"Agências humanitárias enfrentam milícia islâmica e insegurança para ajudar flagelados
Mais de 750 mil pessoas podem morrer por falta de alimento na Somália nos próximos quatro meses. Um relatório divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que a crise no Chifre da África é grave e aponta a necessidade de ajuda emergencial. Metade da população da Somália passa fome, e mais uma área no país apresenta problemas. A região conhecida como Bay (sul) é a sexta a ser declarada "em fome" pela ONU. A pior seca em seis décadas causou a morte de milhares de pessoas. A instabilidade e os conflitos tribais dificultam o acesso de ajuda. As agências humanitárias precisam de mais recursos financeiros para atender quem consegue chegar até os campos de refugiados em busca de água e comida. Para que a situação não se repita, especialistas advertem sobre a necessidade de um grande esforço diplomático e de planejamento.
Mais de 12,4 milhões enfrentam situação de risco por causa da fome na Somália, no Djibuti, na Etiópia e no Quênia. A estiagem que devastou a região levou à falta de alimentos e à perda de pequenas lavouras, que sustentavam vilas e tribos inteiras. Os preços também aumentaram por causa da escassez, o que agravou ainda mais o problema na região. De acordo com um comunicado da Unidade de Análises da ONU para a Segurança Alimentar e a Nutrição (FSNAU, pela sigla em inglês), o caso mais grave é na Somália. "No total, 4 milhões de pessoas estão em situação crítica no país. Se o nível atual de resposta continuar, a fome seguirá progredindo nos próximos quatro meses", alerta a nota. Mais de 30% da população apresentam desnutrição aguda — metade é formada por crianças.
Um dos grandes problemas da crise na Somália é a dificuldade de acesso às regiões mais atingidas. Além da falta de segurança e das constantes ameaças de saques, os rebeldes da milícia islâmica Al-Shabaab impedem que grupos estrangeiros alcancem áreas vulneráveis. "Os grupos armados dominam grande parte do país e não tem como entregar alimento e água para os famintos em certas regiões. Então, estamos tentando ajudar nos campos de refugiados espalhados pelas fronteiras. Mas é uma situação insegura, e as agências humanitárias são impedidas de dar ajuda. Infelizmente, ainda acontece isso no nosso mundo", afirma Daniel Balaban, diretor e representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA).
Como a comida não chega às vilas e às cidades mais necessitadas por causa dos grupos armados, as pessoas precisam andar com suas famílias até os postos de atendimento e de distribuição. "Muitas vezes, é nessa caminhada que muitos morrem e não conseguem chegar até a comida", afirma Balaban. Além disso, existem outras ameaças. Na Somália, caminhões com ajuda já foram roubados — os alimentos são revendidos pelos rebeldes, que ameaçam cobrar pedágio para a entrada dos suprimentos no país.
De acordo com a ONU, é preciso enviar uma resposta mais rápida para a crise humanitária no Chifre da África. Apenas 59% da ajuda de U$S 2,4 bilhões foram recebidos até 1° setembro. O governo brasileiro autorizou, no fim de julho, o envio de até 710 mil toneladas de alimentos para a região. Segundo o Itamaraty, apenas 46 mil toneladas foram despachadas até o momento. Para o diretor do PMA, é preciso também planejamento, para que a história não se repita. "São necessários investimentos para que o problema não se repita e o povo não passe mais por isso. É preciso tratar da crise quando ela acontece, mas não é a solução. É um círculo vicioso, não só da pobreza como de governos sem legitimidade e sem força", aponta Balaban."
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