"A crise das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) levou os fabricantes de equipamentos do setor a formar um grupo de trabalho para cobrar uma revisão na política de incentivos às fontes alternativas de energia. Nesta semana, representantes desse grupo, que conta com mais de 20 empresas, devem ter um encontro com a diretoria da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para discutir o assunto. Até outubro, os empresários pretendem entregar um raio-x do setor para o Ministério de Minas e Energia (MME) e o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Procurado para comentar o assunto, o MME não se manifestou até o fechamento desta edição.
Os empresários querem que as PCHs tenham a mesma isenção tributária dada às usinas eólicas e de biomassa. Pedem mais agilidade no processo de aprovação de projetos na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a ampliação de prazo de carência para financiamentos tomados via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Com a migração dos investimentos de PCHs para outros projetos - principalmente para a geração eólica -, quem mais tem sofrido é a indústria nacional de equipamentos. "A situação é muito preocupante. O objetivo desse grupo de trabalho é tentar fazer algo antes que aconteça o pior", diz Luiz Antonio Valbusa, sócio e diretor-comercial da Semi Industrial.
Valbusa, que é coordenador do grupo de fabricantes de PCHs, tem sentido no bolso os reflexos da crise. Até três anos atrás, tudo corria bem nos planos da empresa paulista, diz ele. A Semi Industrial, que só desenvolvia projetos de engenharia para PCHs, decidiu ampliar os negócios e apostou suas fichas na fabricação de turbinas e equipamentos para as hidrelétricas. Valbusa e os sócios gastaram R$ 12 milhões na fábrica, contrataram e treinaram pessoal, mas a demanda não veio.
"Estamos com 20 PCHs na carteira, mas este ano só fechamos dois negócios. Dimensionamos nossa fábrica para fabricar 20 turbinas por ano, mas só devemos montar seis turbinas. É pouco perto do que podemos fazer", diz Valbuza.
Um levantamento feito pelos executivos aponta que a indústria nacional de PCHs teria capacidade de atender cerca de cem projetos de pequenas hidrelétricas por ano, o que significaria um giro de aproximadamente R$ 3,5 bilhões em negócios. A realidade está longe disso. "Tem cerca de uma dúzia de projetos em andamento no mercado, pouca gente está comprando equipamentos. As PCHs não deverão movimentar mais de R$ 300 milhões em investimento este ano", diz Valbusa.
Perguntado se a empresa já pensou em abandonar as PCHs para fabricar equipamentos de usinas eólicas, o empresário sorriu antes de responder: "É impossível. São coisas totalmente distintas. Queremos recuperar a competitividade das PCHs, é o que sabemos fazer."
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