O leilão negociará contratos de energia para entrega a partir de 2016, ou seja, daqui a cinco anos. Por isso, é conhecido como A-5. "Nós já tivemos prejuízo por não termos negociado essa energia no último leilão", disse ontem o presidente da ESBR, Victor Paranhos. Uma fonte do governo afirmou que o pedido da empresa será avaliado "com atenção", mas a autorização para participar do leilão ou não dependerá de um parecer da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Liderada por Furnas e pela Odebrecht, a Santo Antônio Energia reagiu com irritação, nos bastidores, à tentativa da ESBR de negociar esses 90 MW médios no próximo leilão. A empresa apresentou uma proposta de mudança do "aproveitamento ótimo" dos recursos hídricos no rio Madeira. Já obteve sinal verde do Ministério de Minas e Energia e da Aneel, mas ainda aguarda o aval do Ibama e da Agência Nacional das Águas (ANA), que deve sair em outubro. Se aprovada, a proposta aumentaria a capacidade da hidrelétrica de Santo Antônio, com mais seis turbinas e 206 MW de energia firme para serem comercializados em novos leilões.
O projeto envolve a elevação da cota (altura) do reservatório de 70,5 metros - conforme está autorizado hoje - para 71,3 metros. Mas isso altera as condições operacionais também da usina de Jirau, argumenta Victor Paranhos. Em vez de 90 MW adicionais de energia assegurada para vender, ela teria cerca de 60 MW.
Por isso, os acionistas da ESBR - a francesa GDF Suez Energy, Camargo Corrêa, Chesf e Eletrosul - decidiram cadastrar toda a energia no próximo leilão A-5. Mas as duas coisas são incompatíveis: ou essa energia de Jirau é comercializada integralmente ou sai a cota da represa de Santo Antônio a 71,3 metros. "Estão criando confusão", reclamou uma fonte ligada à Odebrecht.
Além disso, durante a cerimônia de desvio do rio Madeira em Jirau, na quarta-feira, Paranhos anunciou um plano de expandir a capacidade da usina em mais 300 MW. De 3.300 MW inicialmente, a potência da hidrelétrica subiu para 3.750 MW com a primeira ampliação. Agora, a ESBR estuda investir R$ 700 milhões para colocar quatro turbinas adicionais, elevando a capacidade total para 4.050 MW. Paranhos pediu um parecer do ministério e da Aneel nos próximos 15 dias.
Essa última proposta, no entanto, não teria reflexos para as operações de Santo Antônio, segundo o executivo da ESBR. Ele afirmou que esse novo projeto foi apresentado anteontem porque "só agora pudemos iniciar as investigações no leito do rio".
A hidrelétrica de Jirau tem o início da geração previsto para outubro de 2012. Essa data representa um atraso em relação ao cronograma previsto pela empresa, mas ainda é um adiantamento em relação ao prazo determinado no contrato de concessão, que estipulava a geração de energia no início de 2013.
O desentendimento entre os donos das duas usinas já vêm desde a época do leilão de Jirau, quando a Suez alterou o eixo da usina e com isso fez uma proposta agressiva, batendo a oferta liderada pela Odebrecht, que já tinha vencido o leilão de Santo Antônio. Agora os dois empreendimentos precisam se entender para potencializar seus recursos.
Ontem, em Brasília, um seminário organizado pela Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) colocou em evidência um novo problema, levantado pelo consultor Mário Veiga, presidente da PSR. De acordo com o especialista, as usinas hidrelétricas a fio d"água - como Santo Antônio, Jirau e Belo Monte - correm o risco de produzir menos energia do que o previsto em função das mudanças climáticas.
Veiga citou um estudo financiado pelo governo britânico e realizado pela Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que aponta uma redução das chuvas e das vazões de bacias hidrográficas importantes em relação às médias dos últimos 75 anos. A previsão é de que haja queda de 88% da média histórica na bacia do rio Amazonas, a 83% na do Tocantins, a 73% na do São Francisco e a 69% na do Parnaíba.
Para o especialista, isso "afeta a confiabilidade do sistema" e o governo não tem olhado para o problema "com a urgência necessária". Ele lembrou que usinas a fio d"água, com reservatórios menores, têm aproveitamento muito menor nos períodos de estiagem e podem ficar ainda mais comprometidas com as mudanças climáticas. "Com as usinas a fio d"água, a preocupação é com o aumento da volatilidade", afirmou. Por isso, ele defendeu a necessidade de mais usinas termelétricas para complementar o abastecimento de energia. As térmicas foram excluídas do planejamento do governo até 2020.
O consultor disse ainda que, nos próximos cinco anos, o mais crítico para o sistema elétrico é 2013. "Não é nada para perder o sono, mas temos um dever de casa a fazer", disse Veiga. O risco de racionamento ainda está entre 3% e 5%, "o que é bastante aceitável", segundo ele. Mas possíveis atrasos nas entradas em operação de grandes hidrelétricas e das térmicas negociadas com o grupo Bertin causam alguma preocupação, segundo ele."
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