''Oficialmente, a Cemig ainda está no páreo pela disputa de uma fatia da estatal portuguesa EDP. Mas diante dos rumores de que a oferta de concorrentes alemães e chineses é melhor que a sua, a empresa já elabora um plano B para se internacionalizar. A companhia mineira vai buscar outras empresas na Europa e também na América do Sul.Recursos para isso, pelo menos por enquanto, não faltam. Além de dispor de linhas de crédito em condições favoráveis, a estatal deverá em breve reforçar seu caixa graças à decisão do governo de Minas Gerais de quitar uma dívida antiga que tinha com a empresa e que soma R$ 5,4 bilhões.
É o que o disse ontem em entrevista ao Valor o presidente Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Djalma Bastos de Morais. "Se continuaremos à procura de ativos caso não entremos na EDP? Sim, vamos continuar à procura de ativos. Na Europa, no Chile e no Peru", disse Morais. "O importante é que estaremos sempre tentando viabilizar ativos que agreguem valor para a empresa e a torne mais competitiva no mercado interno e internacionalmente."
"Temos certeza que fizemos a melhor proposta para os acionistas da EDP. No momento que propomos trocar sinergia entre os ativos que já temos com ativos que estão se associando, isso é sempre muito bom para o acionista. Talvez a Cemig não tenha a melhor proposta para o governo português e aí é que talvez a gente leve alguma desvantagem. Isso talvez esteja sinalizando uma desvantagem tanto nossa quanto da Eletrobrás na consecução desse objetivo de Portugal", disse Morais. "No entanto, eu considero que ainda estamos no páreo, até porque não tivemos nenhuma notícia oficial de que estamos fora."
Empresa já tem convite para participar de leilões de linhas de transmissão no Chile, onde já tem atuação
O executivo diz que a aquisição de parte da estatal portuguesa faria todo sentido para a Cemig por duas razões cruciais. Primeiro, a EDP possui ativos no Brasil que agregariam valor "de forma sinérgica" à empresa mineira. E em segundo lugar, a "Cemig precisa crescer de forma internacional".
Perguntado se já está discutindo com outras empresas estrangeiras possíveis negociações, Morais recua: "Se eu te falasse isso eu estaria amanhã sendo crucificado pela CVM. O importante é que nós estamos sempre olhando as opções. Já temos convite para participar de leilões de linhas de transmissão no Chile, por exemplo. Estamos sempre estudando." O Chile é o único país estrangeiro onde a Cemig já tem uma atuação.
A holding Cemig é formada por mais de 100 empresas e tem ativos e negócios em 22 Estados e mais o Distrito Federal - em geração, transmissão e distribuição. Nos últimos anos, a estatal mineira tem sido muito ativa na aquisição de outras empresas de energia.
O mais novo alvo poderá ser a Cesp. "Temos interesse. Se houver uma possibilidade de uma proposta, nós a faremos. Pode ser até para perder, mas faremos." Em 2007, o governo do Estado de São Paulo viu frustrada sua tentativa de vender a empresa. Mas as discussões sobre o assunto estão de volta agora pela equipe do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
"Nós temos de aproveitar o momento bom para a Cemig", disse Morais. A empresa tem tido ampla oferta de crédito para suas aquisições. "Não nos tem faltado até agora condições econômicas para a ampliação dos nossos ativos."
Mas não é só com crédito que a Cemig conta. O governador de Minas, Antônio Anastasia, anunciou a decisão de quitar uma dívida atualmente em R$ 5,4 bilhões que tem com a empresa. Por recomendação do Tribunal de Contas do Estado, o governo vai tomar empréstimos junto a bancos estrangeiros e a instituições multilaterais para quitar o débito. O argumento é que as condições e os juros oferecidos pelo mercado internacional são melhores do que as que estão em vigor com a Cemig.
O governo espera um desconto por saldar a dívida numa tacada. "O que nós faremos com esse dinheiro é o que estávamos fazendo ao receber os dividendos todo ano: investir", disse o executivo. "Evidentemente que a empresa passa a ter um poder de fogo maior e se torna mais competitiva com esse dinheiro em caixa. E nos dá condições de aproveitar essa situação seja na aquisição de ativos da EDP, de outro ativo externo ou interno."
Sobre o cenário da economia para 2012, Morais diz que os riscos para a empresa são de que a desaceleração afete seus maiores clientes. "Todos os grandes clientes de siderurgia de Minas estão conosco e temos grandes clientes também em outros lugares do país. No momento em que a o ritmo da economia diminui na Europa e na China, desacelera um pouco a economia de Minas e do Brasil. E isso afeta esses nossos grandes consumidores e isso tem reflexos em nossa receita, lucro, dividendos."
Até agora, no entanto, os reflexos não apareceram de maneira acentuada para os acionistas, nem no plano de investimentos de 2012. O conselho da estatal vai avaliar o plano para o próximo ano que prevê aportes de R$ 1 bilhão na geração e na transmissão e R$ 1,8 bilhão na distribuição. "Pelo cenário de 2012, nós podemos ter alguns problemas, mas temos portfólio amplo e estamos administrando nossos grandes clientes."
Além das incertezas da economia global, outro tema que preocupa a Cemig é a discussão sobre a renovação ou não das concessões atuais. "Nós acreditamos que o governo vai prorrogar as concessões e aproveitar o momento para dar consistência à modicidade tarifária, modelo este lançado quando a presidente Dilma Rousseff era ministra de Minas e Energia."
"Agora, é preciso entender que caso se parta para a licitação, terá de haver ressarcimento dos investimentos, no que está investindo e naquilo que está se propondo investir."
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