“A
reforma da previdência penaliza a população mais pobre”, critica desembargador
Grijalbo Coutinho | Foto: Eduarda Brogni |
Ao analisar a conjuntura política e o
capitalismo, Grijalbo declarou que “o sistema já não consegue mais dar conta
dos seus problemas.” Segundo ele, ninguém no País tolera a corrupção, mas que
ela está em todo o sistema capitalista e sempre esteve. “As riquezas dos capitalistas vêm da
exploração dos trabalhadores e da corrupção, via apropriação de recursos públicos do Estado”, afirmou.
Em sua avaliação, o
sistema expurgou do poder quem não mais conseguia saciar a sede de maiores
taxas de lucros para os seus negócios, em uma articulação internacional. “Para
tanto, a pureza moralista pouco comprometida com a sociedade democrática e
com os direitos sociais, mas incrustada nas mais diversas instituições,
fez uso da velha tática de explorar a corrupção sistêmica da relação entre o
público e o privado para promover uma verdadeira contrarrevolução social, com
novos gerentes dos negócios capitalistas, os quais precisam rapidamente
liquidar o patrimônio público brasileiro, acabar com a previdência pública e
arrasar os trabalhadores com terceirização, negociado sobre o legislado e
jornada de trabalho do início do século XX”, disse. “Foi para cumprir essas tenebrosas tarefas
que houve o ato político sórdido de 2016 travestido de impeachement. O resto é
apenas pretexto, pretexto que somente os tolos, alienados e reacionários
acreditam. Apenas os inocentes e os raivosos direitistas acreditam
que estamos diante de uma virada positiva no país. A virada é para piorar a
situação dos mais pobres, que pagarão a fatura dessa salgada conta, com
direitos trabalhistas e previdenciários mitigados e liberdades individuais e
coletivas cerceadas”, acrescentou.
Ainda sobre a corrupção, ele disse o quanto
este tema está no centro do momento político brasileiro. “O capital e os
poderosos no Brasil começaram a minar o governo de centro-esquerda e deram o
golpe. Se construiu a narrativa de que a esquerda inventou a corrupção. Na verdade, se estabeleceu uma campanha
sistemática, lacerdista e absolutamente falsa contra a corrupção que,
ironicamente, levou ao poder personagens, em bloco, acusados de corrupção
ainda mais grossa, de longa permanência no tempo e de alto profissionalismo, que agora cerceiam liberdades individuais, perseguem
movimentos sociais, promovem a entrega rápida do patrimônio público, em especial
do pré-sal”, declarou. E ainda acrescentou que" não que o governo
anterior não merecesse críticas severas, mas jamais foram os seus deméritos
que o derrubaram, como está sendo comprovado a cada dia, em uma velocidade
impressionante".
O magistrado criticou as desigualdades no País
e as reformas propostas. “A reforma da previdência penaliza a população mais
pobre. Não é que ela aumenta o tempo de contribuição, mas praticamente acaba
com a previdência pública”, defendeu. Também criticou a atuação do Judiciário
que, segundo ele, do ponto de vista histórico, “sempre serviu de anteparo para
os regimes de exceção no
Brasil”. E concluiu sua participação criticando as classes dominantes. “A
democracia burguesa é uma falácia. Ela não respeita suas próprias regras. Para
aumentar seus lucros, não titubeia em rasgar a Constituição. Foi assim com Vargas acuado no Palácio do
Catete em 1954, que o levou ao suicídio, foi assim com Jango deposto por um
golpe militar em 1964 e foi assim em 2016 com o impeacheament de
Dilma em 2016, lamentavelmente."
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