segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Dilma: cabe ao povo, não aos parlamentares, julgar pelo 'conjunto da obra' (Fonte: RBA)

"Brasília – A presidenta Dilma Rousseff terminou há pouco seu primeiro depoimento em sua defesa, na sessão do Senado que realiza o julgamento do impeachment. Dilma mandou recado aos senadores que desviam de seu voto favorável ao afastamento as razões técnicas e jurídicas alegadas. “No presidencialismo previsto em nossa Constituição, não basta a eventual perda de maioria parlamentar para afastar um Presidente. Há que se configurar crime de responsabilidade. E está claro que não houve tal crime. Não é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo ‘conjunto da obra’”, afirmou, argumentando que afastar um presidente pelo “conjunto da obra” é uma incumbência que só cabe ao povo, nas eleições. “E nas eleições o programa de governo vencedor não foi este agora ensaiado e desenhado pelo governo interino e defendido pelos meus acusadores”, acrescentou.

A presidente lembrou seu passado de resistência à ditadura, citou a palavra “golpe”, agradeceu a força popular que tem recebido e pediu aos senadores: “deixem ressentimentos de lado e pensem no destino de todos os brasileiros”

Dilma Rousseff iniciou discurso às 9h53 afirmando que desde que assumiu a Presidência da República respeitou compromissos assumidos e a Constituição. Admitiu que pode ter errado, mas que se orgulha do fato de que, entre os seus defeitos, não estão “nem a traição nem a covardia”.

Ela relembrou sua história pessoal, fez críticas ao governo provisório sem citar o nome do presidente interino Michel Temer, chamou a atenção dos indecisos para o que está acontecendo no país e disse que não renunciaria, conforme lhe foi pedido e perguntado várias vezes. “Jamais faria esta renúncia porque porque não renuncio à luta. Eu tenho compromisso inarredável com o Estado democrático de direito”, acrescentou.

Dilma disse que traições e agressões à sua pessoa e ao seu governo muitas vezes a assustaram, mas as manifestações populares, sobretudo das mulheres na luta contra o golpe e pela democracia, lhe deram força. “A população, principalmente as mulheres, me cobriram de flores nesta lutam que também é misógina”, acentuou.

A presidenta embargou a voz por duas vezes e, numa delas, teve de parar o pronunciamento para tomar um copo de água e se acalmar. A primeira vez, ainda no início, foi quando disse que o que está em jogo são as conquistas obtidas nos últimos 13 anos, os investimentos em obras, os programas sociais, a inserção soberana do país no cenário internacional e, principalmente, “a autoestima dos brasileiros”.

O segundo momento foi quando ressaltou que temeu a morte por duas vezes na vida: quando esteve presa e torturada durante a época da ditadura militar e quando enfrentou uma doença grave. “Hoje, o medo que tenho aqui é da morte da democracia”, destacou.

O principal recado de Dilma foi dirigido, mesmo, para os senadores que ainda se encontram indecisos. Ela afirmou que no regime presidencial uma condição política exige obrigatoriamente provas substanciais de que foi cometido um crime. “Faço um apelo final a estes que estão indecisos. Não cometam um golpe. Façam jus a uma presidenta honesta. Não votem levando em conta ressentimentos. O que sentimos uns pelos outros representam menos do que o que devemos sentir pelo país e pelo destino de todos os brasileiros”, destacou.

Dilma afirmou ainda que os objetivos do governo interino, “se transmudando em efetivo”, são “um verdadeiro ataque às conquistas dos últimos anos”. “Desvincular o piso das aposentadorias e pensões do salário mínimo será a destruição do maior instrumento de distribuição de renda do país, que é a Previdência Social. O resultado será mais pobreza, mais mortalidade infantil e a decadência dos pequenos municípios. A revisão dos direitos e garantias sociais previstos na CLT e a proibição do saque do FGTS na demissão do trabalhador são ameaças que pairam sobre a população brasileira caso prospere o impeachment sem crime de responsabilidade.”

O compositor Chico Buarque, sentado ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro Jaques Wagner, acompanhou tudo das galerias e não resistiu à tentação de bater palmas. Dilma fugiu do roteiro previamente divulgado várias vezes por sua assessoria e senadores mais próximos. Primeiro, porque se dizia que ela iria falar direto da mesa diretora, mas logo ao ser chamada, se dirigiu ao púlpito para, conforme disse, discursar “olhando nos olhos de todos”..."

Fonte: RBA

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