalho continuará aquecido nos próximos anos. Dessa forma, programas
que contemplem a maior qualificação dos trabalhadores, como o Programa Nacional de
Acesso à Escola Técnica (Pronatec), são muito bem-vindos para que não surjam
gargalos no mercado de trabalho que prejudiquem o crescimento da economia no futuro.
João Saboia é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ. Maiores
informações sobre a metodologia utilizada podem ser obtidas com o autor pelo email: saboia@ie.ufrj.br."
forte geração de emprego e consequente redução das taxas de desemprego. O setor
formal tem absorvido um grande contingente de trabalhadores com carteira assinada ao
mesmo tempo em que a remuneração média dos trabalhadores cresceu substancialmente no
período. Apesar da desaceleração da economia a partir de 2011, o mercado de trabalho
continua aquecido. A falta de trabalhadores, qualificados ou não, foi a principal
reclamação dos empresários na entrega do prêmio "Executivo de Valor" do Valor no
início de maio, superando outras questões importantes como demanda fraca, inflação,
câmbio elevado, custo do crédito e inadimplência no mercado.
Para medir a performance do mercado de trabalho montamos um indicador que utiliza
nove variáveis levantadas da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE e usamos uma
metodologia nova inspirada no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da
ONU, que produz valores entre 0 (zero) e 1 (um), representando a pior e a melhor
situação, respectivamente. São utilizadas três variáveis associadas a desemprego,
três relativas à remuneração e três associadas à qualidade do emprego e da mão de
obra.
Desemprego não sobe se crescer 3,5% ao ano, a taxa que absorve as pessoas que entram
no mercado a cada ano
As variáveis de desemprego utilizadas são a taxa de desemprego, o desemprego de
chefes de família e o desemprego de longa duração. As variáveis de remuneração
consideradas são a remuneração média dos trabalhadores, uma medida de sub
remuneração e uma de desigualdade de rendimentos recebidos. Finalmente, são usadas
informações relativas à presença da carteira assinada, sobre a intensidade de sub
ocupação e do nível de escolaridade dos trabalhadores para medir a qualidade dos
empregos e dos trabalhadores.
O indicador síntese obtido nas seis regiões metropolitanas cobertas pela PME não
passava de 0,493 em março de 2003, subindo para 0,764 em março de 2011 e para 0,810
em março deste ano (ver tabela). Houve uma melhora geral no período em todas as nove
variáveis utilizadas nas seis regiões cobertas pela PME - São Paulo, Rio de Janeiro,
Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife. O fato do indicador ter continuado
a se elevar nos últimos 12 meses confirma que efetivamente o mercado de trabalho
continua melhorando apesar da desaceleração econômica.
É interessante verificar o ocorrido nos três grupos de indicadores nos últimos 12
meses. No caso do indicador de desemprego, o aumento foi mínimo, passando de 0,749
para 0,759. Tal resultado não chega a representar uma surpresa, na medida em que o
desemprego já se encontrava em nível bastante baixo em 2011 não havendo muito mais
espaço para sua redução. Nas variáveis de remuneração, entretanto, o indicador
passou de 0,762 para 0,844 indicando que os trabalhadores têm se beneficiado do
aquecimento do mercado com melhoria significativa em termos de remuneração.
Finalmente, nos aspectos de qualidade do emprego e dos trabalhadores, o indicador
também cresceu de 0,780 para 0,827 por conta da forte geração de empregos com
carteira assinada e continuação do processo de aumento da escolaridade dos
trabalhadores que tem sido verificado nos últimos anos.
A comparação entre os indicadores das seis regiões confirmam a manutenção dos
desequilíbrios regionais do país e a situação mais favorável encontrada no Sul e
Sudeste comparativamente ao Nordeste. Em março deste ano a região de São Paulo
apresentava o indicador síntese mais elevado, chegando a 0,892, bem acima do obtido
em Belo Horizonte (0,802), Rio de Janeiro (0,788) e Porto Alegre (0,785). Refletindo
o atraso relativo da região Nordeste, o indicador síntese não passava de 0,638 em
Salvador e 0,645 em Recife. Cabe notar que houve crescimento do indicador síntese
nas seis regiões cobertas pela PME no último ano, especialmente em Salvador e
Recife, mostrando que a melhora do mercado de trabalho é generalizada.
Um ponto interessante que merece ser discutido é a comparação entre os indicadores
das seis regiões em março de 2003 e março de 2012. Surpreendentemente, se verifica
que os indicadores síntese de Salvador e Recife em 2012 superam o valor encontrado
em São Paulo em 2003 (0,548). Tal resultado aponta para a dimensão da melhoria
observada na última década no mercado de trabalho metropolitano do país. Por outro
lado, o fato das regiões mais atrasadas terem avançado proporcionalmente mais do que
as demais, poderia estar sinalizando para a formação de um mercado de trabalho
urbano mais nacional e menos regionalizado, com redução dos desníveis regionais.
Quanto às perspectivas do mercado de trabalho neste e nos próximos anos, dependem em
grande parte do crescimento da economia brasileira no futuro. A taxa média de
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no período 2003/2011 foi de 4,2% ao ano.
Portanto, se o crescimento se mantiver nesse patamar seria de se esperar a
continuidade da melhoria. Estimativas nossas mostram que a economia brasileira
necessita de cerca de 3,5% de crescimento anual do PIB para absorver o número de
pessoas que entram no mercado de trabalho a cada ano de modo a não aumentar a taxa
de desemprego.
Se as atuais metas governamentais para o crescimento econômico forem alcançadas o
mercado de trabalho continuará aquecido nos próximos anos. Dessa forma, programas
que contemplem a maior qualificação dos trabalhadores, como o Programa Nacional de
Acesso à Escola Técnica (Pronatec), são muito bem-vindos para que não surjam
gargalos no mercado de trabalho que prejudiquem o crescimento da economia no futuro.
João Saboia é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ. Maiores
informações sobre a metodologia utilizada podem ser obtidas com o autor pelo email: saboia@ie.ufrj.br."
Extraído de http://www.valor.com.br/opiniao/2678674/setor-formal-absorve-grande-contingente-de-trabalhadores
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